Antonio Loureiro, autor de História da navegação no Amazonas (Manaus: Gráfica Lorena, 2007), entre outras publicações sobre a história amazônica, pertence ao Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (Igha), e as demais academias existentes no Amazonas.
Às 10 horas da manhã, a frota rebelde estacionou em frente de Itacoatiara, iniciando as negociações para a entrega da praça. Ao Jaguaribe foi ter o padre Joaquim Pereira, vigário da cidade, tentando evitar o bombardeio, tendo regressado na lancha Remus.
Também foi a bordo o prefeito Gonzaga [Tavares] Pinheiro, e após as negociações, a tropa de terra resolveu resistir, pedindo duas horas para evacuar a cidade. Os rebeldes resolveram aguardar e, terminada a trégua, iniciariam o bombardeio.
O prazo já estava expirando e o Jaguaribe preparava seus quatro canhões de 75 mm, quando começaram a surgir os navios legais, iniciando-se, ao meio dia, a famosa Batalha Naval de Itacoatiara.
Apesar do trovejar dos canhões do Jaguaribe, o Ingá aproou contra ele, atingindo-o pelo meio, abrindo-lhe um grande rombo por onde penetraram rapidamente as águas do rio Amazonas, levando-o a pique em poucos minutos.
Foto extraída do livro de Antonio Loureiro
Quase ao mesmo tempo o Baependi avançou contra o Andirá, com a sua tropa atirando. O capitão James Lemos, da Amazon River, tentou hastear uma improvisada bandeira branca, com o seu dólmã, mas foi atingido em um olho por bala de fuzil. O Baependi chocou-se contra o portaló do Andirá, arrombando-o. E o gaiola foi ao fundo.
A batalha naval durara apenas uns quarenta minutos, não participando dela o Rio Curuçá, que estava patrulhando o [rio] Madeira. Todas as lanchas do porto de Itacoatiara acorreram ao local do combate para o salvamento dos náufragos, o que concorreu para diminuir o número de mortos, até hoje indefinido.
Para isto concorreram o intenso tiroteio, a largura e a correnteza do rio Amazonas em frente à Itacoatiara, além de não se saber o número exato dos rebelados, pois muitos foram recrutados a força, pelas margens.
Soube-se da existência de grande quantidade de cadáveres levados rio abaixo, e recolhidos pelos ribeirinhos, não computados nas cifras oficiais, além do mistério que pairou sobre o assunto.
Com o Andirá desapareceram um foguista, o escrivão, um marinheiro, dois taifeiros, dois moços de convés, e 16 rebeldes dos 25 embarcados, totalizando 23 baixas. No Jaguaribe morreram um foguista, um marinheiro, Arquimedes Lalor e a maior parte dos 40
rebelados. A lancha Diana trouxe sete feridos para Manaus, e o Baependi alguns prisioneiros, logo recolhidos à Penitenciária.
Enquanto isto acontecia, a 8ª Região Militar remetia para Óbidos, os navios Tenente Portela, com 300 homens, e o cruzador Floriano Peixoto, de 3000t, encontrando a cidade abandonada e saqueada. O cruzador veio até Manaus, aqui chegando, a 27 de agosto.
Não fosse a existência dos dois grandes navios do Lloyd [Brasileiro], em águas amazonenses, Manaus talvez tivesse sido bombardeada e tomada, pois aqui não existiam artilharia, nem navios de guerra, revelando sua alta vulnerabilidade, o que ainda ocorria até bem pouco tempo.
Havia a necessidade de que navios de guerra da Marinha aqui estacionassem, pois todos os países limítrofes eram possuidores deles, dentro da Amazônia.
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