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sábado, maio 04, 2019

DELEGADO DO DIABO


Conheci o falecido Delegado de Polícia José Ribamar Afonso ao incluir na PM do Amazonas, devido nosso trabalho policial conjunto e, mais, em razão dele morar na avenida Getúlio Vargas, próximo à rua Henrique Martins, portanto, na ilharga do Colégio Estadual e do Quartel da Praça da Polícia. Ribamar era conhecido por dois realces: seu corpanzil e sua gaguez. Entusiasta da Revolução Brasileira (termo da época), participou da primeira turma de delegados da Polícia Civil. A Secretaria de Segurança Pública seria criada em 1970, até então as delegacias estavam subordinadas a Chefatura de Polícia, instalada na rua Marechal Deodoro.
Ribamar Afonso
Ribamar dirigiu a DSP (Delegacia de Segurança Pública), quando apurou a tentativa de homicídio contra o dono da Pensão Maranhense, José Figueiredo (outro acontecimento escabroso). E, posteriormente, ocupou a DET (Delegacia Especializada de Trânsito), ocasião em que recebeu o codinome de Delegado do Diabo.
O apelido veio da sua atuação enérgica, por óbvio, e na esteira da ação de outro Delegado de Trânsito, este no Rio de Janeiro, que na mesma época se destacou: coronel Fontenele.
Aposentado por motivo de saúde, passou a se ocupar com sua vasta coleção de revistas e da conversa com os amigos de passagem pela frente de sua residência.
O texto aqui compartilhado de A Crítica (12 março 1969) lança dois dedos mais de informações sobre o benfazejo “delegado do diabo”.

Recorte da reportagem mencionada

RIBAMAR: GANHEI INIMIGOS, MAS BENEFICIEI O TRÂNSITO
Falando aos jornalistas, ontem em seu gabinete, o Delegado José Ribamar Afonso fez ligeira explanação de sua gestão-relâmpago frente à Delegacia de Trânsito, onde ganhou inclusive a alcunha de “Delegado do Diabo” pelas campanhas diabólicas que encetou no tráfego da cidade. — Ganhei muitos inimigos — disse — mas a minha gestão pode ser comprovada no que fiz de bom em prol do pedestre e do motorista amazonense.
— Durante o período em que estive na DET, sinaleiros luminosos foram instalados e o tráfego no centro foi descongestionado. Isso sem contar com as faixas de segurança que criamos, e a resolução do crônico problema de linhas de ônibus, que agora transferimos para a Prefeitura.

“PARA-PEDRO”
Consumi (sic) muitos inimigos, mas deixo o Trânsito ciente de que fiz alguma coisa pelo povo, frisou o “Delegado do Diabo”. Mais adiante completou: Antigamente o motorista de táxi recusava o passageiro, dizia desaforos a este e ficava por isso. Hoje já é bem diferente, ou dá satisfação convincente ao usuário ou o conduz, sob pena de, ao contrário, ser denunciado à Delegacia de Trânsito". Quanto às multas estabelecidas às infrações dessa natureza, afirmou o “Delegado do Diabo” que nunca atingia o salário mínimo, “mas eram completadas com prisões de 12 horas”.

OPERAÇÃO “ESVAZIA PNEUS”
Esvaziei muitos pneus, e até de carros dos meus amigos — enfatizou. Todavia — continuou — sempre agi na forma da lei, combatendo os infratores que reincidiam sempre nos erros. "Puníamos sempre, e devem ser sempre punidos todo e qualquer carro estacionado na contramão, afirmou o Delegado Ribamar Afonso, que irá responder agora pela Delegacia de Segurança Pessoal. Todos os problemas — prosseguiu o ex-delegado de Trânsito — que eram criados por aqueles que se julgam donos do mundo, foram por nós solucionados dentro do direito, e comigo nunca houve contemplações para com quem quer que fosse.

“SHOW DE MÃO-ÚNICAS”
Para os céticos que não querem ver o problema pelo ângulo verdadeiro — argumentou o Delegado Ribamar Afonso — as mãos-únicas por mim criadas frente à Delegacia de Trânsito só serviram para tumultuar o tráfego dos veículos pelo centro da cidade. Porém, — continuou — o próprio povo ou mesmo os motoristas podem testemunhar os resultados benéficos que essas medidas trouxeram à cidade. Continuando disse que as mãos-únicas pela Av. Epaminondas, ruas Luiz Antony, Major Gabriel, Tapajós, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e, finalmente, pela Leovigildo Coelho foram as medidas mais bem acertadas que se poderia tomar há muito tempo no trânsito da cidade.



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