Faz bastante tempo. Aconteceu em março de 1956, um ano após o petróleo jorrar nos barrancos de Nova Olinda, no rio Madeira.
A descoberta foi de tal ordem encantadora para o país, que levou o presidente da República (Café Filho), enfatiotado, junto ao governador (Plínio Coelho), empaletozado, e ao bispo (dom Alberto), paramentado, além de oficiais militares, uniformizados, a enfrentar uma catraia para alcançar aquela cidade.
Logo, porém, veio o desencanto, aquele petróleo ainda não era “nosso”. É
isso que o correspondente do Times comenta no primeiro aniversário do único
poço aberto. Lembro-me que três meses depois desse registro – em junho – passei
em Nova Olinda e ainda pude recolher em garrafinha de Bromil um pouco daquele
óleo. Era autêntica panaceia, servia de unha encravada a alisador de cabelos crespos...
Compartilhei esta publicação do Jornal do Commercio (14 março
1956)
NOVA IORQUE, 13 (AM) — Há uma esperança flagrante em todas as cidades e vilas da Região Amazônica de que uma nova era esteja para alvorecer para os seus habitantes, diz hoje o Times, de Nova lorque.
O correspondente do Times
Tad Szule, escreve de Manaus que “se o petróleo jorrar em grandes volumes nesta
região – e os geólogos consideram isso possível, então será certo o alvorecer
de um novo dia para o povo da Bacia Amazônica.”
“A Amazônia, - como os brasileiros
a chamam – conheceu a opulência e a grandeza durante o período áureo da borracha
que se estendeu do século 19 às duas primeiras décadas do século 20. Foram
feitas fortunas com a rica seiva que fluía de milhões de seringueiras”.
Os refinamentos da cultura, civilização
e tudo mais que o dinheiro podia comprar penetraram na selva verde e fumegante.
Manaus, situada a 608 quilómetros rio acima, mas acessível através do seu grande
rio navegável por uma constante parada de navios oceânicos e outras embarcações,
tornou-se o centro cosmopolita da borracha no mundo.
Depois veio a queda da borracha
brasileira, no decênio de 1920/30. A borracha podia ser produzida mais barata e
melhor nas Índias Orientais. Sementes da seringueira brasileira tinham sido levadas
para lá, e a Amazônia sofreu um golpe quase mortal.
Szule escreveu que nos últimos
anos planos de desenvolvimento governamentais e locais têm trazido “nova vida” à
Amazônia. A juta e a castanha do Pará se tornaram seus principais produtos de
exportação. A indústria leve tem prosperado. Uma refinaria particular deverá entrar em
funcionamento, em Manaus, em breve, com a capacidade de cinco mil barris
diários. A refinaria usará óleo bruto trazido de jazidas peruanas por
transporte fluvial.
Continua dizendo Szule: “após
quase 40 anos de economia primária a Amazónia e Manaus... estão começando a
vibrar. Mas a economia desta região encharcada de água, provavelmente não
entrará em fase de desenvolvimento vigoroso se não receber mais assistência. É por
isso que a Amazônia reza por petróleo.
Vários poços pilotos estão sendo
perfurados em ilhas do Rio Madeira, a uns 240 quilômetros à sudoeste de Manaus.
O petróleo jorrou, no ano passado, na ilha de Nova Olinda, e prospectores
brasileiros e norte-americanos estão trabalhando com equipamentos novos em
folha.
O Times conclui dizendo que “se o
petróleo puder ser produzido em grande escala, a Amazônia pudera ter nova
bonança. Os rios oferecem canais naturais, e a exportação do petróleo da selva não
exigiria novos meios de transporte. Mas muito disso tudo dependerá da
capacidade do Brasil para desenvolver a indústria potencial.
Faz, hoje, precisamente um ano, em que brasileiros de todos os matizes pulsaram de alegria, com a notícia de que, em Nova Olinda, recôndito escondido e inóspito do Rio Madeira, jorrara o "ouro negro" brasileiro. Faz, ainda, época gloriosa para a imprensa cabocla, quando o JORNAL DO COMMERCIO e a Rádio Baré, impelidos pelo influxo de patriotismo arrojaram todas suas forças para informar, primeiramente ao Brasil, o resultado de uma operação perigosa e acima de tudo aventurosa.
A Petrobrás, naquele dia,
respondia aos espiritas pessimistas com a segurança da verdade. Através dos seus
trabalhos anônimos e até certo ponto inacreditados, conseguirá à Nação,
descobrir o petróleo amazonense. É verdade que, ainda hoje mãos criminosas procuram
derrubar, num sopro, o efeito de um trabalho efetuado entre suor e lágrimas.
Mas, felizmente, a Petrobrás não
se rendeu nem se renderá. Aos que julgam macular o dia glorioso e histórico de
14 de marco do ano passado terminarão entregando seus dias, vencidos, pela
certeza da operosidade.
Não estamos desiludidos.
Acreditamos, piamente, envolvidos com o mesmo espírito de brasileiro, que este
dia (14 de março) ficará estigmatizado na consciência dos brasileiros, com o marco
de nova era de ressurgimento econômico para a Nação.
Resta-nos, somente, augurar
melhores êxitos à Petrobrás e almejá-la a reprodução de feitos inusitados como o
do dia 14 de março, não apenas na Amazônia, mas em todos os recantos da pátria.
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