(...) O
padre Paulino Lammeier, zeloso vigário da paróquia, preocupa-se presentemente
com a responsabilidade absorvente da construção da Matriz. Convidou-me a cooperar
na campanha em prol da edificação do templo, que será dedicado à famosa
taumaturga siracusana. Algumas contribuições já surgiram, sendo mais expressiva
a do governo estadual, no valor de CR$ 20.000, (vinte mil cruzeiros).
Padre Nonato (à esq.), governador Gilberto Mestrinho (a frente) e padre Paulino e um coroinha (à dir.). O Jornal, 1960 |
Pessoalmente
entrei em entendimentos com os presidentes de três clubes sociais, que
prometeram cooperar, restando reunirem as respectivas diretorias para acertarem
planos de execução.
É evidente
que tais contribuições particulares não serão suficientes para a construção da
igreja. O alto custo do material e da mão de obra raia pelo absurdo. A Providência
Divina inspirou-me uma sugestão, que respeitosamente transmito a VV. Exas. para
os devidos fins.
A distinta
professora Lucinda Felix de Azevedo doou à paroquia de Santa Luzia um grande
terreno que pertenceu a seu falecido pai, Eduardo Felix de Azevedo. O referido
terreno possui uma área total de quatro mil, trezentos e quarenta e cinco
metros quadrados (4.345m2), com um perímetro de quatrocentos e
oitenta e dois metros lineares (482m).
Limita-se
ao norte com o igarapé da Cachoeirinha, por uma linha de 22 metros no azimute
de 55º SW; a oeste, com terras de propriedade de I. B. Sabbá, por uma linha de
220 metros no azimute 15º SE; ao sul, com terras ocupadas por diversos
moradores, por uma linha de 20 metros no azimute de 55º NE; a leste, com terras
ocupadas por diversos moradores, por uma linha de 220 metros no azimute de 13º
NW.
Esse
terreno, Senhores Vereadores, não é outro que a praça ajardinada, em que se
construiu o abrigo Salgado Filho, e que constitui o mais belo logradouro
público do bairro. Tive em mãos todos os documentos comprovantes, que se encontram
no arquivo paroquial: o título definitivo, passado pelo interventor federal
Lauro Silva de Azevedo; a Certidão do Registro de Imóveis, assinada pelo
oficial Washington Cesar Melo; e a escritura de doação, feita pela professora
Lucinda Felix de Azevedo em favor da paróquia de Santa Luzia, assinada pelo
tabelião Milton Nogueira Marques. O terreno foi medido pelo profissional Daniel
Sevalho Junior.
Feita a
presente exposição, entrego ao lucido critério de VV. Exas. a solução do caso.
Convencido estou de que o pleito encontrará boa vontade e compreensão da parte
do Sr. Loris Valdetaro Cordovil, DD. Prefeito municipal. O vigário não deseja
litígios, mas espera da Câmara Municipal e da Prefeitura uma decisão fraternal
e amiga.
Creio que a
comuna poderia arcar com o compromisso do material para a construção do templo,
e talvez da mão de obra, numa equivalência razoável do terreno paroquial, que o
povo utiliza.
A causa é
justa e nobre. Além do aspecto compensatório, que envolve a questão,
salientamos a contribuição arquitetônica do novo templo para o embelezamento do
bairro e o objetivo sublime de seu funcionamento, erguendo as almas para Deus
nas asas da fé, da esperança e da caridade. (...)
Pedindo a
valiosa proteção da insigne taumaturga sobre VV. Exas., senhores Edis,
subscrevo-me atenciosamente.
Manaus, 1º
de outubro de 1961
Padre R. Nonato Pinheiro
Nota atual: Esta
postagem atende o amigo Aguinaldo Figueiredo, festejado autor de História do Amazonas e, mais
especialmente, do premiado Bairro de
Santa Luzia. Ele certamente poderá nos informar o resultado do pleito que o
saudoso padre-acadêmico Nonato Pinheiro endereçou aos Edis, há pouquíssimo mais
de meio século.
Nessa época,
na condição de seminarista, frequentava a igreja do padre Paulino. De fato, era
insignificante, pois, pequena e de madeira, não oferecia nenhum atrativo. O próprio
vigário, um alemão, não encantava como os padres-cantores da igreja católica moderna.
Depois, “promissor” goleiro do Botafogo, do Morro da Liberdade, frequentei bastante
a praça. Ia lá para assistir ao sorteio da tabela do campeonato entre-os-bairros,
ou seja, Santa Luzia e Morro.
Enfim,
prometo ao devotado historiador santa-luziense que logo mais, com Black ou sem Red, entrego-lhe cópia desta carta. E, cantarolando com o poeta: “a
praça Castro Alves é do povo...”, em Santa Luzia, aconteceu mesmo.
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