CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, janeiro 28, 2012

ARGILA, DE BENJAMIN SANCHES

Capa de Argila, 1957
Nesta semana, resgatei um exemplar do livro do poeta e contista Benjamin Sanches. Adquiri-o do acervo do Jorge Bandeira, que decidiu em gesto histórico liquidar suas coleções: livros e revistas, recortes e capas, discos em vinil, em Cd e em Dvd, e outras mais, na loja provisória situada na rua Lima Bacury (ponto de referência – fundos da agência Itau, cine Guarany). A farra segue até o final de fevereiro.


O livro de Sanches despertou-me a atenção por dois motivos: estava dedicado e, segundo, comentado. A edição é de 1957, impressa em Manaus, na editora Sergio Cardoso & Cia. Ltda., situada à rua Joaquim Sarmento. Os editores assinalam que a capa foi “ilustrada por um desenho do jovem artista amazonense Moacir Couto de Andrade, um dos mais representativos do Clube da Madrugada”.

Benjamin Sanches

Muito bem. Manaus da época curtia as primeiras publicações do Madrugada. O autor, em dezembro desse ano, ofertou o exemplar adquirido ao “exímio contista e crítico literário Arthur Engrácio”, com um abraço (para rimar). E o Engrácio de fato leu o livro, fazendo jus ao conceito que lhe atribuiu o Sanches, pois, em cada poema o “exímio” crítico escreveu seu conceito sobre a composição apreciada.

Assim, Ser e Não Ser obteve a classificação de lírico e o conceito bom; Olhos Verdes, outro lírico, de conceito regular; já Crucificado, mais um lírico, porém, conceituado como “de mau gosto”. Seguindo a apreciação: Morrer Assim, é “um dos melhores do livro”; e Ausência assegurou considerações mais complexas: deve ser o melhor poema, pois foi conceituado como “bom-quase excelente”! No entanto, há uma observação contundente, que Engrácio preferiu rabiscar, mas ainda é possível ler: “o cérebro do poeta, ao que parece, mudou decididamente de lugar”.

Classificado em bom conceito

Lírico e regular

Reprovado pelo crítico


Este livro de Benjamin Sanches parece que não conseguiu prosperar, ou seja, obter uma segunda edição. Acabou no sebão. Da mesma maneira, sucedeu com seu livro O outro e outros contos. Publicado em 1963, esta obra mereceu os melhores aplausos da crítica, que o reconheceu no seu autor um dos grandes expoentes da moderna ficção brasileira, assinala Arthur Engrácio, em sua publicação póstuma  Os Tristes (1997).


E prossegue o “exímio crítico”: Muitos dos seus (de Sanches) contos foram publicados no Suplemento Literário do Jornal do Brasil, com destaque, ao tempo em que esse importante órgão da imprensa nacional se transformou no porta-voz dos concretistas, em todo o País. Sobre Sanches, também emitiu conceito o crítico Assis Brasil.

Certamente o melhor, mesmo com restrição



Um comentário:

  1. Mano Roberto, excelente o texto sobre o poeta Benjamim Sanches e os comentários críticos com evidências. É prazeroso observar que o Clube da Madrugada, do qual pertenceu nosso saudoso padre Ruas, era um celeiro de expoentes da literatura e artistas gráficos. Nessa época, eu ainda colecionava figurinhas do "Marcelino Pão e Vinho", e estava apenas interessado nas matinês de domingo do Cine Vitória. Nem imagina que anos depois teria aulas com o padre no Seminário. As circunstâncias da vida, o bucolismo da cidade e a época romântica serviram de inspiração para esses literatos.

    Quero aproveitar para registrar o aniversário do Marcelo, meu primogênito, que deveria se chamar Marcelino, mas acabou ficando mesmo com a segunda alternativa de nome.

    Renato

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