CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, agosto 07, 2022

MARIO YPIRANGA & FILATELIA

 O texto do saudoso mestre Mário Ypiranga circulou em sua coluna dominical em A Gazeta (13 jan. 1963). Parece premonição: os selos vêm perdendo a finalidade, pois não há necessidade deles, todos os tributos cobrados nos Correios são emitidos em impresso de máquinas. A emissão de selos está sendo reduzida e algumas, desgraciosas. E sem atração, isso que MYM comentou neste tópico há sessenta anos.

Selo natalino com o carimbo de controle

 

Recorte de A Gazeta, 13 janeiro 1963

Os colecionadores de selos nos perguntamos a razão do Brasil ser um dos poucos países do mundo a possuir um serviço de emissão filatélica infamérrimo. Todo colecionador de selo sabe por experiência própria que qualquer país, possessão, ilhota, estado, grão-ducado, principado ou domínio capricha nas emissões, levando-se em conta que o selo postal, hoje em dia, torna-se poderoso veículo de propaganda turística, deixando de ser apenas aquela taxa que o cidadão paga em troca de ruim serviço de correspondência.

Aí estão a nossa maravilhosa flora, a nossa fauna, as nossas riquezas naturais, os nossos monumentos, os nossos costumes, a nossa história rica de quadros heroicos. A diretoria da Casa da Moeda, ou quem melhor responda pelo desserviço, ainda não se apercebeu disso.

Enquanto os colecionadores se extasiam diante das séries belíssimas emitidas por Portugal, Angola, São Marino, Vaticano, Liechtenstein, Touva (sic), China, Rússia etc., o Brasil persiste nos selinhos vagabundos de impressão reles sobre ruim papel.

Todas as nossas possibilidades naturais que poderiam constituir um convite, uma insinuação ao turismo está aí à espera de um afeiçoado ou um homem inteligente que seja menos burocrata (eu ia escrever burrocrata) e misoneista e mais técnico e patriota. Que pelo menos saiba ler e escrever como exige o código não escrito.

Para se avaliar o desinteresse dessa gente eu passo a contar um fato: 1948 foi o ano em que Manaus completou seu primeiro centenário como cidade, embora seja mais velha como póvoa. Na oportunidade, escrevi ao diretor da Casa da Moeda, lembrando-lhe uma emissão comemorativa. Uma série modesta: apenas três valores diferentes. No primeiro apareceriam as ruínas da Fortaleza da Barra representando a Capitania e fundação do povoado; no segundo a foto daquele prédio que o vandalismo oficial deixa ruir para se aproveitar do terreno; no terceiro a perspectiva do Teatro Amazonas, representando o estado republicano e uma fase de maior evolução urbana. Três etapas históricas, três aspectos urbanos que coincidiriam com três estágios de cultura.

A Casa da Moeda, que se interessa ordinariamente pelos centenários de qualquer município em outras partes do Brasil, mandou imprimir apenas um selinho vagabundérrimo exibindo o Teatro Amazonas, naquela sua fase de decadência, como se aquela mole, com a sua majestosa manteigueira, representasse isolado a perspectiva histórico-cultural da terra.

Assim é o Brasil, este país de grandes possibilidades, grande até no desserviço que lhe prestam os homens públicos.

  

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