Fusca da Rádio Patrulha, que possivelmente atendeu a ocorrência. Reproduzido de A Crítica, 1980 |
4.
Outro
sujeito que vivia incomodado com a roda de pagode dos moleques (Jairo
Beira-mar, Bosco Saraiva, Gilsinho, Nicéas, Chocolate, Luizinho Sá e Ivan
Oliveira, entre outros – sacados do causo
3) era o empresário Franciner, pai do Clemilton, atual diretor de bateria da
Aparecida. Dono de uma padaria na referida rua, Franciner cismou que a
barulheira dos pagodeiros estava afastando os clientes.
Certo
dia, mais puto do que de costume, ele ligou para a Rádio Patrulha, denunciando
os baderneiros.
Nesse
dia, por incrível que pareça, começou a cair uma chuva torrencial e os
pagodeiros, para não deixar o samba morrer, compraram uma caixa de caninha 51.
A
"mardita" era servida em um único copo, daqueles reaproveitados de embalagem
de azeitonas ou extrato de tomate, e o sujeito tirava gosto com careta. Era aquilo
ou morrer de frio. O pagode estava ficando mais quente do que nunca.
De
repente, chega um "fusquinha" da Rádio Patrulha. O soldado-motorista
baixou um pouco o vidro, para não se molhar, e começou a chamar um dos
pagodeiros.
Eles não deram nem confiança. Um segundo soldado começou a fazer coro com o primeiro. Os pagodeiros, nem aí. Maior autoridade dentro do carro, o cabo arrumou a arma no coldre, saiu do carro, enfrentou o vendaval e foi lá, conversar com os baderneiros.
Eles não deram nem confiança. Um segundo soldado começou a fazer coro com o primeiro. Os pagodeiros, nem aí. Maior autoridade dentro do carro, o cabo arrumou a arma no coldre, saiu do carro, enfrentou o vendaval e foi lá, conversar com os baderneiros.
Ele nem chegou a abrir a boca:
--
Êi, pessoal, esse aqui é o cabo Macaxeira, o rei da caixinha de guerra. Traz
logo uma aqui pra ele e uma dose de pinga, que ele é dos nossos! – avisou Jairo
Beira-mar.
Apanhado
no contrapé, o cabo sorveu a pinga de uma lapada só, pegou a caixinha de guerra
e começou a estraçalhar. Cinco doses de pinga depois, já meio grogue, Macaxeira
foi lá no carro da RP e deu a ordem.
--
Avisa pro comando que já resolvemos a situação, desliga o rádio, e vamos cair
na farra que todo mundo aqui é sangue bom!
Os
dois soldados nem titubearam. Em dois minutos, completamente encharcados, os
três militares estavam participando da mais animada roda de pagode daquele sábado
chuvoso.
"Sêo"
Franciner nunca mais confiou na polícia.
A
roda de samba evoluiu e se transformou no GRES Reino Unido da Liberdade.
* * *
Num
disse! E foi simples: chuva, RP e 51.
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