CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, novembro 11, 2017

POESIA DE JORNAIS (VI)



Recorte de O Jornal, 20 agosto 1961



SONETO

(Aos afagos que me faz, a recordação de um amor impossível)

José Maria Seixas


Como um pássaro abatido
Sem destino e sem calor
Vivo amparado, ferido
Nas asas da minha dor.

Porém em sonhos, um dia
Veio alguém com terna paixão
Tirar o sofrer que eu sentia,
Afagar meu coração.

Mas, ao alvorecer, o que via:
A vida triste e sem cor...
E agora em melancolia

Nas asas da minha dor
Mais que antes, hoje em dia
Sofro as penas do meu amor.




Jornal do Commercio, Manaus, 25 fevereiro 1955


A PROSTITUTA

Aldévio Praia



A casa de meus pais est’va abandonada.
A morte, nela, implantara seus horrores.
... Saí. Noites sem fim adormeci na estrada
A padecer (sim) as mais profundas dores.

Um dia, res’lvendo seguir por outra estrada,
Vi cair, sobre meus seios, um buque de flores.
Então, minha vida de fome povoada
Transformou-se: taças, música, amores...

Ébria caí. Sonhei. Vi um corpo ensanguentado.
         Clamei aos céus. Dois braços pra mim se abriram
      E uma voz: “Fiz-te, sou a natureza astuta”.
 E depois de urna horrenda gargalhada:
"Eu, a sociedade, — as fl'res que te cairam".
Acordei. Fugi. Mas já eu era Prostituta.



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