Sede da empresa Archer Pinto, na av. Eduardo Ribeiro, 1977 |
Já narrei neste espaço o
início da empresa Archer Pinto que, com um jornal matutino e outro vespertino, dominou
o Estado. A morte dos dirigentes, com a inconsequente condução da viúva de um
deles a direção geral, acelerou a derrocada do empreendimento.
Quem narra esse final é o jornalista (*)
que, mesmo enfrentando um inferno gerencial, conduziu O Jornal nos derradeiros e sombrios dias.
O FIM DE “O JORNAL”
(Minha pior reportagem)
Tenho a impressão de que posso afirmar,
deveras constrangido, ter experimentado os piores
momentos da existência do "velho e cansado OJ", "como diziam meus companheiros à época"; talvez
mais que a sua própria diretora: pouco antes do fim ela se encontrava viajando,
às vésperas do NATAL passado "de dolorosas recordações", e eu respondia pela direção da empresa.
Foram 12 anos que passei ali, os três
últimos dos quais me deixaram como lembrança alguns fios de cabelos brancos,
aparecidos da luta renhida e inglória em busca de evitar a derrota, a qual simplesmente consegui prolongá-la.
Com o fim de. O Jornal, inexoravelmente perdi também uma parte de mim, uma porção
da minha vida. E como, neste momento, evito recordar fatos penosos; do quanto
fiz para não desistir, decidido a ir até à última
consequência.
Todavia nem só tristeza do OJ me vem à mente. Os amigos que lá
conquistei, batalhando lado a lado, "relembro aqui Gabriel Andrade";
a compreensão e a solidariedade dos 'colegas dos outros jornais nos momentos difíceis, solidariedade inclusive
que me honrou com a homenagem de “Jornalista do Ano”, em 1975, foram
compensações. E agora ter a mão generosa de Humberto
Calderaro Filho estendida em minha direção, dá-me a certeza de que todo o sacrifício não foi em vão.
Pelo que vi e senti lá no OJ é que intitulei esses momentos de "Minha pior reportagem", quando poderia ser também "A reportagem
que eu não queria escrever" ou, ainda, "OJ, meu amor".
UM LIDER
Fundado por
Henrique Archer Pinto, "que eu não tive a felicidade de conhecer pessoalmente", a 30 de outubro de
1930, O Jornal liderou a imprensa amazonense realmente
durante mais de três décadas:· a maior tiragem, os melhores repórteres, a melhor impressão
à “Rotativa", "na
época, a melhor máquina impressora", a opinião que "pesava pacas na
balança."
Essa liderança era até traduzida num "jingle"
que rodava nas rádios da cidade: "Só acredito, só posso
acreditar, se O Jornal de Manaus
confirmar. Olha O Jornal!... O Jornal de Manaus!..."
Criava e elevava políticos, elegia até
governadores e conquistava, pela força que tinha, decisões do Governo central
para o desenvolvimento, a defesa e as tradições do povo em campanhas memoráveis.
Junto ao público promovia os milionários
"Concursos de Palpites",”uma espécie do que é hoje a Loteria Esportiva", as sensacionais, corridas ciclísticas e pedestres de interesse nacional, o Festival Folclórico e os concursos de Rainha do Carnaval.
Almir Diniz, 2011 (alto) e em 1960, ao tempo do Prêmio Esso |
Ostentava o único Prêmio Esso de Reportagem
até hoje conquistado por um jornalista amazonense: Almir Diniz, "ex-delegado
de Trânsito e hoje afastado do batente".
Por sua redação passaram os maiores jornalistas da terra
e, ultimamente, muitos da nova geração, que eu suponho ter "ensinado os
primeiros passos." Eles estão aí para contar a estória.
Com o falecimento de Henrique, assumiu a direção do jornal o seu filho Aguinaldo; posteriormente o irmão deste, Aloísio,· e finalmente Maria de Lourdes Archer Pinto, que ascendeu ao cargo após ganhar questão na Justiça. [1961]
Com o falecimento de Henrique, assumiu a direção do jornal o seu filho Aguinaldo; posteriormente o irmão deste, Aloísio,· e finalmente Maria de Lourdes Archer Pinto, que ascendeu ao cargo após ganhar questão na Justiça. [1961]
Entre os "furos de reportagem", lembro-me do referente à descoberta dos cadáveres das vítimas da Missão Padre Calleri, massacrada pelos índios Atroari. Isso foi possível mediante uma foto ampliada, colhida de bordo de um avião da FAB, mostrando o local da matança e os corpos amarrados em troncos de árvores; "sem a ampliação da foto no laboratório não era possível distinguir os corpos no mato". O "furo" teve repercussão nacional, atraindo par cá os maiores jornais do país. (segue)
(*) Texto
de Ajuricaba Almeida, A Crítica, 8 dezembro 1977.
foi o primeiro jornal onde publiquei crônicas...
ResponderExcluir