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Capa de Argila, 1957 |
Nesta semana, resgatei um exemplar do livro do poeta e contista Benjamin
Sanches. Adquiri-o do acervo do Jorge Bandeira, que decidiu em gesto histórico liquidar
suas coleções: livros e revistas, recortes e capas, discos em vinil, em Cd e em
Dvd, e outras mais, na loja provisória situada na rua Lima Bacury (ponto de
referência – fundos da agência Itau, cine Guarany). A farra segue até o final
de fevereiro.
O
livro de Sanches despertou-me a atenção por dois motivos: estava dedicado e, segundo, comentado. A edição é de
1957, impressa em Manaus, na editora Sergio Cardoso & Cia. Ltda., situada à
rua Joaquim Sarmento. Os editores assinalam que a capa foi “ilustrada por um
desenho do jovem artista amazonense Moacir Couto de Andrade, um dos mais
representativos do Clube da Madrugada”.
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Benjamin Sanches |
Muito
bem. Manaus da época curtia as primeiras publicações do Madrugada. O autor, em dezembro desse ano, ofertou o exemplar
adquirido ao “exímio contista e crítico literário Arthur Engrácio”, com um
abraço (para rimar). E o Engrácio de fato leu o livro, fazendo jus ao conceito
que lhe atribuiu o Sanches, pois, em cada poema o “exímio” crítico escreveu seu
conceito sobre a composição apreciada.
Assim,
Ser e Não Ser obteve a classificação
de lírico e o conceito bom; Olhos Verdes,
outro lírico, de conceito regular; já Crucificado, mais um lírico, porém,
conceituado como “de mau gosto”. Seguindo a apreciação: Morrer Assim, é “um dos melhores do livro”; e Ausência assegurou considerações mais complexas: deve ser o melhor
poema, pois foi conceituado como “bom-quase excelente”! No entanto, há uma observação
contundente, que Engrácio preferiu rabiscar, mas ainda é possível ler: “o cérebro
do poeta, ao que parece, mudou decididamente de lugar”.
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Classificado em bom conceito |
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Lírico e regular |
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Reprovado pelo crítico |
Este
livro de Benjamin Sanches parece que não conseguiu prosperar, ou seja, obter
uma segunda edição. Acabou no sebão. Da mesma maneira, sucedeu com seu livro O outro e outros contos. Publicado em
1963, esta obra mereceu os melhores aplausos da crítica, que o reconheceu no
seu autor um dos grandes expoentes da moderna ficção brasileira, assinala Arthur
Engrácio, em sua publicação póstuma Os Tristes (1997).
E
prossegue o “exímio crítico”: Muitos dos seus (de Sanches) contos foram
publicados no Suplemento Literário do Jornal
do Brasil, com destaque, ao tempo em que esse importante órgão da imprensa
nacional se transformou no porta-voz dos concretistas, em todo o País. Sobre Sanches,
também emitiu conceito o crítico Assis Brasil.
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Certamente o melhor, mesmo com restrição |
Mano Roberto, excelente o texto sobre o poeta Benjamim Sanches e os comentários críticos com evidências. É prazeroso observar que o Clube da Madrugada, do qual pertenceu nosso saudoso padre Ruas, era um celeiro de expoentes da literatura e artistas gráficos. Nessa época, eu ainda colecionava figurinhas do "Marcelino Pão e Vinho", e estava apenas interessado nas matinês de domingo do Cine Vitória. Nem imagina que anos depois teria aulas com o padre no Seminário. As circunstâncias da vida, o bucolismo da cidade e a época romântica serviram de inspiração para esses literatos.
ResponderExcluirQuero aproveitar para registrar o aniversário do Marcelo, meu primogênito, que deveria se chamar Marcelino, mas acabou ficando mesmo com a segunda alternativa de nome.
Renato