Capa do livro |
Além de
poeta, é pintor e musicista, sendo, portanto, um artista na mais ata e completa
acepção do termo. Em Manaus realizou com pleno êxito algumas exposições de
pintura. Sua mãe, D. Ester Taumaturgo Soriano de Mello, exímia pintora, deve
ter exercido notável influência na formação artística do filho.
Anísio
Mello é um poeta que não se escravizou a nenhuma escola. Possui versos brancos,
poemas livres e sonetos metrificados e rimados. O poeta recomenda-se por
qualidades eminentes, sentindo-se sempre em seus versos um sopro de quente
inspiração. Celebra em sua poesia o vento, as flores, as tardes, as noites, os
matupás dos lagos e dos igapós, os plenilúnios, pirilampos, numa palavra, a
natureza policrômica deste Amazonas colossal, que é o eterno paraíso dos sábios
e dos poetas.
Anísio Mello, na aba do Remanso |
O autor
enfeixou no volume versos de beleza pagã e também, versos sacros, como o soneto
Hóstia, dedicado ao inspirado poeta
Padre Manuel Albuquerque em que ele celebra a “Majestade eucarística do pão
divino dos nossos altares”.
Anísio
Mello é um poeta acentuadamente introspectivo, desses poetas que não têm só
alma para cantar a natureza, com os seus lustres e as suas galas, mas possuem o
hábito do recolhimento para as reflexões profundas. Homem sem exuberâncias comunicativas,
prefere o silêncio das solitudes, onde as grandes almas se sentem bem. Ele próprio
o declara na poesia Alma de cipreste,
que é um perfeito autoretrato:
Minha alma
é como um cipreste ereto e soturno!
Sente-se
bem quando só.
No silêncio
dos túmulos
está a
meditação profunda!
No silêncio
está a pureza da hora!
A poesia é
filha do silêncio
e da
meditação.
Poesia de
silêncio é pura e toma forma.
As visões da
imaginação
se esboçam
no cérebro e acariciam
na veludez
dos gestos a alma do poeta.
O poeta
sente-se bem
e vai conversar
com a poesia,
virando poeta
outra vez.
Retratou-se
o autor nesse lanço de expressiva inspiração. Seu espírito meditativo mais se
assemelha ao cipreste contemplativo do que a uma árvore garrida de flores, e
trepidante de gorjeios. Tem alma de cipreste, porque lhe apraz o “silêncio dos túmulos”,
gerador das meditações profundas.
Agradeço penhorado
ao meu dileto amigo a remessa de um exemplar do livro, em excelente papel e nítida
apresentação gráfica. Desejo-lhe novos triunfos nas letras e nas artes, de tal
modo que afirme na trepidação de São Paulo o vigor da inteligência amazonense!
Padre
Nonato Pinheiro, da Academia Amazonense de Letras.
Letras & Livros (Jornal do Comércio, de 6 novembro
1958)Nota do “catador”: Anísio Mello somente alcançou a Academia Amazonense de Letras em 2003, quando contava 76 anos. Ocupou a poltrona azul nº 3 por somente oito anos. Neste sodalício, não teve oportunidade de dialogar com o padre Nonato Pinheiro, pois este “abriu vaga” em 1994.
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