Aproveito a ocasião para reproduzir um texto divulgado
por ocasião do centenário de nascimento, e que explica em parte as razões que
fizeram Jonas da Silva cair no esquecimento. Aproveito ainda para convidar para
a próxima QL, que promete.
Jonas
da Silva: os cem anos do poeta do mármore
Vinho de som que me embebeda o ouvido.
Há cem anos nascia, em Parnaíba, no Piauí, o autor desses
versos: Jonas da Silva. Exatamente no dia 17 de
dezembro de 1880, três anos depois que a primeira
e avassaladora seca castigou o Nordeste brasileiro.
Fez parte
de uma geração que elegeu o "rijo mármore do verso" como uma verdadeira bandeira literária e que, por incrível que pareça, tem ainda
hoje uma enorme plateia entre estudantes principalmente.
Jornal A Crítica, 17 dezembro 1980 |
Escolheu
Manaus multo cedo, como o centro dessa atividade intelectual que o situou como dos primeiros, entre seus
pares de escola: Olavo Bilac, B. Lopes, Medeiros
e Albuquerque, Alberto Oliveira e outros estilistas do parnaso. Fez
parte da Academia de Letras do Amazonas e do
Piauí. Fundou o cine teatro
Politeama, que abrigou a sociedade amazonense
e hoje está reduzido a linearidade de uma
arquitetura de supermercado, ali, no cruzamento
das avenidas Getúlio Vargas e Sete de Setembro.
Um
poeta do Piauí com destino amazonense,
inclusive no esquecimento de todas essas
gerações que o sucederam, sem o mesmo brilho e mimo. Gerações que aprenderam a esquecer. Gerações sem escolas. Os livros
de Jonas da Silva não foram reeditados,
e raras bibliotecas (bibliotecas são sempre
raras em Manaus) particulares mantém-no
vivo, com a linguagem do seu verso esmerilado.
Jonas da Silva fez os estudos preparatórios no Ginásio Amazonense, que foi Colégio Estadual recentemente.
Jonas da Silva fez os estudos preparatórios no Ginásio Amazonense, que foi Colégio Estadual recentemente.
Mas, formou-se em Odontologia,
aos 19 anos, no Rio de Janeiro, onde fez sua estreia literária com a publicação do Amphoras, que recebeu
o prefácio entusiasmado de B. Lopes, o consagrado autor de Brasões, uma espécie de guru desta escola
poética.
Tinha 20 anos, Jonas da Silva, quando de sua estrela em
livro. B. Lopes não poupou elogios: “Terei mesmo a ousadia de dizer que você procura
para dourar os seus sonetos a mesma pampilha usada nos meus”.
Mas, logo reconheceria a individualidade de Jonas: “Todavia, irrompe dos seus brunidos
e cariciosos sonetos um halo de ouro lanceolado como um símbolo de força, de galanteria e de conquista”. E o entusiasmo de B. Lopes não para nesse reconhecimento.
Ele quer ser sincero com o jovem Jonas: “Para que fique na minha memória
um verso, é preciso que esse verso me agrade e eu tenho alguns dos
seus”, por exemplo: “Que os passarinhos,
quando a moça canta / Voam cantando pela casa a dentro. Ou, “As cimitarras trêmulas
dos braços.” Tinha boa memória B. Lopes em se tratando de um poeta que
estreava num circuito de extremo
rigor pelo verso.
Jonas da Silva casou três vezes. Do primeiro casamento com D. Maria
Balbi Carreira, nasceram-lhe o Dr. Alberto Carreira da Silva, ex-diretor
da Saúde Pública; e um dos maiores sanitaristas do Brasil; Jandira, que foi casada com o comerciante Joaquim Amorim Junior, e Sulamita, falecida, que foi casada com
o Dr. Deoclydes de Carvalho Leal. Do segundo casamento com Joana Facundo do Valle, não teve filhos. Casou-se
em terceiras núpcias com D. Marina Ortiz, havendo duas filhas gêmeas, Jandira
e Julieta, que hoje vivem no Rio de Janeiro.
O poeta publicou o segundo livro em
1904, com o título Ulhanos, e o seu terceiro livro, Czardas, foi editado em 1922 (sic), quando já começavam a
repercutir as rebeldias do que foi consagrado chamar de Modernismo
Brasileiro. Respeitado e aplaudido desde o seu primeiro
livro por Olavo Bilac, Jonas da Silva morreu em Manaus a 6 de
junho de 1947.
Em sua obra é farta a referencia à
sua filha Sulamita (que às vezes chamava Sulá), como é fácil reconhecê-la no
poema Granadeiros de chumbo do seu
primeiro livro, que a memoria da família guarda como se fora a sua musa.
Em Manaus, o centenário de seu
nascimento não tem a homenagem que ele mereceu e merece, mas, que parecia
adivinhar quando escreveu, para a memória fértil de B. Lopes:
Antes ficasse eternamente mudo.
Antes ficasse eternamente cego.
|
Bom dia Coronel Roberto!
ResponderExcluirAdoro conhecer sempre mais sobre Manaus (minha cidade natal) e encontrar sua página foi primordial para agregar mais informações ao meu conhecimento.
Disponho de um blog também, mas promovo diferenciais na minha profissão de Administradora e portanto Consultora em RH.
Estudo sobre Manaus, por você e suas publicações.
Parabéns por este profissional magnífico sobre o que se promove aqui!