CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, março 10, 2020

BAIRRO DE SÃO LÁZARO

Para contribuir com a história deste bairro, reproduzo uma reportagem do extinto jornal A Notícia (5 março 1970). Aproveito para expor algumas recordações daquele espaço, pois o conheço desde dez anos antes desse registro jornalístico. Afinal, passei a morar no Morro da Liberdade no final de 1959.

Recorte da reportagem
Havia uma capela com este orago, bem no alto, onde a turma do Morro comparecia por ocasião de festas, em especial a do padroeiro. Certa oportunidade, em companhia de meu irmão, tomei uma "carreira" dos caras daquele pedaço. Já existia o GE Antóvila Vieira, na estrada que nos conduzia ao aeroporto de Ponta Pelada. no mais, era um casario construído de madeira e palha. Água, como detalha a reportagem, era encontrada em cacimbas, e transportada em "lata d'água na cabeça". enfim, para se chegar ao São Lázaro era obrigado a enfrentar um forte aclive, ou seja, ladeira acima.

Manchete da reportagem (A Notícia, 5 março 1970)
Com exceção de um moderno grupo escolar (o Antóvila M. Vieira), que serve as crianças do Morro da Liberdade, da Lagoa Verde, parte de Santa Luzia e ao próprio bairro, São Lázaro, que já está completando 13 anos de formação, não tem luz, não tem água encanada e suas principais ruas estão intransitáveis. Os seus moradores — os mais pacatos — recolhem-se às 18 horas, todos os dias, porque não têm segurança necessária, devido ao policiamento precário, quase inexistente e à escuridão reinante em todo o local.
Eles adoram uma chuva, pois isso permite encher os vasilhames, e assim não precisam carregar água das cacimbas. Em compensação, as crianças não podem brincar nas ruas, cujo aguaceiro as transforma em autênticos lagos. As valas são imensas.

TRANSPORTE
Neste contato que a NOTÍCIA teve com o bairro de São Lázaro, deparou-se nos um drama: quem quiser chegar até lá, de taxi, terá que contar com um motorista amigo e pagar “táxi extra”, simplesmente porque todos, ou quase todos, se recusam fazer essas corridas, devido ao estado deplorável das artérias. Os ônibus foram obrigados a encurtar a linha, pelo mesmo motivo. Uma visita só é completa, a pé.
Os que moram lá mais adiante, esses é que sofrem. Não podem deixar seus filhos comparecerem sozinho à escola, tal a falta de segurança aqui. Existem vagabundos às pampas, maconheiros, desordeiros, tudo enfim. O policiamento, infelizmente, é pouco — disse o sr. Mario Batista Gonçalves, amazonense, 37 anos, que ali mora um ano depois que que São Lázaro apareceu no mapa da cidade. Tem seis filhos e sente-se privilegiado porque reside bem perto da escola e da delegacia. Além disso, São Lázaro, que antigamente era chamado de Lagoa Verde, até aqui não tem posto médico, não tem mercado público, nem “feira”. Todos vivem como a Maria: com a lata d'água na cabeça.

CACIMBA
Ilustração da reportagem (A Notícia, 5 março 1970)
Para se conseguir água, aqui — concluiu o sr. Mario Gonçalves — os moradores recorrem aos poços. Cada um faz o seu. Furam a terra e só com a profundidade mínima de 13 metros é que ela aparece. Mas, é limpa, bem limpa; clara, parece água mineral. A CEM [Companhia de Eletricidade de Manaus] já esticou por aqui alguns fios, mas não chegou a concluir o trabalho, deixando a grande maioria sem luz elétrica.
Conheço gente que já comprou televisão, mas o aparelho continua encaixotado. O mercado mais próximo é o do Morro da Liberdade, que abastece São Lázaro. Em suma: São Lázaro sofre como sovaco de aleijado. Felizmente o Governo do Estado está resolvendo o problema d’água, com o novo sistema em ritmo de instalação. Os outros dependerão, agora, da Prefeitura, da Secretaria de Saúde etc. Oxalá esses também se penalizem desta gente.

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