Comandante Ventura |
Aconteceu
na tarde desse dia, em acidente de trânsito com um jipe da instituição dos
Bombeiros Voluntários. A repercussão foi imediata e geral na cidade, levando
grande número de pessoas e autoridades ao velório e ao enterramento do corpo no
dia imediato.
Os
recortes abaixo de diários de Manaus, portanto, refletem o clima que a tragédia
acarretou nos manauenses.
No ano anterior, morrera o
subcomandante dos voluntários. E em 6 de dezembro de 1961, outro acidente grave
mata o comandante José Ventura. A descrição pertence ao Jornal do Commercio (8 dez.). “O comandante do Corpo de Bombeiros
Voluntários voltava de uma missão, combater o incêndio nas instalações
‘asfálticas’ do Deram, na estrada Manaus–Itacoatiara, quando aconteceu o
acidente”.
O veículo capotou em uma curva
bastante íngreme no Km 36, provocando duas mortes (além de Ventura, morreu o
bombeiro Mário Sá) e quatro feridos (todos integrantes daquela organização). O comandante Ventura foi o primeiro a
falecer, pois seu corpo havia sido atirado do veículo à distância. O jipe
desgovernado acabou no barranco marginal com cerca de 5 metros de altura.
O velório ocorreu “na residência do comandante Ventura, onde se registrou
verdadeira romaria e cenas as mais pungentes, de amigos comuns e admiradores do
grande morto e sua obra”. É conveniente lembrar que o aquartelamento se
confundia com a moradia e a empresa da família Ventura. Apenas para recordação,
ocupava esta o local onde hoje se encontra o Forum Mario Verçosa, em Aparecida.
Às dez horas de 7 de dezembro, o
cortejo fúnebre partiu, encabeçado pelo carro dos Bombeiros Voluntários, mais
um da Força Aérea Brasileira, para o cemitério de São João. Outros carros,
estimados em mais de duas centenas, seguiram ao féretro. Foram muitas as
representações de colégios, religiosas, escoteiros, e personalidades, como o
deputado Josué Cláudio de Souza, em nome do governador Gilberto Mestrinho, e o
general Vasco Kropf de Carvalho, do GEF.
Várias foram as homenagens prestadas
aos mortos, no mesmo cortejo seguiam os corpos do comandante e de seu
subordinado. Na prefeitura, onde funcionava a Câmara Municipal, falou o
vereador Manuel Bessa Filho, “em nome da comunidade, ressaltando a grande obra
do falecido”. Nova parada ocorreu no Palácio Rio Negro, “onde o governador do
Estado rendeu homenagem aos mortos também em nome do povo amazonense”. Nas
Casas Legislativas, os encontros trataram da morte do comandante. Os vereadores prometeram aprovar “a pensão de 10 mil
cruzeiros à viúva do comandante dos Bombeiros Voluntários”.
No dia seguinte, o mesmo Jornal do Commercio produziu longo
editorial. Dele, transcrevo parte:
A
corporação dos Bombeiros Voluntários, no entanto, será herdeira desse exemplo e
terá sempre a nortear-lhe os passos da figura agora legendária e espiritual do
seu fundador e inesquecível comandante Ventura. Homem bom, vindo de outras
terras do além mar para viver conosco, amar o Amazonas e trabalhar conosco, o
comandante Ventura, por isso mesmo, tornou-se querido, estimado e incentivador
de grandes campanhas de benemerência em favor dos necessitados, principalmente
em benefício da Casa da Criança, Dr. Fajardo e do Instituto Gustavo Capanema.
Como se não bastassem, ainda, essas provas inequívocas de amor ao próximo, o
comandante Ventura idealizou e criou o Corpo de Bombeiros Voluntários para
suprir a ausência do poder público nos dramas de incêndios da cidade.
O governador do Estado, Gilberto
Mestrinho, não demorou (Lei n.º
44/1961) em amparar aos herdeiros do comandante,
concedendo “à senhora Silvia Isabel
Neves Ventura, viúva do comandante José Antonio Dias Loureiro Ventura,
presidente da Sociedade dos Bombeiros Voluntários de Manaus, falecido no
cumprimento do dever e a serviço da coletividade manauara”, a pensão de
CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros).
