Com a assistência do Dr. Gaspar Guimarães, Chefe de Polícia, e da comissão militar encarregada de proceder a arrecadação dos valores existentes no quartel do Batalhão de Segurança, foi ontem aberto o respectivo cofre.
Este não
fora arrombado, como se propalou por aí. Ao contrario, devido a ter atingido um
sharapnel (munição de artilharia antipessoal utilizada até a II
Guerra) certeiro
no departamento da arrecadação no momento em que os últimos amotinados procuravam
arrombá-lo, não conseguiram eles levar a termo o seu intento, logrando violar
apenas o seu revestimento externo, que é de ferro.
No interior,
foram encontrados os depósitos constantes do seguinte: sete contos e cem mil
réis em moeda papel; um invólucro com quatrocentos e noventa e oito mil réis
(saldo do ex-capitão Passos); (ilegível) quatrocentos e dezenove mil,
oitocentos e nove réis, em outro invólucro (soldo em depósito do comandante
Flaviano Gastão, que não havia recebido por não ter tomado posse de seu cargo);
e doze mil e quinhentos réis em níquel (moedas).
Além disso,
havia mais diversos valores em documentos.
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O Dr.
Jeronimo Ribeiro, médico legista da Polícia Civil, procedeu corpo de delito em:
coronel Adolfo Cavalcante, capitão Severino Corrêa da Silva, 2º tenente
Francisco Marques Evangelista, cabo Manoel Paulo Cunha, soldados Lino José de
Oliveira, José Felipe Nery, José Claudino Braz e Manoel José dos Reis;
populares José Moreno da Silva, Manoel da Silva e Henrique José de Oliveira, ex-cabo
da Polícia.
Foram
considerados feridos gravemente: coronel Adolfo Cavalcante, capitão Severino
Corrêa da Silva, cabo Manoel Paulo Cunha e os paisanos José Moreno e Manoel da
Silva. O capitão
Sinésio Benevides dispensou o exame de corpo de delito, alegando não haver
recebido ferimentos e, sim, ligeiras escoriações.
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Na ausência
do Dr. Rocha dos Santos, que está encarregado do inquérito sobre os
acontecimentos do dia 15, acha-se assinando o expediente da 2ª Delegacia, o
subdelegado Feliciano Ferreira da Silva.
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Apresentou-se
ontem ao quartel da Força do Estado o sargento Felinto Joaquim de Oliveira, um
dos revoltosos, que assumira as funções de comandante. Interrogado,
entre outras coisas disse que o movimento fora combinado entre sargentos, sendo
os principais Castro e Falcão, instruídos por dois ex-oficiais. #
Entendo que este jornal cometeu nítida
parcialidade, pois as notícias divulgadas são do escaninho do Governo, por
intermédio da chefia de Polícia, que apura os fatos. Nenhuma palavra sobre os
soldados presos pelo Exército. Sequer a identificação completa dos cabecilhas da
sublevação o jornal de Vicente Reis foi capaz de divulgar. Ou não interessava. Àquela
época, era assim mesmo: o jornal pertencia ou defendia um partido politico, por
isso, o JC calou-se ou intimidou-se, apesar de que as conversas nas praças anunciavam
a morte de vários policiais em situação até hoje desconhecida.
Os políticos envolvidos recorreram aos
políticos federais, tendo encontrado no ilustre senador Ruy Barbosa o porta-voz
conveniente. Obviamente, municiado pelos correligionários amazonenses, o
ferocíssimo discurso proferido pelo representante baiano deixa dúvidas sobre as
atrocidades cometidas contra os policiais. Falo por mim. Creio que houve uma
retaliação superlativa, que a cidade foi ocupada militarmente, mas alguns fatos
descritos pelo senador carecem de fundamentação, como é o lance da expatriação
de mais de 400 pessoas para Belém do Pará.
Outra passagem, a casa de dois
desembargadores – Abel Garcia e Raposo da Câmara – estiveram cercadas pela
tropa federal. Objetivo: impedir a ida dos magistrados ao Palácio da Justiça, a
fim de não permitir o quórum. Estudando-se a história do Tribunal de Justiça do
Amazonas não se encontra qualquer referência a esse acontecimento.
Levou algum tempo, mas a tranquilidade
retornou à capital, com repercussão pelo interior do Estado. Em 3 de agosto, o
jornal O
Conservador, de Itacoatiara,
em franco adesismo ao governador Pedrosa,
proclama aos leitores na coluna Ecos:
Página inicial de O Conservador,
Pouco
a pouco, passados os dias tenebrosos de junho, quase apagados os últimos ecos
duma revolta de tresloucados, a vida do Estado foi se normalizando, e hoje
podemos confiantes tratar do desenvolvimento moral e material da nossa querida
terra.
O
Governo transato entregou ao atual uma administração em ruínas, legado de mais
um triste quatriênio de sangue, de traições, perfídias e violências. (...)
De
resto, a mazorca de junho, que foi uma consequência da que abortou em dezembro,
-- e quer uma quer outra, senão fosse a fidelidade de amigos, -- tinha no seu
bojo o plano sinistro de tirar a vida do Dr. Jonathas Pedrosa, entravou mais a
vida do Estado, já em embaraços com uma tremenda crise financeira.
x.x.x
Enfim,
a serenidade alcançou igualmente a Força Policial, que recebeu seu comandante
titular em princípio de agosto, recompôs seus quadros, expurgou os ferrabrases,
curou as feridas dos seus e partiu para superar novo período, com disciplina e
ordem. Todavia, cabe perguntar, encerrando esse melancólico tema, que
representou para aquela instituição esta sedição? A resposta nos é ditada por
outro oficial da reserva, desbravador da temática policial militar do Amazonas:
Alcides Costa, em trabalho intitulado Sedição
Militar (PM) de 1913.
Embora
se queixando da escassez de fontes, entende o coronel Costa que “para alguns (foi) um malogro, um desapontamento;
para outros, uma ação revolucionária capaz de obter uma mudança política”. Por outro
lado, encerra meu colega de quartel: “o episodio serviu par demonstrar a
submissão do exército e das forças policiais ao grupo no Poder e aos
que lutavam pelo mesmo poder”.
Ao
final do governo de Jonatas Pedrosa (1913-17), que teve em seu vice-governador,
Guerreiro Antony, um avultado adversário, a luta armada seria renovada. Mas
isso é outra história.
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