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quinta-feira, abril 20, 2023

REVISTA UBE/AM: 40 ANOS

Não necessito acrescentar mais que isso: compartilhei o texto abaixo da extinta Revista UBE/AM, que circulou em maio de 1983, portanto, há 40 anos. 



EXPOENTES LITERÁRIOS DO PASSADO


Padre Nonato Pinheiro, orador emérito de raro fulgor, cronista exímio, epistológrafo de inexcedível valor, é gramático e estilista como poucos no Amazonas. Membro da Academia Amazonense de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores do Amazonas.

Padre Nonato é um dos mais ilustres pesquisadores da História da Igreja no Amazonas.

 

 

As comemorações do centenário de nascimento do escritor Péricles Moraes despertaram-me a evocação do grandes figuras literárias do passado, oradores, prosadoras e poetas de opulentos cabedais de cultura e requintada sensibilidade artística, homens egrégios, que tiveram, como os Varões Insignes do Livro do Eclesiástico, o instinto e a preocupação da beleza: "pulchritudinis studium habentes"!.

Péricles Moraes integrou essa plêiade gloriosa de caravaneiros da arte e magos do pensamento, que depositavam com rara elegância no altar da beleza o incenso, o ouro e a mirra de suas produções literárias e erupções oratórias. Dominando de pleno a língua e a literatura da França imortal, a Hélade dos novos tempos, encontraram nessa castália inesgotável os brilhos siderais e as tintas multicoloridas para as iluminuras de suas páginas mitológicas. Fascinavam-no os grandes mestres do estilo, que faziam do esplendor e da policromia uma constante obsessiva, entre os quais, Chateaubriand, Flaubert, Anatole France, Victor Hugo, Paul de Saint-Victor, Saint-Beuve, Remy de Gourmont, Bourget, Mauclair, Mirabeau e outros. As estantes de sua biblioteca não davam abrigo a escritores medíocres, que considerava "escrivinhadores de água chilra"...

Adriano Jorge, Agnello Bitencourt, Álvaro Maia e
Ribeiro da Cunha (a partir da esq.)

Adriano Jorge foi outro cimo daquela orografia mental. Caneta de ouro, cravejada de brilhantes, que escreveu páginas de rara beleza, mas talento tão dispersivo, a ponto de nunca se ter preocupado em publicar um livro. Entretanto, suas frequentes produções literárias nos jornais e revistas da terra dariam matéria para numerosos volumes. Além de suas teses de concursos, profundas e lapidares, deu à estampa duas primorosas alocuções: uma conferência sobre a luz e o discurso com que saudou o Núncio Apostólico Dom Bento Aloisi Masella no memorável 1° Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus, em 1942. Dom Milton Pereira e eu, então seminaristas, ouvimos essa maravilhosa oração, que provocou na assistência alvoroçados aplausos. Fui empossado na Academia de Letras na presidência de Péricles Moraes (1950), mas não perdia as memoráveis sessões dos dois últimos anos da presidência de Adriano Jorge (1974-1948). Empolgava a assistência com o fulgor de sua oratória estonteante, como se arrebatasse do céu, para o recinto da Academia, a grandeza sideral da via láctea! ...

Benjamim Lima e José Francisco de Araújo Lima foram os irmãos Goncourt de nossa Academia. Benjamim foi o seu primeiro presidente e brilhou como teatrólogo. José Francisco, além de homem de letras de rútila cepa, foi cientista de proclamados méritos.

Leopoldo Peres brilhou com luz própria. Tive a alegria e o privilégio de receber suas luzes quando seu aluno de Literatura no Colégio Dom Bosco. Relevo que foi esse príncipe da inteligência que me espevitou a chama do amor às letras. Prosador cintilante e orador de eloquência magnificente.

Álvaro Maia foi um dos mais refulgentes brasões literários de nossa terra: professor, orador, prosador, poeta e político. Uma das inteligências mais fulgurantes do Amazonas, que deixou, seguindo orientação de Horácio, para a maturidade da vida a publicação de suas melhores obras.

João Leda era filólogo. Exímio cultor da vernaculidade, lia os clássicos da língua portuguesa com diurna e noturna mão, sobretudo Camilo e Rui Barbosa.

Heliodoro Balbi brilhou como orador. Suas produções literárias foram escassas, mas de raro brilho, entre as quais um primoroso soneto.

Jonas da Silva ficou glorificado na literatura nacional. Poeta de soberanos voos e joalheiro de maravilhosos sonetos, entre os quais "Coração" e "Santa Teresa".

Ribeiro da Cunha, médico e homem de letras, foi um grande humanista, mas de modéstia quase doentia. Jamais esquecerei uma observação de Péricles Moraes: "Padre Nonato: o Ribeiro da Cunha era tão extraordinário, que se revestia de profunda modéstia, dando-nos a impressão de nos pedir desculpas de ser grande"....

Waldemar Pedrosa faiscou com labaredas impressionantes. Cultura polimorfa e caráter sem jaça. Jurista, advogado e professor supereminente, conhecia profundamente a língua francesa e era um príncipe na arte da conversação. Fui eu o orador na sessão de saudade que a Academia fez realizar no 30° dia de seu decesso, quando afirmei: "Não só da vida, mas da própria morte fez uma obra de arte".

Agnello Bittencourt não pode ser esquecido na pulcritude de seu caráter e na grandeza de sua cultura. Pesquisador beneditino e pedagogo notável, encontrou na transmissão de seus opulentos conhecimentos um dos encantos da vida.

É limitado o espaço de que disponho, e infelizmente, fico privado de escrever sobre Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro, Huáscar de Figueiredo, Vivaldo Lima, Félix Valois Coelho, Ramayana de Chevalier, André Araújo, Mitrídates Corrêa, Anísio Jobim, Aristóphano Antony, Djalma Batista e outros, que deixaram de seu contubérnio com as letras vestígios inapagáveis!.

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