Os personagens da peleja |
No entardecer
do dia 17 de agosto de 1933, a cidade foi invadida pela notícia de que o padre Luiz
de França Thomé de Souza, vigário interino da Catedral, havia sido espancado
pelo soldado 27º Batalhão de Caçadores, Jasen Marques do Nascimento. De fato, houve,
sim, uma troca de bofetadas (porradas) entre os personagens. A cena do pugilato
aconteceu “cerca das 19h30, próximo à Leitaria Amazonas”, situada na avenida
Eduardo Ribeiro, certamente, naquele início de noite, repleta de
frequentadores.
Para que não se imagine ser
esta postagem um exercício literário, declaro que a narrativa deste fato e sua
elevada repercussão foi retirada do opúsculo O Célebre Caso do Padre “versus” o Soldado (Manaus, 1934), que apresenta as razões de defesa de
autoria de Henrique Rubim, advogado do militar. O mencionado documento
encontra-se na biblioteca Mario Ypiranga, localizada no Centro Cultural Povos
da Amazônia.
Prosseguindo.
A cena deve ter sido hilária: de um lado, um sacerdote como praxe – de outrora –
de batina preta; de outro, o soldado do Exército, de farda verde-oliva. A
desavença foi levada à Delegacia Auxiliar da Polícia Civil, situada na rua
Marechal Deodoro, pelo referido sacerdote que apresentou queixa contra o militar,
alegando ter sido “agredido e espancado pela indicada praça”. Incontinenti, o
delegado ordenou “a abertura de Inquérito Policial a respeito
do ocorrido”.
No dia
imediato, a Manaus “católica apostólica romana” estava alvoroçada. O sacerdote,
vigário da igreja matriz devia ser defendido, desagravado e o quanto mais fosse
imperioso. O agressor, punido com rigor pela afronta. Para tanto, as
associações religiosas reuniram e se congregaram e saíram às ruas. Não somente esse
segmento eclesial se moveu, também o clero estadual obviamente, estimulados
pelo jornal de “pequeno formato, semanalmente distribuído nesta cidade como
órgão da União de Moços Católicos de Manaus, com o sugestivo título de A Reacção.” Atitude mais exacerbada
assumiu o próprio governo, pelos seus governantes, quando “entrou na briga”.
Folha de rosto do opúsculo |
Dirigiam o Estado, na condição de
Interventor federal, Dr. Waldemar Pedrosa; de secretário-geral o Sr. Raymundo
Nicolau da Silva. E de prefeito de Manaus, o Dr. Carvalho Leal. Enfim, conduzia o bispado do Amazonas, dom Basílio
Manoel Olímpio Pereira, da ordem franciscana, (1925-41).
Na praça General Osorio, onde em nossos
dias funciona o Colégio Militar de Manaus, estava instalado o legendário 27º BC, sob o comando do
tenente-coronel Mário Magalhães Cardoso Barata, onde servia o soldado nº 206 Jasen
Nascimento, da 1ª Companhia.
Resta a
pergunta: qual o motivo da ação dos contendores? Resposta, na próxima postagem.
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