A crônica de Robério Braga neste último final de semana, em A Crítica, trouxe a nossa ciência as ações produzidas em prol do desenvolvimento do Amazonas por Ephigênio Salles. Uma das ações foi a participação dele contra os conselheiristas (1897), tema de minha predileção.
Recorte de A Crítica, 15/16 maio 2021
Dentre os muitos embates levados a cabo no Arraial de Canudos, nos anos primeiros da República brasileira, por extremo equívoco do governo que se instalava e que mancharam a nossa história com a grave nódoa de luta entre irmãos, um deles teve a participação de forças da polícia amazonense, partida de Manaus com salva de tiros, bandeira estadual recém-lançada, armas e munições, a qual foi ao encontro de forças federais destinadas a derrubar a resistência de Antonio Conselheiro, tal como sucedeu.
Sob o comando do
coronel Bento Thomás Gonçalves e do major Lídio Porto, dentre tantos militares,
um brasileiro das Minas Gerais formou na linha de frente. Anos mais tarde,
ainda jovem, sediado em Manaus, faria longa e proveitosa carreira política e na
imprensa diária como repórter e diretor de jornal.
Apaixonando-se pelo
Amazonas e crendo firmemente em futuro glorioso que sempre era anunciado por
entre toques firmes de trombetas, esse rapaz alto e elegante se aventurou em
outro embate, tomando armas para combater na guerra do Acre, integrando uma
expedição que, composta por inexperientes, mas bravos soldados, de tão frágil e
apressada foi chamada de "expedição dos poetas" porque reunia mais intelectuais,
políticos e jornalistas do que combatentes experimentados nessas agruras
sangrentas.
Pelo seu passado ou
por sua firmeza e teimosia em defesa das terras amazonenses ameaçadas por
interesse estrangeiro, ele assumiu o importante posto de capitão-assistente do comando
das nossas forças, sob as ordens de Orlando Corrêa Lopes e em par com João
Barreto de Menezes, Trajano Chacon, Pery Delmare, Manoel Domingos Gomes, José
Maria dos Santos, dentre outros que retomaram felizes pelo dever cumprido, mas
sem conseguir assegurar nosso patrimônio fundiário e altamente produtivo.
Ephigenio Salles |
Depois, sem
apartar-se do Amazonas, cursou direito na Faculdade Nacional do Rio de Janeiro,
e, retornando a Manaus, em 1910 estava novamente de arma em punho na defesa da
legalidade e em favor do governo de Antonio Bittencourt contra o bombardeio
levado a efeito por navios da Marinha do Brasil, por ordens de Pinheiro
Machado. Na ocasião esteve sob o comando do coronel Pedro José de Souza perfilado
com Adriano Jorge, Júlio Pedrosa Filho, Pedro Guabiraba e outros.
Em 1917, mais uma
vez, armou-se sem capa e sem espada, mas com arma pesada, para defender a posse
de Pedro de Alcântara Bacellar, governador eleito, ameaçada pelo intenso
provocado por opositores, numa intentona que foi difícil de vencer e assustou a
cidade durante horas.
Contador do foro,
por concurso, diretor do jornal "O Diário do Amazonas", deputado federal
em vários mandatos a partir de 1911 e até 1925, secretário da Câmara Federal e
membro da Comissão de Instrução Pública, terminou eleito governador do Estado
em 1925. Em 1929 chegou ao Senado da República em cujo mandato foi alcançado
pela revolução getulista e por esta levado à Junta de Sanções - o tribunal
revolucionário - no qual foi absolvido por sentença prolatada por J. J. Seabra,
mas, mesmo assim, não deixou de ser perseguido pelas forças simpáticas ao tenentismo
e a Getúlio Vargas, e foi obrigado, por suas convicções e espírito de
sobrevivência, a aderir à revolução constitucionalista de 1932, inclusive, com sistema
de rádio comunicação próprio, armado em sua residência de forma clandestina. Pouco
depois, foi chamado para deputado constituinte federal em 1934, por Minas
Gerais.
O combatente em
Canudos, como visto, lutou em muitas batalhas em defesa do desenvolvimento do
Amazonas, mas seu busto, erguido em praça pública na avenida que leva seu nome,
foi furtado pouco anos depois de sua inauguração, e seu nome é constantemente
usado de forma torta em desrespeito à sua memória: Ephigênio Ferreira de Salles.
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