O episódio de Canudos (1897) já ultrapassou os 120 anos. A PMAM
fez-se presente, sob o comando do tenente-coronel Candido José Mariano. O
mencionado oficial, ao retornar à capital amazonense, escreveu um Relatório
sobre a expedição, documento encaminhado ao governador Fileto Pires Ferreira,
que mandou publicá-lo no Diário Oficial do Estado.
Sob a euforia daquele momento, este documento teve sua divulgação, em forma de folheto, e alcançou destaque na
historiografia nacional, por um minúsculo detalhe: trata-se do primeiro
depoimento publicado no Brasil, pós Canudos.
Em 1965, no governo de Arthur Reis (foto), historiador emérito, nova publicação veio a público. Intitulado de Amazonenses
em Canudos, o próprio governador elaborou o Prefácio, abaixo compartilhado,
para marcar 0 89º aniversário de fundação da PMAM. Devo esclarecer que este
aniversário corresponde à data primitiva de fundação (1876), posto que a
corporação alterou sua data de criação para 1837.
Prefácio
Foi Euclides da
Cunha, depois de reportagem que, a serviço de “O Estado de São Paulo”, escreveu
e só recentemente tomou permanência com o volume que José Olímpio editou, quem
situou a explosão de Canudos na tessitura social que, realmente, permite a
compreensão exata do episódio. No momento agudo da luta, em meio às paixões
políticas que afligiam o país e não lhe permitiam, como é natural, ver de olhos
abertos e raciocinar com serenidade para sentir e possuir a verdade, Canudos e o
“Conselheiro” pareciam parte de urna tentativa, estranha, de restauração do
Império. O fracasso da República estava visível e palpável. A restauração
monárquica, restauração de um sistema que permitira décadas de paz interna,
conquanto de progresso lento, rotineiro, sem a grandeza das mudanças dinâmicas,
“democracia coroada” que marcou época no mundo sul-americano, agitado pela
caudilhagem e pela anarquia, parecia, a muitos aspectos, a solução certa, que
tardava mas seria a correção de erros e o êxito sobre a experiência nova,
tentada pelos soldados de Deodoro, de Floriano e pelos civilistas de Quintino,
de Ruy, de Demétrio e de Silva Jardim.
Canudos,
efetivamente, e os antropólogos culturais, os sociólogos e os pensadores e os
pensadores políticos de hoje são unânimes em proclamar, não se pode inscrever
na série de pronunciamentos políticos, do tipo daqueles em que o período
regencial foi tão farto. Muito ao contrário, o exato é inscrevê-lo entre as
manifestações de fanatismo religioso, de fundo primário, como tão bem o localizou
eminente pesquisadora paulista, manifestações que ela registrou em pormenores e
na interpretação lúcida desejável. Canudos, se foi assim uma página triste de
primarismo, explorado, sem exemplo, por agentes da desordem, constituiu
realmente um incidente na luta social que se explica, entre nós, por todo um
conjunto de circunstâncias e de fatores negativos, que começam no processo de
conquista desordenada da terra, de formação indisciplinada da sociedade, no uso
criminoso das riquezas que a natureza proporciona ou daqueles que o próprio
colonizador impôs como produto de sua vontade sobre o meio que ele incorporou
ao seu domínio, domínio realizado sem limitações e sem respeito pelos direitos
do próprio Estado como poder controlador e organizador.
Para debelar o foco
de insurreição, que se pretendia um perigo ao sucesso do movimento de 15 de
novembro, mobilizou-se, não o corpo técnico que o enfrentasse e operasse o
milagre da reacomodação social, da transformação do meio econômico e do
lançamento das bases de um novo sistema de vida que autorizasse, também, a
ascenção cultural, pondo fim às regras de um drama que não devia ser vencido
pela força das armas. Mobilizou-se, justamente a força armada, na suposição de,
como o ímpeto, a decisão dos movimentos bem planejados pelos comandos, a
explosão estaria contida e vencida.
A empresa militar,
tão bem exposta, como as raízes do episódio, por Euclides, por fim coroou-se de
sucesso. Venceu a ação do exército e das forças policiais estaduais, entre
estas a do Amazonas. Comandada pelo Coronel Cândido Mariano, a sua participação
foi decisiva. O “Relatório” que, sobre a campanha escreveu o comandante, agora
se reedita em homenagem ao seu passado, no dia do seu aniversário, e como lição
de bravura, serve bem ao conhecimento dessa atuação magnífica, que, a certos
aspectos, foi decisiva para encerrar a sangueira entre irmãos. É preciso ler
essas páginas, vazadas sem exaltação mas com amor e fidelidade à verdade, para ter-se
a sensação nítida do que foi a jornada final de Canudos e de como os soldados
do Amazonas souberam comportar-se, criando, para a corporação, os títulos, que
tanto a devem orgulhar.
Reeditando o “Relatório”,
o Governo do Estado, com seu programa de redignificação do passado, nos
ensinamentos que ele nos proporciona, deseja homenagear a Força Policial do
Amazonas. Mais — indicá-la, às gerações novas, como exemplo de disciplina, de
ordem e de cumprimento do dever.
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