CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, dezembro 12, 2018

O PADRE vs O SOLDADO (2)

NESTA SEGUNDA PARTE, 

DESCREVO O MOTIVO BÁSICO QUE LEVOU AO PUGILATO ENTRE ESSAS DUAS AUTORIDADES,  NA MANAUS DE 1933


Padre Luís França
Soldado Jasen
Aberto o devido inquérito policial, este rapidamente chegou ao judiciário, seja pela quantidade de infrações penais de então, seja para agradar ou atender a força da Igreja. Para defensor do acusado, o soldado do Exército Jasen Nascimento, foi constituído o causídico Henrique Rubim. É ele quem nos conta nas Alegações de Defesa a motivação da luta corporal.

Na Introdução de seu trabalho, Dr. Rubim assinala que o entrevero não passou de um assunto puramente pessoal, regulado entre quem, por dignidade própria, tinha o direito de pedir satisfações, na desafronta do bom nome de um membro de sua família, e – referindo-se ao sacerdote – alguém que estava no dever de lhes dar”. Ou seja, o clérigo, “por (seu) flagrante desvio da conduta moral que lhe era imposta pelas vestes talares confiadas à sua guarda pela mesma Igreja”.

Trocando em miúdos, e para começar do começo: no ano anterior (1933), o genitor do Soldado Jasen (não identificado na peça judicial), proprietário do Sítio São José do Rio Vermelho, situado no Curari Grande, nas proximidades do Encontro das Águas, convidou ao padre Luís de França para uma desobriga na localidade, quando seria celebra missa na capela sob o amparo de São José existente naquele domínio. Outros atos religiosos eram esperados, em especial a celebração de casamentos.

No sítio, o reverendo foi recebido fidalgamente pelo patriarca, dos Nascimento, que o hospedou com as “honras devidas à sua autoridade espiritual”. Por óbvio, cercou-o de gentilezas e deferências cabíveis “no convívio e na intimidade afetuosa do seu modesto lar”. Ocorre que o casal Nascimento possuía várias jovens filhas, com “todo viço e frescor da mocidade”. Logo despertaram a atenção do visitante, que se fixou de imediato na de beleza mais atraente. Dr. Rubim, patrono do acusado, para melhor salientar a situação esdrúxula, compara a investida do vigário ao “venenoso olhar de ofídio na atração, irresistível, do passarinho saltitante e descuidoso.”

A família Nascimento residia em Manaus, frequentando a paróquia da Catedral de Manaus, onde o padre Luís França Tomé de Souza era vigário auxiliar. Esse contato permitiu ao sacerdote prosseguir na conquista da jovem, cujo nome foi omitido nas Alegações. Os termos são do defensor do acusado, delineando a atuação do padre-conquistador: “Untuoso, macio, veludoso no falar, cuidadosamente composto nos gestos e maneiras, foi ele, pouco a pouco, apertando o cerco que pusera à sua pretendida”. (...) A paquera era realizada “à vista de toda a gente, de modo a parecer que não havia maldade na palestra.” 

Logo, a comunidade paroquial e, pela expansão do falatório, a cidade tomaram conhecimento desse inditoso “namoro”, passando a indagar: “Dizem que o padre vai tirar a batina e casar-se!” — “Então, quando é o casamento do padre?” — “O namoro do padre já está na Polícia!”...

Claro que todo esse comentário deve ter reverberado na Manaus de pouco mais de 100 mil habitantes, alcançando a residência do soldado Jasen Nascimento. A situação agravou-se. Pois o sacerdote não se pronunciava a respeito do caso, seja para desmentir a maledicência, preferiu manter-se em guarda, e ainda, apostando no sucesso. Desse modo, alguém da família assumiu a iniciativa de tomar satisfações com o “namorado” da jovem. Esse membro da família foi seu irmão, o soldado Jasen Nascimento. Deu no que deu.

Adiante, na próxima postagem, direi o pouco que restou nos anais eclesiásticos sobre o padre Luís França, visto que subsídios sobre o soldado Jasen Nascimento são desconhecidos.

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