Estátua do cabo zuavo que sempre "protegeu" a PMAM contra a greve |
Conversando com interessados no assunto, houve quem me lembrasse do cabo Anselmo, que ludibriou a esquerda e, em seguida, as forças opressoras. Talvez ele tenha sido um produto da movimentação dos sargentos, que o presidente Goulart apoiou com veemência, em 1964.
Outro fato
exemplar primevo: um comandante dos fuzileiros da Marinha que se passou para o
lado dos amotinados e, creio, foi carregado em triunfo. Tal qual aconteceu com
o general Gonçalves Dias, pateticamente transformado em liderança de
baderneiros.
A presença
de cabo na condução de greves, já deu eleição a um cabo da PM mineira. Agora, estão
ai o cabo Daciolo e o ex-cabo Prisco botando “pra quebrar”... e incendiar. Com tanto
desaforo, conseguem mesmo é abalar a disciplina e a hierarquia das corporações.
No
Amazonas, em 1999, o então governador Amazonino Mendes aposentou coronéis “incompetentes”,
e promoveu jovens oficiais. O fato produziu uma reviravolta na direção da corporação
que, acredito, seja uma das causas de tantos desentendimentos que, na última década,
conturba a força estadual.
Bem vemos o
que acontece quando um membro da corporação, de baixa hierarquia, um cabo de
polícia, conduz movimento reivindicatório. E ainda falando da Segurança no
Amazonas, aqui há uma figura bem estilosa, trata-se do sargento Pereirinha, do
clube dos sargentos.
Para
encerrar a conversa sobre tão desagradável acontecimento, fui buscar uma crônica
de Manoel Bessa (Jornal Velho: crônicas.Manaus:
Nortgraf, 2001), na qual o autor “ilustra” a importância do cabo de polícia.
O sobrinho da rapariga
Manoel Bessa
Foi numa festa lá num
pé de serra do Ceará. Quatro "cabras valentes" na porta, desarmando o "macharal" e barrando os
"furões". Só entrava quem pagasse duzentos réis (réis mesmo, porque ainda
não havia nem cruzeiro nem real). Foi quando apareceu um baixinho invocado e
foi peitando a cabroeira.
"Vou entrar e não pago, porque sou autoridade". E antes que houvesse uma reação, deu suas credenciais. "Sou sobrinho da rapariga do cabo do
destacamento da polícia". Falou, e a porta foi logo se abrindo.
Manoel Bessa, 1958 |
Pode ser piada, mas revela a
mentalidade de uma época. Quando eu exercia o cargo de juiz auditor militar na nossa PM [AM], certa
vez comentávamos entre os
oficias superiores alguns frequentes atos de arbítrio de nossos soldados. O coronel Pedro Câmara, com aquele seu humor inteligente, lembrou o dito de um seu amigo: "Se eu tivesse as amantes
que minha esposa diz que tenho, o dinheiro que meu
vizinho pensa que tenho e a autoridade que um soldado de polícia julga que tem, eu seria o dono do mundo".
Na verdade, a história de nossas PMs tem lances interessantes. Normalmente nasceram como
verdadeiras milícias, macaqueando a estrutura de organização piramidal do exército, como forças públicas a serviço dos governos
estaduais.
No sertão do Brasil, cada surra em político contrário ao Governo
garantia uma promoção. Os oficias eram de "tarimba" e só tinham alguma formação quando vinham do Exército, para poder ocupar um posto superior. Depois surgiram as
academias,
cada vez melhor estruturadas, nada deixando a
desejar em relação às academias do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Aqui no Amazonas, os primeiros "cadetes"
apareceram com as reformas empreendidas na PM nos governos de Plínio Coelho [1955-59] e Gilberto Mestrinho
[1959-63]. Hoje, quase todos estes já estão usufruindo sua justa aposentadoria, como coronéis. No
período da
Revolução de 64, se iniciou um processo
de desvio na formação de nossos oficiais PMs que eram treinados mais para enfrentar uma possível
guerrilha urbana (o que nunca
ocorreu) do que para manter a ordem pública.
Isto pode ter contribuído um pouco para distorcer a visão de alguns, que passavam a olhar o
"civil" sempre com desconfiança. Inclusive só um oficial da ativa do Exército podia ocupar o
cargo de comandante-geral de uma corporação policial militar no País. (...)
Tenho certeza que nossos atuais
oficiais,
uma
verdadeira elite, em razão do alto nível de suas academias, devem estar refletindo sobre isto. Nem o cabo (muito menos o sobrinho
da rapariga do cabo), nem o coronel, estão lá para mandar e desmandar.
Têm hoje a grande
responsabilidade de ajudar a reverter o clima de insegurança que
infelizmente domina a sociedade civil. E para tanto necessitam flexibilizar seu excesso de militarismo, o que permitirá uma maior identificação
com as comunidades, a cujo serviço se destinam.
oi gostaria de sabe mais sobre ' Daniel Sevalho Junior'
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