Governador Jonatas Pedrosa |
Ou seja, com a força do leão, o Estado passa ao município o “abacaxi”, porque se fosse doce, certamente o governador Antônio Bittencourt não entregava.
Às vésperas do levante, em 2 de maio, a lei nº 717 “aprova o novo contrato celebrado pelo governo do Estado com a Manáos Improvements Limited . Foi outra tentativa fracassada e deu-no-deu.
Sigo transcrevendo os acontecimentos
ocorridos há um século que, segundo os relatos do Jornal do Commercio, no horário vespertino em que digito este texto,
o bicho estava solto.
Recorte do jornal, Manaus, 17 de janeiro de 1913 |
Enquanto tais fatos dolorosos se
passavam, o povo, dele sabedor e guiado por agitadores e arruaceiros que sempre
aparecem em tais ocasiões, formando dois grandes grupos, partia em direção à
rua dos Remédios (hoje Miranda Leão), onde se acham os escritórios da Manáos Improvements e ao jornal O Tempo, à rua Municipal (hoje avenida
Sete de Setembro).
O primeiro grupo, invadindo
desenfreadamente aqueles escritórios, forçou as portas e quebrou o mobiliário,
atirando à rua quanto pode encontrar que fosse transportável.
O segundo, chegando à frente da redação
de O Tempo, também, com indescritível
vandalismo, arrombou as portas, apedrejando o edifício, atirando utensílios e
móveis à rua, ateando-lhes fogo, em seguida. Na sua fúria destruiu as oficinas
desse diário.
Não satisfeito com esse reprovável feito
partiu pela avenida Eduardo Ribeiro acima, esbandalhando as oficinas do Jornal de Manáos, cujos móveis foram
arrastados à rua e reduzidos a cinzas.
Nessa ocasião houve correrias na avenida
Eduardo Ribeiro, tendo sido os perturbadores da ordem postos em debandada por
forças do exército, constando-nos terem se registrado alguns ferimentos.
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Cerca
das 23h, chegou-nos às mãos o Boletim firmado pelos Srs. governador do Estado e
general comandante da Região, que é do teor seguinte:
Tendo
as forças federais de metralhar o edifício do quartel de polícia onde estão
alojados os soldados revoltados contra o governo legal, avisamos as famílias,
os comerciantes e estrangeiros que residem nas proximidades do quartel, a
retirar-se no prazo de duas horas.
(aa)
General Belo Brandão. Dr. Jonatas Pedrosa.
Quartel da Força Policial, em 1928
Cerca
de 1h30 da madrugada (do dia 16), a
artilharia do 19º Grupo de Campanha, sob o comando do capitão Otaviano de Souza
Gomes que, com uma bateria se postou na rua Municipal, rompeu fogo contra o
quartel de Polícia auxiliado pelo tenente Francisco das Chagas Pinto Monteiro,
com outra bateria no alto da avenida Treze de Maio (agora Getúlio Vargas), tendo antes intimado os revoltosos a que se
rendessem, recebendo formal recusa.
Às
2h20, mais ou menos, da madrugada terminava o fogo, avançando então as forças
do Exército sobre o quartel, onde só encontraram o corneta de piquete que, ao
que consta, foi nessa ocasião ferido.
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Pela
madrugada, um novo grupo de amotinados, como revanche aos empastelamentos do
dia anterior, atacou as oficinas do jornal Amazonas,
não conseguindo empastelá-lo, por terem sido obstados pelo coronel Ivo do Prado
que chegou a tempo de impedir essa violência, sendo um dos amotinados preso por
um sargento do exército, na ocasião em que saía das mesmas oficinas.
Rua dos Remédios (atual Miranda Leão), onde
se situavam os escritórios da Manáos Improvements
NOTAS AVULSAS
O
governador do Estado, que na ocasião de rebentar o movimento sedicioso no
quartel se encontrava no palacete de sua residência (Paço da Liberdade, na praça Dom Pedro II), em companhia de seus
filhos e vários amigos, conseguiu retirar-se ileso, escapando à sanha da
soldadesca, graças a desordem que entre ela reinava.
A
sua partida efetuou-se pelos fundos do palacete, donde, em automóveis, todos os
que lá se encontravam foram conduzidos ao quartel general do Exército, então
convenientemente guarnecido por praças do 46º BC e bateria do 19º Grupo.
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O
governador do Estado mandou proceder a rigoroso inquérito, a fim de apurar
quais os autores do sedicioso movimento do Batalhão Militar de Segurança.
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Dois
sargentos, que se dirigiam ao quartel general armados de espada e com bonés de
capitão e tenente à cabeça, foram presos incomunicáveis à ordem do general Belo
Brandão.
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A
banda de música da Polícia não aderiu ao movimento, bem assim, as guardas da 2ª
delegacia e do Palácio do Governador.
A
guarda da 1ª delegacia foi presa pelo delegado Rocha dos Santos, acompanhado de
vários civis, armados de carabinas. Essa guarda foi conduzida ao quartel
general, sendo ali desarmada.
A
guarda da Detenção (atual presídio
Raimundo Vidal Pessoa) abandonou o posto.
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O
quartel de Polícia está guardado por uma força do Exército, sob o comando do
capitão Otaviano de Souza Gomes.
Acham-se presos no quartel do 46º
Batalhão e quartel de Polícia, cerca de 100 praças revoltados,
tendo muito destes, segundo nos consta, se apresentado voluntariamente.
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No
quartel, depois de abandonado, foram encontrados escondidos no porão, quatro
praças, além dos cadáveres do tenente Rocha e de um anspeçada.
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Os
sócios do Tiro Brasileiro nº 10, ao terem conhecimento dos fatos anormalíssimos
de que estava sendo teatro a cidade dirigiram-se ao quartel do 46º BC, donde,
depois de receber armamento vieram incorporar-se às forças do Exército e Polícia
fiel, que estacionavam em frente ao quartel general.
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Agindo
com prudência e segurança no restabelecimento da ordem, as forças do Exército
ocuparam pouco a pouco os pontos estratégicos de mais valor, o que lhes valeu
rápido sucesso. Assim é que, logo depois de divulgado o movimento, conseguiram
as forças federais tomar posições na rua Municipal, no alto da avenida Treze de
Maio, na praça de São Sebastiao, no alicerce do Palácio do Governo, na rua
Jorge de Moraes (hoje Rui Barbosa) e
em outros pontos, conseguindo destarte quase que isolar as forças revoltosas na
praça da Constituição (da Polícia, no
vulgar) e capturar aos poucos os soldados que se desagregavam do seu núcleo
de defesa.
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Finalizamos
estas notas com as tranquilizadoras palavras do governador do Estado, constante
do documento abaixo, ontem pela manhã distribuído:
Boletim
Oficial. O governador do estado do Amazonas leva ao conhecimento dos habitantes
da cidade que se acha restabelecida a ordem, jugulado o movimento subversivo
que conseguiu a revolta da Policia e mantido o princípio da autoridade devido
ao modo valoroso e enérgico porque agiu o bravo general Belo Brandão, comandante
da Região Militar, secundado pelas disciplinadas forças federais aqui
estacionadas. A população nada receie, que serão mantidas todas as garantias
constitucionais. Manaus, 16-6-913.
Ainda
tem mais. (segue)
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