CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, outubro 13, 2012

VIDA E MORTE DO "PENSADOR" (1ª Parte)

Júlio Uchôa (*)

Detalhe do painel existente na
Casa Museu Eduardo Ribeiro
A 14 de outubro de 1900 morria, nesta capital, o grande maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro, ex-governador do Estado, chefe do Partido Republicano Federal e presidente do Congresso Legislativo.
Naquele dia, na antiga Chácara Pensador, à estrada de Flores, extinguia-se uma vida preciosa. Perdia Manaus o seu benemérito construtor. O Amazonas, compungido pela perda irreparável, ajoelhava-se contrito, ante o corpo inanimado do seu maior administrador. Era o último capítulo de um drama ignominioso que se representava ali, às primeiras horas da manhã. Vários dos personagens, que nele tomaram parte, se ocultaram por trás dos bastidores, para que a História não lhes registrasse os nomes, certos de que os mortos não tornam da grande viagem para apontar os seus algozes à vindita dos porvindouros.
Eduardo Gonçalves Ribeiro nasceu na capital da antiga província do Maranhão, a 18 de outubro de 1862. Chamavam-no “Pensador”, apelido que lhe ficou de um jornal que fundou e dirigiu em sua terra natal do qual foram cintilantes colaboradores Pedro Freire e Manoel Bittencourt.
Filho de pais paupérrimos sem recursos, portanto, para ensaiar os primeiros passos na carreira das letras para a qual revelou, desde cedo, acentuada predileção, conseguiu, todavia, feitos os seus estudos primários, matricular-se no Liceu Maranhense, em 20 de janeiro de 1879 onde encetou e concluiu com invejável distinção, o curso de humanidades.
Deixando sua província natal, tomou passagem, a 24 de janeiro de 1881, para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Escola Militar, a 24 de fevereiro do mesmo ano, data em que verificou praça no corpo de alunos. Ali, a custa exclusivamente de seus esforços e talento, terminou com brilhantismo o curso que lhe deu direito, a 2 de janeiro de 1884, à promoção ao posto de alferes-aluno; a 4 de janeiro de 1884, galga o posto de 2º tenente de Artilharia; a 18 de janeiro do ano seguinte, concluía os seus estudos, recebendo o grau de bacharel em ciências físicas e matemáticas.
Classificado no 3º Batalhão de Artilharia a pé, sediado nesta cidade, vinha recolher-se a esse corpo, quando, ao passar por Belém foi mandado adir, naquela capital, ao 4º Batalhão da mesma arma. Discípulo do imortal Benjamin Constant, Eduardo Ribeiro jamais ocultou os seus pendores pelas ideias republicanas, do que resultou a sua transferência, por medida disciplinar, a 13 de agosto de 1887, para o Amazonas. Foi ajudante, secretário e professor da Escola Regimental do 3º Batalhão.
Achava-se em Manaus, o jovem militar ao tempo em que o marechal Deodoro da Fonseca, dirigindo a ação revolucionária de 15 de novembro de 1889, proclamou a República.
Organizando-se, na capital amazonense, um clube militar, a 4 de dezembro de 1889, presidido pelo tenente-coronel Antônio Florêncio Pereira do   Lago, então membro da Junta Governativa Republicana, foi Eduardo Ribeiro convidado para o cargo de 2º secretário  do referido clube, prestando, nessa ocasião, ao governo importantíssimos  serviços; oficial de gabinete do tenente de engenheiros Augusto Ximeno de Villeroy, quando este oficial assumiu a chefia do novo Estado Federal, a 4 de janeiro de 1890.
Assinatura de Eduardo Ribeiro
A 7 de janeiro de 1890, foi promovido ao posto de tenente do estado maior de 1ª classe e distinguido, a 2 de junho do mesmo ano, com a nomeação de professor da Escola Superior de Guerra. Retirando-se Ximeno de Villeroy da chefia do governo por motivo de gravíssima moléstia na pessoa de sua esposa e, tendo em vista os bons e leiais serviços prestados à sua administração por Eduardo Ribeiro, além de reconhecer o alto grau de moralidade que o habilitava a substituí-lo, indicou o seu nome para esse fim e aprovada a indicação pelo governo central, tomou ele, pela primeira vez, a direção dos negócios públicos, a 2 de novembro de 1890, sendo que, a 6 do referido mês, foi nomeado 2º vice-governador do Estado.
A 4 de janeiro de 1891, foi escolhido pelo Governo Provisório para governador. Divulgada a noticia de sua dispensa desse alto cargo, a 4 de abril daquele ano, reunido em grande massa, secundado pelas forças Federal e estadual, aclamou-o governador, onde permaneceu até 5 de maio, quando transferiu o governo ao Barão do Juruá (Guilherme José Moreira, 1º vice-governador).
A 7 de junho de 1891, Eduardo Ribeiro foi promovido a capitão do estado maior de 1ª classe, seguindo a 27 para a Capital Federal a fim de entrar em exercício do cargo de lente da Escola Superior de Guerra, para o qual havia sido nomeado a 2 de junho de 1890.
Por efeito do movimento revolucionário, de 14 de janeiro de 1892, que destituiu o primeiro governador constitucional, foi Eduardo Ribeiro escolhido para de novo administrar o Amazonas, cujo governo assumiu a 11 de março do mesmo ano.
Eleito governador, ocupou o quadriênio – 1892-1896 – substituindo-o, a 23 de julho, o doutor Fileto Pires Ferreira. Realizou “a maior obra administrativa que o Estado já conheceu”, segundo expressões do brilhante historiador Artur Cezar Ferreira Reis.
Pleiteou a eleição para Senador, obtendo esmagadora vitória. Outro, porém, foi reconhecido pelo Senado da República. Eleito deputado estadual em 1898/1900, foi por duas vezes escolhido presidente do Congresso Legislativo. A convenção do Partido Republicano Federal, de que era presidente desde sua fundação, o escolhera a 1º de outubro de 1900, para pleitear uma das vagas de deputado estadual nas eleições de 15 de novembro. (segue)
(*) O Jornal domingo, 16 de outubro de 1949.

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