Dois personagens da história do Amazonas
se encontram neste artigo: Genesino Braga, seu autor, e Candido Mariano, o
homenageado.
Capa do livro
Catador de papeis da história amazonense me
levou a escrever sobre ambos os personagens. Primeiro, como oficial da Polícia
Militar estadual, desvendei o mistério que cercava o combatente de Canudos. Morto
em 1941, na Capital Federal, acolá o encontrei em uma parede do cemitério
famoso de São João Batista. Recomendei ao comandante-geral da época que promovesse
o traslado dos restos mortais de Mariano, para sepultá-lo junto aos heróis do
Bombardeio de Manaus (1910), em cuja lápide a PM anualmente homenageia todos seus
mortos. Lamentavelmente, nada foi feito!
Quando do centenário de nascimento de
Genesino Braga (2006), a Academia Amazonense de Letras instituiu um concurso
com este tema. Novamente, o catador de papeis e dois acólitos foram à disputa. Vencemos
o concurso, levamos o prêmio monetário, porém, a publicação do livro entrou
para as calendas. Confesso que GB merece bem mais do quanto eu produzi,
pesquisei ou pude registar naquele texto. Foi um cronista de profunda pesquisa
e bom texto, compartilhando larga visão do Amazonas de ontem e do futuro.
Esta artigo circulou no Jornal do Commercio, edição de 7 de abril de 1974, por ocasião do aniversário da PMAM.
Fragmento da publicação no Jornal do Commercio |
Mantendo alçada a memória de seu soldado
excelso, o grande Cândido Mariano, a Policia Militar do Amazonas perfilou-se em
continência a uma pequena rua isolada do brouhaha, do centro mercante internacional
de Manaus, e ali fez repor, entre hinos e clarinadas de exaltação cívica, as
placas com o nome do seu bravo Comandante em Canudos, que haviam sido ilegal e
solertemente por outras substituídas, num desses processos que retratam a baixa
qualidade de certas gestões comunais.
Ano 137° da criação da Guarda Policial do
Amazonas, que fora o núcleo embrião da Polícia Militar do Amazonas, evoluindo
através dos tempos, com os Batalhões, os Esquadrões, os Regimentos, até a realidade
esplêndida que hoje se ostenta na altiva e ufana corporação, os atuais
seguidores de Cândido Mariano saudaram-no com um programa de comemorações em
honra ao 4 de abril, com ponto culminante na reparação da ofensa que uma leviandade,
ou criminosa omissão, de elementos oficiais irresponsáveis da Comuna deixou que
se constituísse sobre a memória venerável do herói de Canudos.
E a reparação necessária, imposta pela
força da tradição e do orgulho amazonenses, fizeram-na de ideal aceso os jovens
oficiais da Polícia Militar do Amazonas, num gesto que não só os dignifica e os
coloca ainda mais alto no respeito e na admiração da família amazonense, mas
também adverte que se manterão alertas, doravante, em defesa de tudo o que
expressa a nossa tradição, o nosso passado, as nossas heranças culturais, os nossos sentimentos de amor à terra,
— não permitindo eles que a filosofia vã, cínica e fútil do “já era”, ou o desapreço
da descomedida e bem sôfrega gente chegada, de cambulhada com o desenvolvimento,
venha destruir os nossos monumentos, os nossos templos, os nossos troféus de lutas, as nossas memórias, as nossas
saudades e os velhos troncos de fundas raízes que robustecem, perfumam e seivam
a alma de uma sociedade tricentenária.
Candido Mariano – o celso nome que voltou a honrar esta cidade numa
de suas ruas, quando já deveria estar perpetuado nó bronze a sua figura de
bravo (cadê a estátua de Ajuricaba, de Lobo D’Amada; de Eduardo Ribeiro?...)
Cândido Mariano, dizíamos, conduzira a vitórias sucessivas, como seu tenente-coronel
comandante, o 1º Batalhão de Infantaria da Polícia Militar do Amazonas, que se
fora incorporar às Forças Expedicionárias Federais de extermínio à rebelião dos
fanáticos de Antônio Conselheiro, em Canudos, no sertão da Bahia.
Partindo de Manaus a 4 de agosto de 1897,
com um efetivo de 259 praças e 24 oficiais, o Batalhão do Amazonas chegou à Salvador
a 21 dó mesmo mês, e ali o seu comandante o apresentou ao ministro da Guerra. E
a 16 de setembro, depois de muito caminhar, tomava posição no Alto da Favela, em
frente a povoação de Canudos, "antro dos bandoleiros e assassinos que
tantas vítimas já tinham feito aos nossos irmãos de armas e de crenças: os heroicos
oficiais e soldados do Exército Brasileiro", — relatoriava, mais tarde, o
chefe militar amazonense. Desde então, começou
a avançar sobre Canudos. Atravessou o [rio] Vaza-Barris e foi conquistando palmo
a palmo, sob intensa fuzilaria da jagunçada, a cidadela inimiga. Depois de
muitas cruentas refregas, veio o combate final, que assim no-lo conta Cândido
Mariano, em seu relatório.
O batalhão do Amazonas desfalcado de 9
dos seus bravos tombados em combate e com os seus mutilados, chegou a Manaus a
8 de novembro de 1897, sob festas e aclamações as mais ruidosas da população. Narra um
jornal da época: “A uma hora da tarde de anteontem, depois de muitos dias de impaciente
espera, caiu como um raio por toda a cidade, a notícia de que o vapor que conduzia
o glorioso batalhão amazonense de volta da Bahia, vinha entrando.” (...)
Dois dias após, a 10 de novembro, a Intendência
Municipal de Manaus, por indicação do intendente Costa Tapajós, aprovava o
Decreto nº 6, dando o nome de Cândido Mariano à rua do bairro do Caxangá, entre
as ruas hoje de Jonatas Pedrosa e de Visconde de Porto Alegre, e inserindo na
ata em nome do povo, um voto de congratulações com os vitoriosos soldados amazonenses.
Repondo agora o nome do grande soldado nas
placas da rua onde o povo de Manaus, em delírio há 77 anos, lhe abrira o coração,
exultante e agradecido, ali perpetuando-o para a consagração e o respeito de todas
as gerações futuras, a Polícia Militar do Amazonas não só impôs o culto que todos devemos à memória do seu soldado excelso,
mas se constituiu, sobretudo, em corporação guardiã, defensora e protetora dos
valores da tradição e da história amazonenses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário