CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sexta-feira, maio 22, 2020

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Dr. Marcus Lacerda


Reproduzo, com integral contentamento, a manifestação do médico Dr. Marcus Lacerda, membro proeminente da Fundação de Medicina Tropical, na qual explana os obstáculos que vem enfrentando por ter realizado um ensaio clínico sobre a serventia da cloroquina.



NOTA DE ESCLARECIMENTO

Há dois meses nos lançamos na aventura de ajudar a humanidade, fazendo o primeiro ensaio clínico controlado do mundo com cloroquina, para formas graves de Covid-19, em Manaus. Após a publicação dos dados, em que demonstramos que a droga não elimina o vírus, e que não se devem tentar doses mais altas, fomos vítimas de uma terrível fake news oriunda de algum “gabinete do ódio”.
Espalharam pro Brasil que havíamos matado 11 pessoas de propósito, porque éramos do PT e porque queríamos derrubar a menina dos olhos do presidente. O poder dessa notícia impregnou a sociedade leiga, médica e científica. Mesmo após todas as manifestações de apoio das sociedades científicas, esse grupo se vê ainda hoje intimidado por inquéritos civis e explicações a todo tipo de órgãos que deveriam, também, defender os pesquisadores, que são antes de tudo cidadãos, no exercício de sua profissão.
As fake news encontraram terreno fértil na ignorância e no conceito popular de que “onde há fumaça, há fogo”. Quem acreditou na notícia deve ter o hábito de julgar os outros pelo que ele próprio teria coragem de fazer. A sociedade amazonense se calou, e perdeu a oportunidade de defender um dos seus patrimônios: a pesquisa clínica em doenças infecciosas, que aqui tem mais de 40 anos de excelência.

Quem cala consente, quem cala apoia o novo regime. Uma pena que não haverá responsáveis pelas mortes de idosos com Covid-19 usando cloroquina em casa, de forma indiscriminada. A eles nosso mais profundo respeito, por pagarem o preço das escolhas erradas de uma nação. Nosso luto será ainda maior.
À sociedade amazonense, minha gratidão pelo que me proporcionaram até aqui, e um pedido de que conheçam melhor suas instituições, seus filhos de “bravos que doam”, e aqueles que pra cá migraram por opção. Como quis dizer o governador Eduardo Ribeiro, ao colocar uma bandeira na cúpula de seu teatro, aqui também somos Brasil”.

Dr. Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda 
infectologista e pesquisador,
Fundação de Medicina Tropical/Manaus

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