CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, março 23, 2025

POEMA DOMINICAL E UMA TRAGÉDIA

Há 98 anos, em 22 março 1926, em acidente ocorrido no rio Solimões, foi a pique o navio “Paes de Carvalho” da frota da Amazon River, violentado por incêndio que resultou em considerável número de mortos e feridos, e amargurou sobremaneira o Estado. Na capital, a revista Redempção circulou ao final daquele mês em Número Especial, delineando a tragédia, a partir de informes dos sobreviventes.

O magazine encerrou seu editorial pondo-se “genuflexa nesta comovida homenagem, se irmana em sincera dor, em religioso respeito, em piedade, em solidariedade...” Enfim, trouxe para expressar aquele pesaroso momento o poeta Raimundo Monteiro (1882-1932), que assim versou:

Página da revista
                                FLAMAS

 

Aurora. Vermelhão de incêndio. Fogo e brados.

Ardendo no claror das chamas aurorais,

Como um louco tritão incandescente, o “Paes

De Carvalho” deslumbra os peixes assustados!

Circundando o vapor flamívomo, queimados,

Alucinadamente os ecos matinais

Despertando ao pavor de dissonâncias tais,

Morrem, na grande luz, seres desesperados!

Flamejantes florões festoando à tona d’água

Recordam, na ignição primeva, frágua a frágua,

Milhares de vulcões abrindo em rubros lises!

Alvorece. Ao rosear da antemanhã, lá no alto,

No longínquo azulor do céu que tanto exalto,

Vésper têm por brandão mortuário os infelizes...

 

Raimundo Monteiro

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