Jornal A Notícia, 22 maio 1974 |
O Consulado do Japão, em maio de 1974, endereçou consulta ao Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, visando recolher informações sobre a utilização do vocábulo MANAUS, motivo da alteração de sua grafia e desde quando passou a ser grafado nos documentos oficiais, como hoje se escreve.
Para atendimento àquela solicitação, o então Presidente do sodalício, desembargador André Vidal de Araújo, que cognominei de “desembargador da bondade”,
designou uma comissão para estudos e redação do documento final a respeito do
assunto. Coube-me redigir a informação que foi levada ao conhecimento do
ilustre representante do povo da terra do sol nascente, entre nós.
Para conhecimento de uma camada mais ampla da comunidade, passo a
transcrever a seguir as mesmas explicações prestadas àquela altura, baseando-me nas pesquisas e contribuições
de diversos
membros da Casa de Bernardo Ramos, e para
esclarecimento de dúvidas que vêm sendo suscitadas, entre os estudantes, sempre
motivadas por informantes mais afoitos ou despreparados.
O
vocábulo MANAU era atribuído à uma das muitas tribos que habitaram o rio Negro,
compondo celebre confederação tribal dedicada à defender a região contra a invasão
dos europeus.
Poucos
são os recursos para a classificação e divisão do povo encontrado na Amazônia,
é a opinião do professor Antônio Braga Teixeira, e toda a base de quaisquer
estudos linguísticos pode ser desenvolvida sobre a fonética, sendo desconhecida
a escrita e com ela regras rígidas, bem cuidadas, da grafologia dos vocábulos.
Assim
é que os etnólogos afirmam que os índios MANAU são de origem ARUAQUE, segundo
se pode ver em Lima de Figueiredo e Armando Levy Cardoso, citados pelo mestre
André Araújo, que também lembra a aparência de MANAU com MANOA.
Os
estudos de Pedro Luiz Simpson, patrono de uma das poltronas do nosso Instituto
e figura de relevo no saber, como de Pe. Lemos Barbosa, Plínio Ayrosa,
Frederico G. Edeiweiss demonstram, pela fonética araucana ser mais certa, mais
concordante com a língua da tribo que originou esta cidade, MANAU com U e não
MANAO com O. Eles bem evidenciam as profundas e diversas razoes etimológicas
para a alteração da grafia.
São
bastante conhecidas as dificuldades de distinção da pronuncia das palavras
escritas com O ou U em final de vocábulos, formando ditongo. Ainda hoje, em razão
de regionalismos podem parecer oralmente iguais – Manáos e Manaus.
Sabemos
que não existe em qualquer gramática que discipline a ortografia de termos
aruaques incorporados à Língua Portuguesa determinação da pronúncia e/ou grafia
de Manaus com O.
Na
Língua Aruaca como se refere André Araújo, o O tem dois sons: fechado
(avô) e aberto (socó). Assim, entendia aquele mestre que a pronúncia indígena verdadeira deveria ser
MANAUS e nunca MANAÔS ou MANÁOS. Não há uma lei que determine o uso do U, mas, etimologicamente é assim que deve ser
grafada.
Jornal já extinto, circulado em 1923, com a grafia de Manáos |
Octaviano Mello, em obra editada pelo Governo do Estado, mostra o contraste de Manaus com uma das formas femininas de MANOUH, MANOU, MANU, MANI, que são abreviações de nome hebraico - Munouchyak e suas variações, donde veio a palavra indo-tupi, HOUCHA, homem ou gênio nascido de Manou, significando, conforme o autor procurou demonstrar às páginas 31 de Topônimos da Amazônia, deus dos índios.
A palavra que denomina nossa cidade tem sido grafada
de diversas formas: MANOU, MANAU, MANAO, MANÁO, MANAHA, MANAVE, MACNAL, MANOUH,
MANOUÃ, MANÁOS.
Pela construção da fortaleza, hoje com placa simbólica,
moldada em bronze, fixada no prédio da antiga Secretaria de Fazenda, Manaus
data de mais de 300 anos, e à época de sede da Capitania, como da Provincia, o vocábulo
era escrito com O.
Embora
desde o dia 19 de março de 1937 os atos oficiais venham apresentando a grafia
MANAUS, como se vê do decreto nº 117, publicado no Diário Oficial do Estado, nº
12.589, foi somente em 14 de julho de 1939 que o próprio Diário corrigiria o cabeçalho,
passando a circular com a grafia que há pouco mais de dois anos já havia utilizado.
Verifique-se, a respeito, o exemplar de nº 13.192, do DOE.
Em
1908, publicado pela Tipografia J. Renaud & Comp., Bertino de Miranda
lançava seu livro sobre Manaus, trazendo a grafia com U. Porque então somente
em 1937 passou-se a utilizar esta grafia, nas obras de escritores locais, como
nos órgãos e documentos oficiais, não consegui identificar.
Dois documentos de 1910, um com Manáos (acima), outro, com Manaus (abaixo) |
Fato
interessante e digno de nota é que o primeiro ato a trazer a grafia MANAUS, e
que foi assinado pelo político e intelectual Álvaro Botelho Maia, concedia prêmios
a estudantes do curso secundário. Era sexta-feira, 19 de março de 1937.
Os
critérios ortográficos que primeiro determinaram a grafia MANAUS, resultaram do
acordo assinado entre as Academias de Letras do Brasil e Portugal, com a
chancela dos respectivos governos, em 1943.
Estas
informações servem a todos que busquem saber da nossa história e da própria língua,
que nos mantém unidos.
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