Ensaio sobre a formação de oficiais na Polícia Militar do Amazonas, em sua primeira parte.
Quartel da Praça da Polícia, ocupado pela PMAM entre 1890 a 2002. Hoje, Palacete Provincial |
A formação de oficiais concretizada na Polícia
Militar do Amazonas suportou alentado atraso (e quanto!), ultrapassando várias
fases até o estabelecimento de sua própria Academia, em 2002. Não obstante sua
longa existência, posto que a corporação foi criada em 1837, antes mesmo da
instalação da província amazonense. A indigência da província logo impôs a dissipação
da Força Estadual, até que em 1876 esta foi recomposta e, desde então, segue
assinalando sua respeitosa presença nos espaços amazonenses.
Cabe inquirir: como a corporação provia
seu corpo diretivo, ou seja, como se organizava com os oficiais? No primeiro
instante de sua organização, o Lugar da Barra, a denominação primitiva, crescia
ainda na beira do barranco, cercada de igarapés e acolhendo aos muitos indígenas
na sua ilharga. Distante de tudo e de todos, Manaus somente podia contar com o
material e pessoal existentes, porém, escassos. A segurança pública era efetivada
pela Força Terrestre, com uma marcante deficiência de pessoal. Reservado aos
homens, poucos eram os voluntários para o serviço de policiamento, desse modo,
restavam engajados os analfabetos e os arrivistas (alguns estrangeiros).
A extração do látex trouxe um descomedido
alento ao território na virada do século 20, no qual a fortuna obtida
impulsionou a administração pública em todos os rumos, atraindo imigrantes
daqui e de além mar. Evidente que a Força Militar Estadual foi contemplada. Com
a instalação da República (1889) e o usufruto da “fase áurea da borracha”, o
estado do Amazonas tomou forte impulso. Vejamos apenas a evolução da Polícia
Militar, então denominada Regimento Militar do Estado, título este conservado entre
1896 e 1906.
O corpo de oficiais era integrado por
oficiais do Exército, em particular no comando, e de cidadãos escolhidos ou
indicados ao governante, segundo lhe permitia a legislação, e, enfim, os provenientes
da classe subalterna dos sargentos. No fundo mesmo, as promoções ocorriam
devido a afeição e o compadrio (no linguajar castrense: a peixada). Portanto,
inexistia a formação de oficiais.
Encerrado o boom da goma elástica
(cerca de 1920), tendo a borracha mudado de continente, a derrocada tomou conta
do Estado. Órgão estadual, a Força Pública foi no banzeiro, com a redução de
efetivo e de soldo, e enfrentando um período desativada (1930-36), até alcançar
o fundo do leito do igarapé na metade do século passado. Quanto aos oficiais: persistiam
incorporados seguindo o preceito consuetudinário, com ligeira distinção, o acolhimento
de oficiais R/2, sendo o primeiro deles formado no CPOR (Centro de Preparação
de Oficiais da Reserva), sediado em Belém (PA), turma de 1940; outros vieram do
NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva) pertencente ao 27 BC, turma de
1942/43.
Além disso, é conveniente registrar que o
primeiro oficial a concluir o CAO (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) foi o então
capitão Omar Gomes da Silveira, na PMEG (Guanabara, depois RJ), em 1954. Este
oficial, quando tenente-coronel, assumiu o comando-geral da corporação em 1967.
A promoção, que amiúde serve de pretexto
para suspeita ou disputa acirrada entre camaradas, já continha regras fundamentais,
algumas bastante vagas, todavia, cumpridas com rigidez. Inexistia nem a figura
do oficial excedente nem do agregado, tão comum em nossos dias. Em 1952, a lei
21, ao estabelecer as “normas para o ingresso no oficialato da PM e para as
promoções”, tornou-se um marco incisivo desse processo.
Em 1959, ao assumir o governo do Estado,
o professor Gilberto Mestrinho nomeia coronel comandante da Polícia Militar ao
doutor Assis Peixoto. Ao final desse ano, a corporação promove a seleção de
candidatos ao CFO (Curso de Formação de Oficiais) da PM da Guanabara. São
selecionados três moços: Pedro Câmara, Pedro Lustosa e Hélcio Motta. Tornam-se,
pois, os primeiros alunos, adiante, os cadetes e, enfim, os oficiais da PMAM
com formação apropriada.
Essa experiência exibiu à corporação o
elevado proveito em enviar seus candidatos a oficiais para outras coirmãs,
possuidoras de Academia. Era conveniente para ambos os lados, e a força
amazonense aproveitou a ocasião. Adiante, com a instalação do Regime Militar
(1964-85), que criou a IGPM (Inspetoria Geral das Polícias Militares) para
gerenciar as polícias estaduais, em 1969, esse intercâmbio expandiu-se, tanto
que onde houvesse escola, havia amazonenses. Espalharam-se pelo país inteiro e,
tem mais, pelo continente, pois uma turma concluiu o CFO nos Carabineiros do
Chile (1985).
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