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quinta-feira, dezembro 27, 2018

O PADRE vs O SOLDADO (final)



Resumo do final da pendenga religiosa-militar, promovida pelo padre Luís de França e o soldado EB Jasen Nascimento, quando trocaram sopapos em via pública, por motivo, digamos, familiar. O funesto episódio aconteceu em agosto de 1933, alvoroçando a Igreja católica de Manaus.

Ainda não me foi possível consultar nos arquivos do Judiciário o processo-crime contra o soldado Jasen, acusado pelo reverendo Luís de França. Apenas tive contato com as alegações de defesa, elaboradas pelo Dr. Henrique Rubim, portanto, suscetível de parcialidade. Na segunda parte, sob o mesmo título, repetindo o texto do causídico, escrevi que o pugilato originou-se quando o militar encarou o sacerdote para tomar-lhe satisfações sobre “o audacioso procedimento deste com respeito a uma das irmãs do mesmo denunciado.”

Na defesa do acusado, Dr. Rubim lembrou “o fervor místico dos carolas e das devotas pelos incitamentos afoitos de um padre estrangeiro, o assaz célebre e nunca por demais celebrado cônego [José Maria] Lemercier”. A sentença seguinte ainda pertence àquele advogado: Lemercier teve “o nobre intuito de glorificar o padreco que provocara o enxovalho da reputação de uma virgem amazonense.”

A fim de justificar a atitude do soldado, seu defensor escreveu, sob o título – A Moral do Fato:Quem quer que seja que, tendo uma filha ou uma irmã, a visse atingida pela difamação pública, originária do procedimento desleal, desonesto e criminoso de
Henrique Rubim
alguém que, abroquelado pela intangibilidade de uma investidura sagrada, (...) não deixaria de, versando o assunto, empregar a mesma veemência, homem de honra ou vilão, castelão ou servo de gleba, cidadão ou camponês, poderoso ou humilde, ricaço ou pobretão, magistrado ou beleguim, nobre ou plebeu, fidalgo ou burguês, cavaleiro ou peão”. E rematou — “como não fugiria, por certo, valente ou poltrão, fosse qual fosse o grau ou a categoria a que pertencesse na hierarquia social, ao impulso varonil que levou o denunciado a pedir explicações de conduta àquele que, segundo a voz pública, tentava assaltar a castidade de uma de suas irmãs”.

Recolhi tão-somente duas ligeiras anotações sobre o padre Luís França, ambas coletadas na Cronologia Eclesiástica da Amazônia, de autoria de Dom Alberto Ramos, 1º arcebispo do Amazonas. A primeira: Luís França Thomé de Souza era amazonense e foi ordenado sacerdote na capital da Paraíba, em 8 de dezembro de 1928, acredito que tivesse 25 anos, pois inexiste informação sobre a data de seu nascimento. O incidente com o militar sucedeu cinco anos depois.

A segunda nota: em 23 de agosto de 1934, faleceu na Bahia o referido sacerdote. Assim, sem qualquer outro comentário. Donde se pode concluir que o vigário transferiu-se para aquele Estado ao tempo do julgamento do processo, naquele vergonhoso processo eclesiástico de esconder o lixo sob o tapete. Procedimento que, em nossos dias, vem sendo motivo de condenação na Justiça dos homens.

Encerrando: confesso não dispor do veredito judicial.

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