Reportagem de A Crítica, 24 abril 1956 |
Apesar da contenda, aqui
está o registro do feito de Norões, cujo evento aconteceu em 23 de abril, na
Livraria Escolar, que existiu à rua Henrique Martins.
Norões nasceu em Humaitá (AM) em 1913, e realizou seus estudos secundários em Fortaleza (CE). Em Manaus, graduou-se pela Faculdade de Direito do Amazonas, na turma de 1936. Consagrou-se como professor de Geografia do Colegio Dom Bosco e Ginásio Amazonense Pedro II. Pertenceu a Academia Amazonense de Letras. Morreu em 1971.
Outro saudoso poeta, Farias
de Carvalho, que esteve presente aquele acontecimento, escreveu a respeito uma efusiva
crônica (abaixo), ressaltando a importância da obra inaugural do colega Sebastião Norões.
Primeira festa, uma grande lição
Farias de Carvalho
Pois é. Aconteceu no
duro. Nem ceticismo. Nem indiferença. Maledicência. Má vontade criminosa. Nada
empatou que o marco fosse plantado, como nada empatará que outros se plantem.
Farias de Carvalho |
O lançamento do livro do
poeta Sebastião Norões foi uma festa magnífica. A primeira no gênero. Festa e
lição. Festa para os que já a aguardavam ansiosamente. Lição para os céticos.
Afirmativa de que no Amazonas já há uma nova consciência literária em formação,
arrebanhando poetas e prosadores para mais perto da vida. Do homem. Seus
problemas. Anseios. Lutas. Vitórias e esmagamentos. A prova é a poesia de Norões.
Que é mesmo “frequentemente”. Poesia salpicada de vivencias e de mensagens. De
caminhos. De “emoção recordada em tranquilidade”.
Nos seus sonetos e
poemas, pujantes de vida e de realidades humanas, o poeta não se deixou ficar
pendurado em nenhum balcão pegajoso de limo, com a guitarra a espelhar raios de
lua. Simples, poeta de carne e osso como outro homem qualquer, falou de
infância e de mar, de santuários e estatuetas, tudo com o gosto bom das colinas
simples. Nada de trabalhos dourados. De ourivesaria. Que o povo, de pés
descalços e barriga inchada só vê joia nas vitrines.
Poesia só.
Frequentemente. Inteiramente. Poesia sabendo a si mesma. Banhando a todos. Os
que creem. Combatem e esperam. Assistem cheios de revolta e horror a “Rosa se
despetalando”. Sob os pés do mundo. Bárbaro. Material. Inconsciente e brutal.
Jornal do Comércio, 26 abril 1956 |
Agora é cuidar da
criança. Dar-lhe, para que sobreviva, o alimento que vem do cérebro e do
coração dos homens que pensam um Amazonas novo. Integrado na clareza do
momento. Na realidade do mundo em que vivemos. Carregado de paz e de amor.
Pronto para a aparição que o resto do País reclama.
Vamos
continuar o trabalho. E obrigado, Norões, pela primeira estaca.
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