CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quarta-feira, dezembro 19, 2018

INCÊNDIO EM EDUCANDOS (1)



Antes era Constantinópolis, agora Educandos, o bairro cercado pelo rio Negro e por igarapés. Essa proximidade complica a urbanização e facilita a construção de barracos de madeira e de outros materiais de fácil combustão, no espaço. Isso facilita a propagação do fogo, tornando um incêndio no local de grandes proporções.

Rescaldo, compartilhado do Portal do Marcos Santos


Foi o que aconteceu anteontem 17, no início da noite, quando o fogaréu tomou conta daquele território. Chamado os Bombeiros, estes tiveram as dificuldades dobradas seja pela ausência de hidrantes no bairro, seja pelos becos e sub becos estreitos impedindo a circulação das viaturas de salvamento ou de socorro de urgência. Restou, pois, aos ameaçados pelas chamas retirar algum móvel e entrega-lo à confiança de um vizinho.

Estava escrevendo este texto quando o Jornal Nacional (JN) registrou esta calamidade, ao vê-lo a emoção me apequenou. Tomou conta de mim. A cena final (um cidadão desolado, com o enfeite natalino chamuscado nas mãos, sem dizer palavras) foi mortífera.

Afinal, eu nasci na rua Inácio Guimarães. A irmã que ainda mora no final do beco São José (hoje rua Mar de Java) desesperou-se, convocou-me, fui ao local. No entanto, somente consegui chegar junto a ela quando as forças de salvamento já haviam controlado o incêndio. Para nossa felicidade, estava ela sã e salva. Curiosidade: na semana anterior, estive na casa dela, quando fiz a foto que ilustra esta postagem, ocasião em que conversamos sobre uma possível tragédia. Vê-se na foto que as residências desaparecidas estão suspensas por arranjos de madeira tão singelos, desengonçados, a desafiar imensos perigos. Sá podiam desaparecer, e com extrema facilidade.
Beco do beco
São José

Não há como culpar os homens do fogo pelo número de desabrigados. O fundamento encontra-se no embaraço em operar naquele entrançado de vielas, de casas sobre casas, de residências coletivas, de veículos estacionados, enfim, na desordem urbanística que vige naquele trecho, e em outros tantos de Manaus. O último desastre semelhante aconteceu no Bariri, aquele amontoado de casebres à beira de um igarapé, na entrada do bairro de São Jorge.

O quadro do JN me relembrou o livro que escrevi sobre os Bombeiros do Amazonas (2013). Voltei a este para rememorar um incêndio idêntico que aconteceu no mesmo bairro há mais de 70 anos, mais precisamente em setembro de 1945. Nele escrevi: de fato, 1945 se destacou pela violência dos incêndios. A cidade ainda não se recuperara do desastre da Biblioteca Pública, quando, em setembro, as paupérrimas edificações situadas nas ruas Panair (agora coronel Paes Barreto) e Coronel Gonzaga, no bairro de Constantinópolis, hoje de Educandos, foram pulverizadas. O relato pertence ao matutino dos Archer Pinto, com "chamada" bem esclarecedora da adversidade: O pavoroso incêndio de Constantinópolis.

Recorte de O Jornal, 30 setembro 1945

“Quadro dantesco, de dor e desespero, presenciou a nossa reportagem, durante o dia de ontem, no largo trecho do bairro de Constantinópolis, assolado às últimas horas da manhã, por terrível incêndio, que se iniciou no longo arruado de casas de palha, na estrada, passando-se, depois, num salto espetacular de morte e destruição, para a rua Vista Alegre, perpendicular ao seu ponto de origem, onde se verificou, igualmente, uma destruição monstruosa de moradias de pobres trabalhadores, sendo atingidos também pequenas casas de negócios ali estabelecidas.”

Uma das casas de negócios, a Casa Suburbana, de Luís e Helena Carvalho, sofreu o desastre. A família se recuperou, transferindo depois o estabelecimento para a avenida Leopoldo Peres. Outro detalhe: as dependências da Fábrica Labor, de I.B. Sabbá, foram postas à disposição dos desabrigados. No atual desastre, o supermercado Atacadão, sucedâneo no terreno da Labor, igualmente colaborou. (leia a 2ª parte)

Nenhum comentário:

Postar um comentário