NESTA SEGUNDA PARTE,
DESCREVO O MOTIVO BÁSICO QUE LEVOU AO PUGILATO ENTRE ESSAS DUAS AUTORIDADES, NA MANAUS DE 1933
Padre Luís França |
Soldado Jasen |
Aberto o devido
inquérito policial, este rapidamente chegou ao judiciário, seja pela quantidade
de infrações penais de então, seja para agradar ou atender a força da Igreja. Para
defensor do acusado, o soldado do Exército Jasen Nascimento, foi constituído o causídico
Henrique Rubim. É ele quem nos conta nas Alegações de Defesa a motivação da
luta corporal.
Na Introdução
de seu trabalho, Dr. Rubim assinala que o entrevero “não
passou de um assunto puramente pessoal, regulado entre quem, por dignidade própria,
tinha o direito de pedir satisfações, na desafronta do bom nome de um membro de
sua família, e – referindo-se ao sacerdote – alguém que estava no dever de lhes
dar”. Ou seja, o clérigo, “por (seu) flagrante
desvio da conduta moral que lhe era imposta pelas vestes talares confiadas à
sua guarda pela mesma Igreja”.
Trocando em miúdos,
e para começar do começo: no ano anterior (1933), o genitor do Soldado Jasen (não
identificado na peça judicial), proprietário do Sítio São José do Rio Vermelho,
situado no Curari Grande, nas proximidades do Encontro das Águas, convidou ao
padre Luís de França para uma desobriga na localidade, quando seria celebra
missa na capela sob o amparo de São José existente naquele domínio. Outros atos
religiosos eram esperados, em especial a celebração de casamentos.
No sítio, o reverendo foi recebido fidalgamente pelo patriarca, dos
Nascimento, que o hospedou com as “honras devidas à sua autoridade espiritual”.
Por óbvio, cercou-o de gentilezas e deferências cabíveis “no convívio e na
intimidade afetuosa do seu modesto lar”. Ocorre que o casal Nascimento possuía várias
jovens filhas, com “todo viço e frescor da mocidade”. Logo despertaram a atenção
do visitante, que se fixou de imediato na de beleza mais atraente. Dr. Rubim, patrono
do acusado, para melhor salientar a situação esdrúxula, compara a investida do vigário
ao “venenoso olhar de ofídio na atração, irresistível, do passarinho saltitante
e descuidoso.”
A família Nascimento
residia em Manaus, frequentando a paróquia da Catedral de Manaus, onde o padre
Luís França Tomé de Souza era vigário auxiliar. Esse contato permitiu ao
sacerdote prosseguir na conquista da jovem, cujo nome foi omitido nas Alegações.
Os termos são do defensor do acusado, delineando a atuação do padre-conquistador:
“Untuoso, macio, veludoso no falar, cuidadosamente composto nos gestos e
maneiras, foi ele, pouco a pouco, apertando o cerco que pusera à sua pretendida”.
(...)
A paquera era realizada “à
vista de toda a gente, de modo a parecer que não havia maldade na palestra.”
Logo, a comunidade
paroquial e, pela expansão do falatório, a cidade tomaram conhecimento desse inditoso
“namoro”, passando a indagar: “Dizem que o padre vai tirar a batina e casar-se!”
— “Então, quando é o casamento do padre?” — “O namoro do padre já está na Polícia!”...
Claro que
todo esse comentário deve ter reverberado na Manaus de pouco mais de 100 mil
habitantes, alcançando a residência do soldado Jasen Nascimento. A situação
agravou-se. Pois o sacerdote não se pronunciava a respeito do caso, seja para desmentir
a maledicência, preferiu manter-se em guarda, e ainda, apostando no sucesso.
Desse modo, alguém da família assumiu a iniciativa de tomar satisfações com o “namorado”
da jovem. Esse membro da família foi seu irmão, o soldado Jasen Nascimento. Deu
no que deu.
Adiante, na próxima
postagem, direi o pouco que restou nos anais eclesiásticos sobre o padre Luís França, visto que subsídios
sobre o soldado Jasen Nascimento são desconhecidos.
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