Júlio Uchôa (*)
Detalhe do painel existente na Casa Museu Eduardo Ribeiro |
A
14 de outubro de 1900 morria, nesta capital, o grande maranhense Eduardo
Gonçalves Ribeiro, ex-governador do Estado, chefe do Partido Republicano
Federal e presidente do Congresso Legislativo.
Naquele
dia, na antiga Chácara Pensador, à
estrada de Flores, extinguia-se uma vida preciosa. Perdia Manaus o seu
benemérito construtor. O Amazonas, compungido pela perda irreparável,
ajoelhava-se contrito, ante o corpo inanimado do seu maior administrador. Era o
último capítulo de um drama ignominioso que se representava ali, às primeiras
horas da manhã. Vários dos personagens, que nele tomaram parte, se ocultaram
por trás dos bastidores, para que a História não lhes registrasse os nomes,
certos de que os mortos não tornam da grande viagem para apontar os seus
algozes à vindita dos porvindouros.
Eduardo
Gonçalves Ribeiro nasceu na capital da antiga província do Maranhão, a 18 de
outubro de 1862. Chamavam-no “Pensador”, apelido que lhe ficou de um jornal que
fundou e dirigiu em sua terra natal do qual foram cintilantes colaboradores
Pedro Freire e Manoel Bittencourt.
Filho
de pais paupérrimos sem recursos, portanto, para ensaiar os primeiros passos na
carreira das letras para a qual revelou, desde cedo, acentuada predileção,
conseguiu, todavia, feitos os seus estudos primários, matricular-se no Liceu
Maranhense, em 20 de janeiro de 1879 onde encetou e concluiu com invejável
distinção, o curso de humanidades.
Deixando
sua província natal, tomou passagem, a 24 de janeiro de 1881, para o Rio de
Janeiro, matriculando-se na Escola Militar, a 24 de fevereiro do mesmo ano,
data em que verificou praça no corpo de alunos. Ali,
a custa exclusivamente de seus esforços e talento, terminou com brilhantismo o
curso que lhe deu direito, a 2 de janeiro de 1884, à promoção ao posto de
alferes-aluno; a 4 de janeiro de 1884, galga o posto de 2º tenente de
Artilharia; a 18 de janeiro do ano seguinte, concluía os seus estudos,
recebendo o grau de bacharel em ciências físicas e matemáticas.
Classificado
no 3º Batalhão de Artilharia a pé, sediado nesta cidade, vinha recolher-se a
esse corpo, quando, ao passar por Belém foi mandado adir, naquela capital, ao
4º Batalhão da mesma arma. Discípulo
do imortal Benjamin Constant, Eduardo Ribeiro jamais ocultou os seus pendores
pelas ideias republicanas, do que resultou a sua transferência, por medida
disciplinar, a 13 de agosto de 1887, para o Amazonas. Foi ajudante, secretário
e professor da Escola Regimental do 3º Batalhão.
Achava-se
em Manaus, o jovem militar ao tempo em que o marechal Deodoro da Fonseca,
dirigindo a ação revolucionária de 15 de novembro de 1889, proclamou a
República.
Organizando-se,
na capital amazonense, um clube militar, a 4 de dezembro de 1889, presidido
pelo tenente-coronel Antônio Florêncio Pereira do Lago, então membro da Junta Governativa
Republicana, foi Eduardo Ribeiro convidado para o cargo de 2º secretário do referido clube, prestando, nessa ocasião,
ao governo importantíssimos serviços;
oficial de gabinete do tenente de engenheiros Augusto Ximeno de Villeroy,
quando este oficial assumiu a chefia do novo Estado Federal, a 4 de janeiro de
1890.
Assinatura de Eduardo Ribeiro |
A
7 de janeiro de 1890, foi promovido ao posto de tenente do estado maior de 1ª
classe e distinguido, a 2 de junho do mesmo ano, com a nomeação de professor da
Escola Superior de Guerra. Retirando-se
Ximeno de Villeroy da chefia do governo por motivo de gravíssima moléstia na
pessoa de sua esposa e, tendo em vista os bons e leiais serviços prestados à
sua administração por Eduardo Ribeiro, além de reconhecer o alto grau de
moralidade que o habilitava a substituí-lo, indicou o seu nome para esse fim e
aprovada a indicação pelo governo central, tomou ele, pela primeira vez, a
direção dos negócios públicos, a 2 de novembro de 1890, sendo que, a 6 do
referido mês, foi nomeado 2º vice-governador do Estado.
A
4 de janeiro de 1891, foi escolhido pelo Governo Provisório para governador.
Divulgada a noticia de sua dispensa desse alto cargo, a 4 de abril daquele ano,
reunido em grande massa, secundado pelas forças Federal e estadual, aclamou-o
governador, onde permaneceu até 5 de maio, quando transferiu o governo ao Barão
do Juruá (Guilherme José Moreira, 1º vice-governador).
A
7 de junho de 1891, Eduardo Ribeiro foi promovido a capitão do estado maior de
1ª classe, seguindo a 27 para a Capital Federal a fim de entrar em exercício do
cargo de lente da Escola Superior de Guerra, para o qual havia sido nomeado a 2
de junho de 1890.
Por
efeito do movimento revolucionário, de 14 de janeiro de 1892, que destituiu o
primeiro governador constitucional, foi Eduardo Ribeiro escolhido para de novo
administrar o Amazonas, cujo governo assumiu a 11 de março do mesmo ano.
Eleito
governador, ocupou o quadriênio – 1892-1896 – substituindo-o, a 23 de julho, o
doutor Fileto Pires Ferreira. Realizou “a maior obra administrativa que o
Estado já conheceu”, segundo expressões do brilhante historiador Artur Cezar
Ferreira Reis.
Pleiteou
a eleição para Senador, obtendo esmagadora vitória. Outro, porém, foi
reconhecido pelo Senado da República. Eleito
deputado estadual em 1898/1900, foi por duas vezes escolhido presidente do
Congresso Legislativo. A convenção do Partido Republicano Federal, de que era
presidente desde sua fundação, o escolhera a 1º de outubro de 1900, para
pleitear uma das vagas de deputado estadual nas eleições de 15 de novembro.
(segue)
(*) O Jornal – domingo, 16 de outubro de 1949.
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