CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, julho 27, 2020

LUTO: CORONEL OKADA (1946-2020)

Coronel Okada

Faleceu hoje o coronel PM Odacy de Lima Okada, depois de enfrentar longamente uma luta contra o câncer. 

Qual um samurai, não se rendia, estava sempre dilatando o desfecho da disputa, apesar de abatido pelos tantos desconfortos. Foram anos de provação. Não tive a consistência emocional de visitá-lo, em particular nesses derradeiros momentos da luta. Sabia de seu estado de saúde e das complicações pelos amigos, e torcia pelo melhor desenlace.

Encontrei Okada no início do nosso Serviço Militar obrigatório, em 1965, portanto, dobrado o cabo do cinquentenário desta e de outras efemérides. Assim foi com o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva, no antigo 27 BC; com nosso ingresso na Polícia Militar do Estado, em 1966; e no Curso de Armamento (eu) e de Moto-mecanização (ele), na extinta Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, no ano seguinte.
Ficha do NPOR (1965)
A formatura impõe certo bullyng aos militares de baixa estatura, de metro e sessenta, meu caso e dele. Porém, essa “discriminação” com os baixinhos nos aproximou enormemente, pois éramos os cerra-fila, junto com o Ruy Freire. Este trio ingressou na PMAM e hoje desfruta da benevolência do Estado, ultrapassados os “setentanos”. Foram trinta anos de severa camaradagem. Ele muito me auxiliou com sua palavra peculiar e terminante.


Há cinquenta e três anos estava com o Okada, no Rio, encerrando os cursos na EsMB, ao cabo daquele ano na (então) Cidade Maravilhosa. De regresso, estivemos sempre próximos, tendo a cidade de Manaus como menagem, pois a Polícia Militar ao tempo não dispunha de grandes efetivos no Interior. Creio que ele esteve como delegado de Polícia em Parintins, na ilharga de Maués, de onde era originário, filho de Hideomi Okada e Zelinda Batista de Lima.

Okada e governador Areosa
Após o retorno do Rio, Okada foi designado para integrar a Casa Militar do governador Danilo Areosa (1967-71). E lá estava ele de ajudante de ordens, ao lado de sua excelência para cima e para baixo, sem essa atual quantidade de seguranças. Foi promovido a capitão em setembro de 1969 e a major, cinco anos depois.
Efetuou os cursos básicos de Aperfeiçoamento e Superior de Polícia, na PM de São Paulo. Esteve como delegado de Polícia em Parintins, quando se apaixonou pelo Garantido. Novamente promovido, em dezembro de 1978, agora a tenente-coronel.


Roberto e Okada

Nosso derradeiro trabalho em conjunto aconteceu no Carpo de Bombeiros da PM, no quartel de Petrópolis, que ele comandou entre 1979 e 1981. No ano seguinte, foi ano de eleições, a primeira a permitir a escolha de um governador, após longo período. A PM passou por uma turbulência política, grande parte provocada pelo comandante-geral – oficial do Exército, que desejava eleger o candidato situacionista. Todavia, venceu Mestrinho, opositor, de interesse dos policiais.

Nesse meio-tempo, Okada passou a comandar o CPC, que era o órgão responsável pelo policiamento da Capital, na condição de coronel, promovido em 1983. Em setembro do ano seguinte, os integrantes da Casa Militar (entre os quais me incluía), opondo-se à uma decisão do governador, retiram-se abruptamente do Palácio Rio Negro, e retornam ao quartel. O Chefe do Executivo, então, acolhe a indicação do coronel Odacy Okada para a chefia da Casa Militar, função que ele exerceu em três governos (1984-91).

Enquanto chefe da Casa Militar, foi nomeado como interino para o comando-geral da PMAM, antecedendo a posse do coronel Romeu Medeiros (1989). Sua última função foi na Prefeitura da capital, chefe do gabinete militar do prefeito Amazonino Mendes. Nessa ocasião, Okada colaborou comigo, concedendo-me passagens ao Rio, a fim de entrevistar familiares de Candido Mariano.
Enfim, as nossas conversas rarearam, cada qual em seu cada qual, aproveitando a aposentadoria. Ele, inspirado adepto do Garantido, não perdia um festival. No entanto, somente hoje, ao me despedir dele na funerária, descobri pela bandeira do clube estendida, sua paixão pelo Botafogo carioca.

Gratíssimo pela camaradagem que nos aproximou e nos permitiu bons momentos, passados na corporação de tantos saudosos amigos: Neper, Ilmar, Câmara, Hilário, entre outros, que nos precederam e nos impulsionaram na vida profissional. À esposa e filhos e netos, meus sentimentos, assegurando-lhes da nobreza de nosso coronel Okada. Até a eternidade!




Um comentário:

  1. Obrigado pela homenagem Cel. Roberto, me emocionei. Nem eu sabia com tantos detalhes a carreira do meu pai. No dia do velório dele tive a dimensão de quem ele era e o quanto significava pras pessoas e pra sociedade amazonense, pois pra nós da família sempre foi o melhor pai do mundo! Abs!

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