Surpreendido pelo texto do jovem Adriel França sobre o incêndio na Biblioteca Pública, divulgado na edição de hoje do Jornal do Commercio, voltei a rever meus alfarrábios. Já tratei desse sinistro em duas ou três ocasiões no Blog do coronel Roberto, e uma mais expansiva, quando cuidei dos Bombeiros do
Amazonas (livro publicado em 2013). Todavia, sempre há mais um elemento a acrescer na história dessa tragédia. Quero observar somente sobre o serviço de extinção de incêndios, que conheço bem, que era deplorável. Melhor dizer que não existia.
Vamos ao texto do autor, agradecendo-lhe pela autorização em compartilhar.
Há 75 anos, a Biblioteca Pública do Amazonas amanheceu em chamas. Naquele 22 de agosto de 1945, por volta das três horas da manhã, um incêndio iniciou no prédio destruindo uma de suas laterais.
A primeira biblioteca do Amazonas nasceu
como uma sala de leitura criada por um decreto em 17 de maio de 1870. Foi
inaugurada em 19 de março do ano seguinte.
A sala de leitura começou com pouco mais
de mil volumes, funcionando no prédio do Lyceu, na rua da Instalação, então
chamada de travessa da Imperatriz. Esse prédio não existe mais.
De lá, a sala deleitara foi elevada a
condição de Biblioteca Provincial, pelo presidente da província José Lustosa da
Cunha Paranaguá (1882-84), e inaugurada em 25 de março de 1883, passando a
funcionar no consistório da Catedral de Manaus, com acervo de mais de cinco mil
volumes.
Depois os livros foram levados para uma
sala do novo prédio do Lyceu, atual Colégio Amazonense Dom Pedro II. A
biblioteca só ganhou prédio próprio, este, na rua Barroso, em 1910, com o
acervo sendo transferido para o prédio a partir de 1911, e a inauguração
ocorrendo em 1912.
Quando se iniciou o incêndio, em 1945, na
parte superior do prédio funcionava a Assembleia Legislativa, mas devido ao Estado
Novo (período ditatorial imposto por Getúlio Vargas), não estavam ocorrendo as
sessões plenárias. Na ala inferior, no canto esquerdo, na esquina da Barroso
com a Sete de Setembro, se encontrava o acervo do Arquivo Público, e do outro
lado, na esquina da [rua] Henrique Martins, estava guardada parte do acervo
bibliográfico do prédio. Este lado foi totalmente consumido pelo fogo, que
destruiu desde o teto até a parte subterrânea da construção.
Em Alexandria, a grande biblioteca que a
cidade egípcia possuía, foi consumida pelo fogo, tal qual com a Biblioteca
Pública do Amazonas Aqui, ao menos, salvaram-se 60 obras que o teatrólogo Gabes
de Medeiros havia retirado de lá para uma exposição. Genesino Braga, em seu livro
Nascença e vivença da Biblioteca Pública do Amazonas, contou como foi a
cena dantesca do incêndio. O Corpo de Bombeiros naquela época era defasado e
houve atrasos para o controle das chamas.
Iniciou-se uma campanha popular para
refazer o acervo bibliográfico do local. O próprio interventor do Estado,
Álvaro Maia, também contribuiu para que a biblioteca se recuperasse do
sinistro. Recebendo doações à porta do hoje Colégio Amazonense Dom Pedro II, a
biblioteca reabriu em 1947 com um número maior de obras do que havia perdido.
Agora o acervo contava com mais de 40 mil volumes e Genesino Braga passou a ser
seu diretor.
Atualmente a Biblioteca possui o
expressivo número de mais de 200 mil volumes em seu acervo, e uma das salas
leva o nome de Genesino Braga, o maior responsável em cuidar da instituição
após o ocorrido. Que a Biblioteca nunca mais nos dê outro susto como aquele e
continue ainda por longos anos contribuindo para o engrandecimento cultural e
intelectual do povo do Amazonas.
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