CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, março 08, 2025

ARMAZÉM COLOMBO: MANAUS

Existiu na esquina (ao tempo era no “canto”) da av. 7 de Setembro com a rua Marechal Deodoro o Armazém Colombo, cujo slogan era “as três bocas de fogo contra carestia”. Desapareceu em 1973, após 68 anos de existência, em decorrência do desaparecimento de seus proprietários. Esta postagem extraída de A Crítica (19 mar. 1973), conta um tanto daquela empresa. 

Foto do referido matutino

Na parede uma faixa “Armazéns Colombo em liquidação. Aproveitem”, este anúncio marca o fim de uma tradição no comércio de Manaus. Os “Armazéns Colombo”, após 68 anos de atividade vão fechar suas portas, abandonando o tradicional canto da 7 de Setembro com a Marechal Deodoro. Durante muitos anos foi o ponto alto do comércio amazonense, onde qualquer um poderia adquirir confecções e perfumes franceses.

A ORIGEM

Os "Armazéns Colombo” surgiram em 1905, graças ao entusiasmo de um comerciante português, o fundador José de Souza Azevedo. Nascido na cidade de Batalha em Portugal, o comerciante veio para o Brasil e radicou-se na Amazonia, criando as “Casas Colombo”, uma pequena loja na 7 de Setembro quase esquina da rua da Instalação.  

A firma funcionava inicialmente num prédio de duas portas, onde existia também uma pequena alfaiataria. O proprietário residia na parte superior do prédio onde hoje está localizado o Palace Hotel.

Homem trabalhador e econômico, o comerciante José de Souza conseguiu ampliar seus negócios aos poucos, sempre com a colaboração de sua esposa, dona Armanda Parente de Azevedo. Era a firma Azevedo & Cia., proprietária das “Casas Colombo'”.

A história dos “Armazéns Colombo” apresenta diversas etapas. Logo no início quatro elementos faziam parte da sociedade: o comerciante José Azevedo, sua esposa Armanda; a filha Angelina de Azevedo Moura Ramos e ainda Antonio Batista de Carvalho. Aos poucos a sociedade foi sofrendo transformações sensíveis. Antonio, um dos sócios saiu. José faleceu em 1969; vitimado por um colapso. Sua filha Angelina desistiu. Ficou a esposa dona Armanda Parente, que faleceu em 1972. A organização ficou então sob a responsabilidade da senhora Janet Parente de Medeiros, irmã de dona Armanda. 

Dona Janet ainda hoje é sócia dos “Armazéns Colombo Limitada” e se encontra em Recife, acompanhando de longe o processo de dissolução da sociedade. Seus irmãos, dona Maria de Boaventura Batista, Hugo, Claudio e Maria de Lourdes cuidam dos últimos momentos da tradicional loja.

Os funcionários mais antigos da casa não sabem precisar quando o Colombo passou a funcionar na 7 de Setembro com a Marechal Deodoro. Dona Aurea Moraes Freire, de 54 anos, entrou na firma em 1937. “Naquele tempo nós tínhamos uma alfaiataria funcionando nó prédio e as três secções de vendas. As três secções:  Louvre, o Fogo sem fumaça e Colombo vendiam artigos diversos. O primeiro com perfumes e tecidos franceses; o Fogo sem fumaça com chapéus e outros artigos pequenos e o Colombo com artigos para homens e crianças. O prédio pertencia mesmo à dona Armanda Parente, e até há 25 anos ainda funcionou a alfaiataria, instalada nos altos do prédio.

Os Armazéns Colombo iniciaram em Manaus a entrega a domicilio. - Seu proprietário, José Azevedo, criou a figura do Papai Noel para entregar as compras na véspera de Natal. Ele ficava na porta da loja conversando com as crianças. Hugo lembra parte da história: Seu José comprou um carro americano, para entrega a domicilio. Foi um dos primeiros carros a circular em Manaus.

Os Armazéns Colombo graças ao espírito de seu proprietário conseguiram sobreviver na grande crise da borracha. Muitos estabelecimentos comerciais fecharam as portas e os Armazéns estiveram no caminho. No final acabaram vencendo a luta. “Seu” José faleceu aos 89 anos de idade. Sua esposa o seguiu em 1972. Começou aí o processo de dissolução da sociedade.

Na tradicional casa da [avenida] 7 de Setembro, os antigos funcionários, modelos da cortesia cabocla vivem os últimos momentos de uma loja que é tradição no comércio amazonense. O povo não mais vai ver “as três bocas de fogo contra a carestia”. O prédio vai ser vendido e existem diversos empresários interessados na transação. O Armazém Colombo encerra uma página curiosa e brilhante do passado pondo um ponto final numa tradição de 68 anos.

domingo, março 02, 2025

POESIA NO DOMINGO

 O poema de hoje pertence ao paraense de Abaetetuba, João de Jesus Paes Loureiro (1939-), que o publicou em Epístolas e Baladas (Belém: Grafisa, 1968).
João J. Paes Loureiro

 


 

CHICO,

escrevo esta carta,

neste Natal,

depois que a Banda passou.

Depois que a Banda passou

e com o ela passar,

passou tudo o que em mim,

é desejo de fuga,

acalanto de sono,

tentativa de adeus.

Escrevo

depois que a Banda passou

e, assim, com ela,

passou tudo o que em mim

é cidade interior

em cuja praça

– onde a infância ainda é uma verdade –

passa a banda atual de nosso outrora.

Chico,

todas as coisas passam

como a Banda

e como a Banda,

todas as coisas ficam.

Passam e ficam as coisas

de amor e desamor,

de dar e receber,

de ódio e medo,

que a vida é alguma coisa

que gasta e se acumula,

nos espinhos do onde,

na esquina dos porquês...

Mas há coisas que devem só passar:

o amor que oprime e não liberta

– embora com o oprimir

ainda seja amor –

o pandulho do orgulho,

o chaveiro do cárcere,

as glórias inglórias,

a bota na garganta,

o imposto silêncio ao justo

– o qual se silencia, não é justo –

o que é fome na infância.

(E há especialmente uma,

Chico,

uma infância com fome,

a que não viu a Banda e o Natal passarem...

E, no entanto, a Banda passou

como há de o Natal passar.

O homem sério que contava dinheiro,

voltou a contar juros e alugueis.

A namorada, que contava as estrelas,

voltou a contar o salário do mês.

A nossa gente sofrida

reencontrou-se com a dor.

A rosa triste que abriu,

despetalou.

E a grande angustia ordenou sua batuta

e a Banda foi baixando, baixando de som...

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

puxando nossa alegria.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

deixando o que em nós sorria.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

levando nossa agonia.

 

Há de haver um Natal

E a Banda passará

trazendo amor cada dia.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

cantando de amor, tão bela,

que a moça triste

que é a nossa esperança hoje,

há de sorrir em todas as janelas.