Resumo do
final da pendenga religiosa-militar, promovida pelo padre Luís de França e o
soldado EB Jasen Nascimento, quando trocaram sopapos em via pública, por motivo,
digamos, familiar. O funesto episódio aconteceu em agosto de 1933, alvoroçando
a Igreja católica de Manaus.
Ainda não me
foi possível consultar nos arquivos do Judiciário o processo-crime contra o
soldado Jasen, acusado pelo reverendo Luís de França. Apenas tive contato com
as alegações de defesa, elaboradas pelo Dr. Henrique Rubim, portanto, suscetível
de parcialidade. Na segunda parte, sob o mesmo título, repetindo o texto do
causídico, escrevi que o pugilato originou-se quando o militar encarou o
sacerdote para tomar-lhe satisfações sobre “o audacioso procedimento deste com
respeito a uma das irmãs do mesmo denunciado.”
Na defesa
do acusado, Dr. Rubim lembrou “o fervor místico dos carolas e das devotas pelos
incitamentos afoitos de um padre estrangeiro, o assaz célebre e nunca por
demais celebrado cônego [José Maria] Lemercier”. A sentença seguinte ainda pertence àquele
advogado: Lemercier teve “o nobre
intuito de glorificar o padreco que provocara o enxovalho da reputação de uma
virgem amazonense.”
A fim de
justificar a atitude do soldado, seu defensor escreveu, sob o título – A Moral do Fato:
“Quem quer que seja que,
tendo uma filha ou uma irmã, a visse atingida pela difamação pública,
originária do procedimento desleal, desonesto e criminoso de
alguém que,
abroquelado pela intangibilidade de uma investidura sagrada, (...) não deixaria
de, versando o assunto, empregar a mesma veemência, homem de honra ou vilão,
castelão ou servo de gleba, cidadão ou camponês, poderoso ou humilde, ricaço ou
pobretão, magistrado ou beleguim, nobre ou plebeu, fidalgo ou burguês,
cavaleiro ou peão”. E rematou — “como não fugiria, por certo, valente ou
poltrão, fosse qual fosse o grau ou a categoria a que pertencesse na hierarquia
social, ao impulso varonil que levou o denunciado a pedir explicações de
conduta àquele que, segundo a voz pública, tentava assaltar a castidade de uma
de suas irmãs”.
Henrique Rubim |
Recolhi tão-somente
duas ligeiras anotações sobre o padre Luís França, ambas coletadas na Cronologia Eclesiástica da Amazônia, de
autoria de Dom Alberto Ramos, 1º arcebispo do Amazonas. A primeira: Luís França
Thomé de Souza era amazonense e foi ordenado sacerdote na capital da Paraíba,
em 8 de dezembro de 1928, acredito que tivesse 25 anos, pois inexiste
informação sobre a data de seu nascimento. O incidente com o militar sucedeu
cinco anos depois.
A segunda
nota: em 23 de agosto de 1934, faleceu na Bahia o referido sacerdote. Assim, sem
qualquer outro comentário. Donde se pode concluir que o vigário transferiu-se
para aquele Estado ao tempo do julgamento do processo, naquele vergonhoso
processo eclesiástico de esconder o lixo sob o tapete. Procedimento que, em
nossos dias, vem sendo motivo de condenação na Justiça dos homens.
Encerrando: confesso
não dispor do veredito judicial.
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