A ocupação do terreno da Sharp no Distrito
Industrial, hoje consolidada, se não estou mal informado, ocupa um terreno em
declive. Teve início em 1994, e logo os dirigentes da empresa e da própria Suframa
recorreram ao judiciário, a fim de evitar outra invasão.
No ano seguinte, em março, a Justiça
determinou a reintegração de posse. Para a execução, seguiram os oficiais de justiça
acompanhados de força estadual. Além de máquinas para agilizar a desocupação.
Compartilhei de A Crítica (29 março 1995), circulada há 25 anos.
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Chamada do jornal na 1ª página |
Observando a reportagem, vejo que ainda em nossos dias esse tipo
de operação repete três diretrizes: 1) os invasores sempre adotam o nome de político
ou de santo para proteger o local. No caso, utilizaram o nome de Carlos Braga,
pai do atual senador Eduardo Braga; 2) o pessoal da Justiça é sempre escoltado
pela força policial, no caso, a PMAM. Todavia, a destruição autorizada dos bens
acaba sob a “responsabilidade” dos policiais, ao menos sob a apreciação jornalística.
Nesse fato, o título da reportagem incriminava aos policiais pela ofensiva. 3)
os invasores nunca “têm onde morar ou para onde ir”. Basta ver o final da
reportagem.
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Recorte da publicação de A Crítica (29 março 1995) |
Cerca de 200 famílias que moravam na
invasão Carlos Braga, Distrito Industrial, Zona Leste, tiveram seus barracos
destruídos ontem, por um trator, em cumprimento a um mandado de reintegração de
posse, expedido pelo juiz da 4ª Vara Cível, Rui Morato, em favor da Sharp da
Amazônia. Dois oficiais de justiça, Manuel Cardoso e Mariano Farias, escoltados
por um grupo de aproximadamente 30 policiais armados, chegaram ao local - Av.
Buriti com a Grande Circular - por volta das 12h, leram o mandado de reintegração
de posse e iniciaram a derrubada das casas. Revoltados com a situação os
moradores afirmaram não ter para onde ir e garantiram que iriam aguardar a
saída dos policiais e oficiais de justiça para reerguer os barracos.
A invasão Carlos Braga começou em
novembro de 1994. No início do ano foi expedido o primeiro mandato de
reintegração de posse e, inclusive, esteve no local um cidadão fazendo o
cadastramento dos invasores para transferi-los para o bairro Jorge Teixeira.
Como as casas do bairro não foram
liberadas, os moradores voltaram a ocupar os barracos no Distrito Industrial,
contactaram um advogado e recorreram da decisão da Justiça alegando que o
terreno que a Sharp dizia ser dela era, na verdade, de um senhor chamado
Hidelbrando que não existe. "Nós ganhamos na justiça porque os representantes
da Sharp não compareceram à reunião marcada pelo juiz. Não sei o que está
acontecendo. Eles estão destruindo tudo o que é nosso", dizia indignada a
invasora Márcia Gomes, que mora no local com dois filhos pequenos.
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Aspecto da operação de reintegração (mesmo jornal) |
O oficial de justiça, Manuel Cardoso,
confirmou que aquele era o segundo mandato de reintegração de posse expedido
pela Justiça. Garantiu que o documento havia sido assinado, há alguns dias,
pelo juiz Rui Morato e que ele estava apenas cumprindo ordens. "Nós
avisamos a todos que deveriam sair do local, caso contrário teríamos que
derrubar os barracos para cumprir a lei. Eles não podem ficar aqui. O terreno
pertence à Sharp. E preciso que essa gente procure uma outra área para
morar", disse Cardoso, acrescentando que algumas casas não seriam
destruídas porque estavam fora do terreno da Sharp. O juiz Rui Morado não foi
localizado pela reportagem de A Crítica para esclarecer os fatos.
A derrubada de todos os barracos da
invasão Carlos Braga durou cerca de duas horas e meia. Os invasores
permaneceram no local sem saber o que fazer. A maioria deles não tem onde morar
e nem para onde ir.
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