Dona Dora, 1957 |
Quando ela se casou com meu
pai, o viúvo Manoel Mendoza, ela contava com 20 anos menos, portanto, esperavam
os enteados que ela superasse o velho. Todavia, o incurável mal não permitiu.
O diagnóstico e o primeiro tratamento,
no Cecon, aconteceram em Manaus. Depois, ela peregrinou por São Paulo, até que
as metáteses a “aconselharam” a regressar, para morrer aqui. Assim ela fez. Quando
entendeu que o fim era irremediável, emudeceu. Deixou de falar por decisão própria,
e com isso proibiu-se de se lastimar seja contra qualquer entidade, incluída a Igreja
católica, a qual participou com absoluta devoção e contentamento.
Quando de seu enterramento,
providenciei um cerimonial à antiga. Como o cemitério de São Francisco, no
Morro da Liberdade, ficava a poucas quadras do velório, foram dispensados os automóveis,
e assim se pode conduzir o caixão até o campo santo. A oportunidade permitiu à morta despedir-se do antigo endereço. Enfim,
repousa em paz, Dona!
Mas, quando em nossos dias
vejo as pessoas com “dotes” anunciar que sofrem do mesmo mal, relembro as
dificuldades que a Dona enfrentou para, no final, sair derrotada. As bem dotadas
passam por tratamento vip, tratamento hospitalar personalizado (que têm
direito) e, por isso, podem se vangloriam de cura. Quantos, como a Dona e seus
familiares, lutaram, sem sucesso. Isso segue doendo.
Dona Dora abraça o filho Luis, na festa da Boina, 1981 |
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