Para contribuir com a história deste bairro, reproduzo uma reportagem do extinto jornal A Notícia (5 março 1970). Aproveito para expor algumas recordações daquele espaço, pois o conheço desde dez anos antes desse registro jornalístico. Afinal, passei a morar no Morro da Liberdade no final de 1959.
Recorte da reportagem |
Havia uma capela com este orago, bem no alto, onde a turma do Morro comparecia por ocasião de festas, em especial a do padroeiro. Certa oportunidade, em companhia de meu irmão, tomei uma "carreira" dos caras daquele pedaço. Já existia o GE Antóvila Vieira, na estrada que nos conduzia ao aeroporto de Ponta Pelada. no mais, era um casario construído de madeira e palha. Água, como detalha a reportagem, era encontrada em cacimbas, e transportada em "lata d'água na cabeça". enfim, para se chegar ao São Lázaro era obrigado a enfrentar um forte aclive, ou seja, ladeira acima.
Manchete da reportagem (A Notícia, 5 março 1970) |
Com
exceção de um moderno grupo escolar (o Antóvila M. Vieira), que serve as
crianças do Morro da Liberdade, da Lagoa Verde, parte de Santa Luzia e ao próprio
bairro, São Lázaro, que já está completando 13 anos de formação, não tem luz, não
tem água encanada e suas principais ruas estão intransitáveis. Os seus moradores
— os mais pacatos — recolhem-se às 18 horas, todos os dias, porque não têm
segurança necessária, devido ao policiamento precário, quase inexistente e à escuridão
reinante em todo o local.
Eles
adoram uma chuva, pois isso permite encher os vasilhames, e assim não precisam carregar
água das cacimbas. Em compensação, as crianças não podem brincar nas ruas, cujo
aguaceiro as transforma em autênticos lagos. As valas são imensas.
TRANSPORTE
Neste
contato que a NOTÍCIA teve com o bairro de São Lázaro, deparou-se nos um drama:
quem quiser chegar até lá, de taxi, terá que contar com um motorista amigo e
pagar “táxi extra”, simplesmente porque todos, ou quase todos, se recusam fazer
essas corridas, devido ao estado deplorável das artérias. Os ônibus foram
obrigados a encurtar a linha, pelo mesmo motivo. Uma visita só é completa, a
pé.
Os
que moram lá mais adiante, esses é que sofrem. Não podem deixar seus filhos
comparecerem sozinho à escola, tal a falta de segurança aqui. Existem vagabundos
às pampas, maconheiros, desordeiros, tudo enfim. O policiamento, infelizmente, é
pouco — disse o sr. Mario Batista Gonçalves, amazonense, 37 anos, que ali mora
um ano depois que que São Lázaro apareceu no mapa da cidade. Tem seis filhos e
sente-se privilegiado porque reside bem perto da escola e da delegacia. Além
disso, São Lázaro, que antigamente era chamado de Lagoa Verde, até aqui não tem
posto médico, não tem mercado público, nem “feira”. Todos vivem como a Maria: com
a lata d'água na cabeça.
Para
se conseguir água, aqui — concluiu o sr. Mario Gonçalves — os moradores
recorrem aos poços. Cada um faz o seu. Furam a terra e só com a profundidade mínima
de 13 metros é que ela aparece. Mas, é limpa, bem limpa; clara, parece água
mineral. A CEM [Companhia de Eletricidade de Manaus] já esticou por aqui alguns
fios, mas não chegou a concluir o trabalho, deixando a grande maioria sem luz
elétrica.
Conheço
gente que já comprou televisão, mas o aparelho continua encaixotado. O mercado
mais próximo é o do Morro da Liberdade, que abastece São Lázaro. Em suma: São
Lázaro sofre como sovaco de aleijado. Felizmente o Governo do Estado está resolvendo
o problema d’água, com o novo sistema em ritmo de instalação. Os outros dependerão,
agora, da Prefeitura, da Secretaria de Saúde etc. Oxalá esses também se penalizem
desta gente.
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