Esta
providência governamental teve o suporte do legislativo, figurando o líder do
governo, deputado Arlindo Porto, que pronunciou na Assembléia (e reproduziu na
mídia) apurado discurso, para fundamentar a decisão do chefe do Poder
Executivo. Lamentavelmente, a instituição dos Voluntários, ao perder
seu baluarte, deu início ao seu desaparecimento.
Outro que se manifestou pela imprensa
foi o colega de palco, de ribalta, o cronista Gebes Medeiros. Gebes, na coluna Theatro (O Jornal, 10 dez. 1961), ainda sob o impacto do desaparecimento
trágico do amigo, sob o título Comandante
Ventura, escreveu:
Saudades
daqueles que passaram pela terra, deixando um rastro luminoso, inapagável,
fulgurante, cujas vidas foram todas devotadas ao próximo, pela feição, pela
ternura, pelo ideal nobre e sublime, pela vocação constante e sempre fazer o
bem, sem distinção de classes.
Comandante José Ventura!...
Deus tirou-o desta vida, na
última quinta-feira!...
Foi um homem do povo. Bravo,
no entanto, no saber querer. Sentinela constante da nossa cidade, a frente dos
seus bravos Bombeiros Voluntários.
O Jornal, Manaus, 18 ago. 1956 |
Em
julho seguinte, A Crítica (24 jul.
1962) registra que o jipe dos Bombeiros Voluntários, o acidentado na morte do
comandante Ventura, fora recuperado. Além dessa generosa notícia, apesar do longo
prazo para o conserto do veículo, em se tratando de prestador de serviço de
urgência, havia outras. Uma, que os Bombeiros seguiam operando. Segunda, que o
jipe fora restaurado às expensas da ECCIR, uma empresa de construções. E
terceira, que o novo comandante era o José Afonso, que, na entrevista, falou
dos “sonhos” dessa entidade benemerente.
Disse-nos o comandante José Afonso que a
recuperação do referido jipe totalizou em 150 mil cruzeiros, tudo custeado pela
ECCIR, e que agora a Sociedade dos Bombeiros Voluntários de Manaus aguarda
somente os carros pipas prometidos pelo governador Gilberto Mestrinho para que
os heróis do fogo possam contar com os referidos carros em qualquer emergência.
Um ano depois ainda era lembrada a morte do saudoso comandante. Até porque a corporação
divulgou a missa encomendada “em sufrágio da alma daquele”, na igreja de São
Sebastião. A mídia impressa, em associação, relembrou o evento. Repassou em
editorial que o pranteado recebera da Câmara Municipal o título de “Cidadão de
Manaus” (O Jornal, 6
dez. 1962. Faz,
hoje, um ano de morto o Comandante Ventura). Encerrando o noticiário, o matutino
assegurava que
Ventura era, acima de tudo, uma segurança
permanente aos lares pobres e ricos, na defesa de seu patrimônio, contra incêndios.
Quando isso porventura acontecia, ninguém se lembrava de outro nome senão o do
Comandante Ventura.
E ele chegava, às carreiras, com o seu pessoal
igualmente valoroso carregando um equipamento modesto, obsoleto mesmo, mas até
aqui o único existente, pois a Prefeitura não dispõe de nenhum. E foi durante
um dos seus combates às chamas, que a fatalidade tirou a vida do Comandante
Ventura, juntamente com outro “soldado do fogo”. A cidade até hoje chora, com
saudades, a morte do herói, cuja figura nunca deixou de ser reverenciada.
Amigo Coronel Roberto,
ResponderExcluirA família VENTURA XAVIER, em nome dos Netos, Bisnetos, Trinetos e Tataranetos do SAUDOSO "COMANDANTE VENTURA" agradecemos a Lembrança da Passagem dos 50 anos do falecimento do nosso estimado.
FOGO !
Obrigado em nome da Família.
Manoel Carlos Ventura Xavier - Neto do Comandante Ventura.
Conheci ele,era ainda criança ele frequentava minha casa,era amigo dos meus pais.❤️🙏🏻😄🌺
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