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quinta-feira, dezembro 06, 2018

O PADRE vs O SOLDADO (1)




Os personagens da peleja
No entardecer do dia 17 de agosto de 1933, a cidade foi invadida pela notícia de que o padre Luiz de França Thomé de Souza, vigário interino da Catedral, havia sido espancado pelo soldado 27º Batalhão de Caçadores, Jasen Marques do Nascimento. De fato, houve, sim, uma troca de bofetadas (porradas) entre os personagens. A cena do pugilato aconteceu “cerca das 19h30, próximo à Leitaria Amazonas”, situada na avenida Eduardo Ribeiro, certamente, naquele início de noite, repleta de frequentadores.

Para que não se imagine ser esta postagem um exercício literário, declaro que a narrativa deste fato e sua elevada repercussão foi retirada do opúsculo O Célebre Caso do Padre “versus” o Soldado (Manaus, 1934), que apresenta as razões de defesa de autoria de Henrique Rubim, advogado do militar. O mencionado documento encontra-se na biblioteca Mario Ypiranga, localizada no Centro Cultural Povos da Amazônia.

Prosseguindo. A cena deve ter sido hilária: de um lado, um sacerdote como praxe – de outrora – de batina preta; de outro, o soldado do Exército, de farda verde-oliva. A desavença foi levada à Delegacia Auxiliar da Polícia Civil, situada na rua Marechal Deodoro, pelo referido sacerdote que apresentou queixa contra o militar, alegando ter sido “agredido e espancado pela indicada praça”. Incontinenti, o delegado ordenou “a abertura de Inquérito Policial a respeito do ocorrido”.

No dia imediato, a Manaus “católica apostólica romana” estava alvoroçada. O sacerdote, vigário da igreja matriz devia ser defendido, desagravado e o quanto mais fosse imperioso. O agressor, punido com rigor pela afronta. Para tanto, as associações religiosas reuniram e se congregaram e saíram às ruas. Não somente esse segmento eclesial se moveu, também o clero estadual obviamente, estimulados pelo jornal de “pequeno formato, semanalmente distribuído nesta cidade como órgão da União de Moços Católicos de Manaus, com o sugestivo título de A Reacção.” Atitude mais exacerbada assumiu o próprio governo, pelos seus governantes, quando “entrou na briga”.   

Folha de rosto do opúsculo

Dirigiam o Estado, na condição de Interventor federal, Dr. Waldemar Pedrosa; de secretário-geral o Sr. Raymundo Nicolau da Silva. E de prefeito de Manaus, o Dr. Carvalho Leal.  Enfim, conduzia o bispado do Amazonas, dom Basílio Manoel Olímpio Pereira, da ordem franciscana, (1925-41).

Na praça General Osorio, onde em nossos dias funciona o Colégio Militar de Manaus, estava instalado o legendário 27º BC, sob o comando do tenente-coronel Mário Magalhães Cardoso Barata, onde servia o soldado nº 206 Jasen Nascimento, da 1ª Companhia.

Resta a pergunta: qual o motivo da ação dos contendores? Resposta, na próxima postagem.

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