CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, junho 27, 2020

CARTA DE AMIGO

Ainda no meu aconchego (para não dizer isolamento), revisei a carta recebida do saudoso amigo Adelino Brandão agradecendo a remessa de meu livro, quando da comemoração do Centenário de Canudos (1997). Lá pelas tantas, depois dos elevados elogios, ele indicou-me uma falha: a data de nascimento da esposa de Euclides da Cunha. Confesso, apenas segui a corrente. O erro ocorreu na indicação do nascimento de Anna Emília Ribeiro, esposa de Euclides, que sucedeu em Jaguarão (RS) em 18 de junho de 1872. E, quando de seu casamento com o escritor em 1890, possuía 18 anos! história do encontram neste Afinal, amigo Adelino, 23 anos depois, efetuei a retificação. Naquela quadra, tivesse eu me empenhado um pouco mais, teria lido o trabalho do amigo sobre a querela suscitada pelos familiares de Anna (esposa de Euclides) e evitado o equívoco. Três livros circularam à época, final de 1980 e metade de 1990, discutindo minúcias conjugais. A TV Globo aproveitou o material e exibiu uma série sobre Euclides.


Fragmento da missiva

CARTA
Jundiaí (SP), 29/10/97
Caro amigo e confrade coronel Roberto Mendonça
Recebi seu livro Cândido Mariano & Canudos, bem como as fotografias e a carta honrosa que vieram como ele. Muito obrigado por tudo.
Seu livro, oportuníssimo, está muito bonito. Bonito e bom. Assim que o recebi, comecei a lê-lo, sabendo, como sei, das qualidades do autor; estou na pg. 67. Logo terminá-lo-ei.
Sua documentação é excelente. O método impecável. O estilo é de quem sabe escrever. Aliás, não existe HISTÓRIA, sem “estória”, isto é, sem qualidades poéticas ou de narrativa, segundo já observavam os gregos.
Seu trabalho é um dos grandes livros que tivemos, neste ano de comemorações do Centenário de Canudos. Ótimo, mesmo. Parabéns. Porque o amigo escreve bem, e com ciência, é que tomo a liberdade de sugerir faça uma correção á nota nº 36, da pg. 51, quando fala de Anna Emília, filha do general Sólon, e que veio a casar-se com Euclides da Cunha. D. Anna não tinha 14 anos quando se casou. Tinha quase 18.
Eu não sei onde o amigo achou essa data, ou que fonte se abeberou. Sei da idade correta da mulher do escritor, porque, ao escrever Águas de Amargura (Rio Fundo Editora, Rio de Janeiro, 1990) relato dos últimos dias de vida de Euclides, mandei buscar uma copia da Certidão de Batismo de D. Anna, em Pelotas (RS), reproduzi o documento. Fi-lo para refutar as alegações de Dilermando e seus descendentes, que justificavam o adultério da mulher, dizendo que D. Anna casara “muito nova” e não “sabia o que estava fazendo”, por isso aceitou a corte de Dilermando e passou a dormir com o cadete. Os biógrafos aceitaram a mentira, que foi repassada. Mas ela não tinha, mesmo, 15 anos. Era maior e sabia o que estava fazendo quando se casou.
É claro que isto não tem nada a ver com o seu livro, que nada perde neste ou noutros eventuais pormenores. Mas nós somos assim mesmo, cheio de exigências, quando fazemos trabalho sério, e não sensacionalismo efêmero para a mídia.
Seu livro merece estar em todas as livrarias do Brasil e na bibliografia histórica e bibliotecas. Gostaria de publicar alguma coisa sobre ele, nos jornais de Manaus, será que A Crítica publicaria?
Espero receber sempre notícias suas, tão boas quanto estas. Lamentavelmente, o nosso Pará não fez nada de semelhante. Porcaria de governo... nem as Universidades paraenses, pelo que eu saiba.
Um forte abraço do colega e admirador
Adelino Brandão


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