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sábado, maio 23, 2020

ACADÊMICO WILLIAM RODRIGUES: JUBILEU DE OURO


A Academia Amazonense de Letras mantém uma galeria com os acadêmicos que, na ativa, completaram o Jubileu de Ouro. São poucos, o último a ser entronizado foi o poeta Elson Farias, ano passado. Agora, em abril, mais um imortal conquistou o laurel: William Antonio Rodrigues.


Quando em 1968, o Silogeu amazonense ampliou o quadro de seus acadêmicos para quarenta, que ainda se conserva, William Rodrigues foi alcançado, atuando no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Nascido em 1928, nas Minas Gerais, graduado na antiga capital brasileira, em Manaus consolidou sua dedicação à ciência, percorrendo a região amazônica por completa.
Entre os dez imortais recepcionados com a reforma de 1968, William Rodrigues que assumiu a Cadeira 38, patronada por Barbosa Rodrigues, é o único sobrevivente. Encerrada sua participação no INPA, transferiu-se para ensinar na Universidade Federal do Paraná. Aos 91 anos de idade, William Rodrigues vive em Curitiba (PR).

A postagem traz dados sobre a solenidade de posse e acerca do eleito, compartilhados de jornais então em circulação.

Jornal do Commercio, 10 abril 1970

A Academia Amazonense de Letras receberá, à noite, de hoje em sessão solene, mais um “imortal” dentre os eleitos recentemente para preencher os seus claros. O recipiendário de hoje é o cientista William A. Rodrigues, do quadro de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia [INPA], autor de valiosas obras relacionadas com as ciências naturais, principalmente no Vale Amazônico.
O novo acadêmico ocupara a Cadeira nº 38, patronada por Barbosa Rodrigues, e pronunciará o seu discurso de posse todo ele se ocupando da obra e da personalidade do saudoso naturalista brasileiro do Sertum Palmarum.
A sessão terá início as vinte e meia horas, no salão de recepções da Academia, e será presidida pelo acadêmico André Vidal de Araújo, 1º vice-presidente do sodalício dos homens de letras amazonenses, em virtude da ausência do presidente Djalma Batista, que viajou para o Sul do país.
Apresentará as boas vindas da Academia ao novo “imortal “ o acadêmico Cosme Ferreira.

Entrevista publicada em jornal A Notícia, 19 abril 1970

O cientista William Antonio Rodrigues é o mais novo “imortal” da Academia Amazonense de Letras, cuja posse verificou-se na semana passada, sendo saudado pelo escritor Cosme Ferreira Filho. Natural de São João-del-Rei, Minas Gerais, William Rodrigues, 41 anos, é casado com a senhora Anna Maria Cardoso Rodrigues, de tradicional família amazonense.



QUEM É?
Para apresentar ao público amazonense o acadêmico William Antonio Rodrigues, cujo talento como homem de ciências e de letras têm sido proclamados, A NOTÍCIA procurou-o para este trabalho de pesquisa informativa: formado em História Natural pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da antiga Universidade do Distrito Federal, em 1954, o sr. William Rodrigues fez diversos cursos de especialização na Guanabara, entre eles o de pós-graduação em Botânica Médica, no Instituto Oswaldo Cruz. Em 1967 esteve durante seis meses no Japão, participando de um treinamento em grupo sobre Pesquisas Florestais.
Meus principais professores — disse o sr. William — foram: João Geraldo Kudlmann, notável botânico de renome internacional, já falecido, ex-diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Karl Arens, conceituado fisiologista vegetal, alemão, atual professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Rio de Janeiro; Hildegardo de Noronha, emérito professor de Botânica, já falecido, ex-diretor da Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro; Olímpio Fonseca Filho, renomeado biologista, ex-diretor do Instituto Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; e T. Kobayashi, conhecido anatomista de madeiras, japonês, orientador de meu curso realizado no Japão.

NO AMAZONAS
O acadêmico William Rodrigues chegou ao Amazonas em fins de 1954, contratado pelo INPA para criar e organizar o seu setor de Botânica, juntamente com alguns outros colegas. Tomou parte em diversas expedições científicas, percorrendo a Amazônia em quase todas as direções, para coleta de material botânico e estudo da flora. É membro da Sociedade Botânica do Brasil, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da Association for ÇãO com o pedologista supra citado.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
Indagado sare quais os maiores vultos da Academia Brasileira de Letras, sr. William acentuou:
"Como cientista que sou, não me é fácil destacar em nossa Academia Brasileira de Letras os maiores cultores de nossa língua, no meio de tão notáveis acadêmicos como Jorge Amado, Alceu Amoroso Lima, Austregésilo de Ataíde, Aurélio Buarque de Holanda, Josué Montello, Pedro Calmon, Álvaro Lins e muitos outras.
Posse (A Notícia 19 abr. 1970)

ACADEMIA AMAZONENSE
Na Academia Amazonense de Letras – continuou o sr. William – sem querer desmerecer os outros seus membros, honram a Casa a veneranda figura de Agnello Bittencourt, um historiador da projeção de Arthur Cezar Ferreira Reis, um etnógrafo de nomeada como Nunes Pereira e muitos outros valores da mesma pujante estirpe destes.

MOCIDADE
E da nossa mocidade, sr. William, o que diz? perguntamos: Como homem de ciência, repito, não tenho acompanhado muito de perto o movimento cultural amazonense, muito embora eu conheça alguns valores dignos de toda a minha admiração e apreço.
A Academia Amazonense de Letras já se orgulha de possuir alguns desses valores, como os poetas Elson Farias, que foi também presidente da UBE; Jorge Tufic, antigo presidente do Clube da Madrugada; Sebastião Norões, e mais o romancista Paulo Jacob, eleito, mas não empossado, até aqui. Entendo, também, respondendo à pergunta, que a AAL aceita qualquer mulher no seu quadro, desde que se faça merecedora da nossa acolhida, como se deu tempos atrás com a poetisa Violeta Branca.
Como recém empossado, entretanto, ainda não tive oportunidade de descobrir valores femininos que pudessem abrilhantar o nosso Silogeu com sua presença, razão pela qual deixo de citar nomes, concluiu o sr. William Rodrigues.
No contato que mantivemos com ele, vimos um homem realmente de estudos. Quase sempre não se diverte. Durante o dia, o sr. William vive dentro de um laboratório, por isso, talvez, que seu nome apareceu no cenário cultural sem a evidência daqueles que ocupam quase diariamente as colunas dos jornais. No entanto, figuras de alto gabarito, tem-no como intelectual da ciência, e não lhe recusam os mais largos elogios, aplaudindo a Academia Amazonense de Letras pela sua escolha.
O sr. William tem uma característica marcante: é extremamente modesto. Tão modesto que chegou a recusar-se a falar ao jornalista. Dentre outras virtudes que apresentam o seu talento, o sr. William fala, fluentemente, além do português, o inglês, o espanhol, o francês e lê, suficientemente, o alemão e o japonês.
WARodrigues, em Curitiba/PR, 2015
William Rodrigues o novo “Imortal"
Foi conselheiro durante 4 anos das duas primeiras entidades, e presidente do XIV Congresso Nacional de Botânica, realizado em Manaus, em 1963. Entre 1967-68, foi delegado regional do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas do Brasil.
Para disputar a Academia de Letras, o sr. William Rodrigues apresentou 31 trabalhos publicados versando somente sobre o assunto de sua especialidade. Embora não tenha nenhum livro editado, o novo "imortal" destacou cinco estudos de sua lavra, mais conhecidos e citados por especialistas em diversas monografias.

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