CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, maio 03, 2012

O Jornal e o Diário da Tarde



Sede da empresa Archer Pinto, na av.
Eduardo Ribeiro, 1977
Já narrei neste espaço o início da empresa Archer Pinto que, com um jornal matutino e outro vespertino, dominou o Estado. A morte dos dirigentes, com a inconsequente condução da viúva de um deles a direção geral, acelerou a derrocada do empreendimento.

Quem narra esse final é o jornalista (*) que, mesmo enfrentando um inferno gerencial, conduziu O Jornal nos derradeiros e sombrios dias.
 
O FIM DE “O JORNAL”
(Minha pior reportagem)
 Fui um dos que, desolados e maniatados, assistiu ao deplorável fim de "O Jornal". Entre -- aliás, à frente -- daqueles autênticos "heróis" que permaneceram em suas trincheiras até disparar o último projétil ante o encurralamento.  

Tenho a impressão de que posso afirmar, deveras constrangido, ter experimentado os piores momentos da existência do "velho e cansado OJ", "como diziam meus companheiros à época"; talvez mais que a sua própria diretora: pouco antes do fim ela se encontrava viajando, às vésperas do NATAL passado "de dolorosas recordações", e eu respondia pela direção da empresa.

Foram 12 anos que passei ali, os três últimos dos quais me deixaram como lembrança alguns fios de cabelos brancos, aparecidos da luta renhida e inglória em busca de evitar a derrota, a qual simplesmente consegui prolongá-la.      

Com o fim de. O Jornal, inexoravelmente perdi também uma parte de mim, uma porção da minha vida. E como, neste momento, evito recordar fatos penosos; do quanto fiz para não desistir, decidido a ir até à última consequência.

Todavia nem só tristeza do OJ me vem à mente. Os amigos que lá conquistei, batalhando lado a lado, "relembro aqui Gabriel Andrade"; a compreensão e a solidariedade dos 'colegas dos outros jornais nos momentos difíceis, solidariedade inclusive que me honrou com a homenagem de “Jornalista do Ano”, em 1975, foram compensações. E agora ter a mão generosa de Humberto Calderaro Filho estendida em minha direção, dá-me a certeza de que todo o sacrifício não foi em vão.

Pelo que vi e senti lá no OJ é que intitulei esses momentos de "Minha pior reportagem", quando poderia ser também "A reportagem que eu não queria escrever" ou, ainda, "OJ, meu amor".

UM LIDER

Fundado por Henrique Archer Pinto, "que eu não tive a felicidade de conhecer pessoalmente", a 30 de outubro de 1930, O Jornal liderou a imprensa amazonense realmente durante mais de três décadas:· a maior tiragem, os melhores repórteres, a melhor impressão à “Rotativa", "na época, a melhor máquina impressora", a opinião que "pesava pacas na balança."

Essa liderança era até traduzida num "jingle" que rodava nas rádios da cidade: "Só acredito, só posso acreditar, se O Jornal de Manaus confirmar. Olha O Jornal!... O Jornal de Manaus!..."

Criava e elevava políticos, elegia até governadores e conquistava, pela força que tinha, decisões do Governo central para o desenvolvimento, a defesa e as tradições do povo em campanhas memoráveis.  
Junto ao público promovia os milionários "Concursos de Palpites",
uma espécie do que é hoje a Loteria Esportiva", as sensacionais, corridas ciclísticas e pedestres de interesse nacional, o Festival Folclórico e os concursos de Rainha do Carnaval.  
Almir Diniz, 2011 (alto) e em 1960,
ao tempo do Prêmio Esso
 

Ostentava o único Prêmio Esso de Reportagem até hoje conquistado por um jornalista amazonense: Almir Diniz, "ex-delegado de Trânsito e hoje afastado do batente".

Por sua redação passaram os maiores jornalistas da terra e, ultimamente, muitos da nova geração, que eu suponho ter "ensinado os primeiros passos." Eles estão aí para contar a estória.  
Com o falecimento de Henrique, assumiu a direção do jornal o seu filho Aguinaldo; posteriormente o irmão deste, Aloísio,
· e finalmente Maria de Lourdes Archer Pinto, que ascendeu ao cargo após ganhar questão na Justiça. [1961]

Entre os "furos de reportagem", lembro-me do referente à descoberta dos cadáveres das vítimas da Missão Padre Calleri, massacrada pelos índios Atroari. Isso foi possível mediante uma foto ampliada, colhida de bordo de um avião da FAB, mostrando o local da matança e os corpos amarrados em troncos de árvores; "sem a ampliação da foto no laboratório não era possível distinguir os corpos no mato". O "furo" teve repercussão nacional, atraindo par cá os maiores jornais do país. (segue)

(*) Texto de Ajuricaba Almeida, A Crítica, 8 dezembro 1977.

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