CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, junho 29, 2025

DIA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Certamente, no dia em que nasceu seu terceiro filho, nosso pai - Manuel - deve ter se recordado sendo consumado católico da determinação do Mestre: “Tu es Petrus”. Assim foi batizado – Pedro Renato, que hoje completa 74 anos de idade. Nascido no consagrado bairro de Educandos, passou pelo Colégio Estadual do Amazonas e, depois do serviço militar, no qual obteve o terceiro lugar da turma de NPOR/72, desembarcou em Santos-SP, onde aproveitou. Vou parar aqui, senão estrago o filme. Parte do roteiro conta ele nesta crônica de aniversariante. A Igreja, apesar de nominar Paulo como santo do dia, efetua manifestação mínima, afinal Pedro é a pedra.

Ad multos annos, mano, recordando o linguajar seminarístico, do São José, deixado pro gran finale, onde seguramente aprendemos concretas lições para a vida.

Pedro Renato, de vermelho, abraça nosso pai Manuel

AINDA ESTOU AQUI

29.06.2025

Renato Mendonça (1951-)

 

Ao iniciar esta crônica, que faço a cada aniversário, fui orientado pela inteligência artificial para que o título fosse alterado para “continuo aqui”, pois considerou a forma uma expressão prolixa. Não acatei, pois a expressão usada carrega, na sua essência, um valor simbólico. Mas não descarto a utilidade dessa ferramenta aos usuários de qualquer natureza. No entanto, percebo que há uma superficialidade na sugestão da escrita, assim como falta sensibilidade para a escolha semântica dos termos. Cabe ao cronista deixar fluir para o papel a emoção não artificial, genuína, mormente nesta data, quando obrigatoriamente fazemos uma reflexão da vida.

Nesse instante de contemplação, percebo que estou revisitando memórias. Cada ano que passa carrega um pedaço do nosso mundo, e o ato de estar aqui, nesta data, com tantas histórias vividas, é em si uma celebração, um júbilo. Olho pela janela do trem da vida e encontro fragmentos que me moldaram, instantes que me elevaram o espírito e os desafios que me ensinaram a resiliência. É como se o tempo, ao invés de ser apenas um inimigo implacável a me sugar o vigor físico, fosse também um amigo sábio que, com as bênçãos de Deus, incitou-me a valorizar as verdades que floresceram a cada dia.

Quando ultrapassamos a barreira dos setenta, parece que o tempo anda mais apressado. Por vezes, me ocorre conversar com ele e questionar a sua relatividade, como nos propõe o famoso cientista Albert Einstein. E fico pasmo analisando o seu postulado ao dizer que o passado, o presente e o futuro são apenas ilusões persistentes, sendo assim criações da nossa mente. Sem nenhuma surpresa, ele me diz que somos ínfimos ao explanar sobre a grandeza temporal e espacial infinita do Universo; estima-se o tempo de existência em quatorze bilhões de anos, e a dimensão — praticamente incomensurável — só é medida em anos-luz.

Há quinze anos escrevi uma crônica, O Segredo da Vida, falando dessa incomensurabilidade do tempo, uma dimensão infinita que apenas é perceptível pela grandeza da nossa imaginação. Nessa narrativa, resgato a analogia do tempo do Cosmos com uma partida de futebol de noventa minutos. Ao compararmos o aparecimento do homem na Terra com a idade do Cosmos, o ciclo da vida humana só dura algo em torno de um décimo de segundo, desprezível.

Quanto à dimensão, também estamos aqui, fazendo parte de uma galáxia tão imensa que o homem, mesmo se tivesse recursos para viajar à velocidade da luz, jamais teria tempo de se deslocar para conhecer outros mundos. Assim, devemos nos resignar dentro da nossa ínfima porção universal, e procurar viver o que está ao nosso alcance ou o que nos rodeia. Aproveitar tudo o que Deus nos oferece para viajar para dentro de nós mesmos, tentando aprimorar a beleza espiritual; viajar também em direção ao nosso semelhante para tentar conhecê-lo melhor e promover o amor oblativo. 

Nessa longa caminhada, não deixei escapar nada que nos fosse benfazejo, como um dedicado aprendiz; não desmereci nenhuma manifestação de amor e valorizei cada gesto de carinho recebido; extirpei todos os rancores da mente, arranquei-os do coração sem o ferir nem o deixar sangrar por nenhuma forma de dor. Acho que Deus me deu uma certa imunidade quando tirou minha mãe tão precoce; hoje, sou um homem resignado e entendo que tudo estava dentro dos planos divinos. Mesmo assim, ainda retenho comigo a devoção por esta santa que me deu à luz do mundo, para quem dedico também o meu aniversário. E é muito gratificante conversar com Deus, através do rosto de uma mulher; é mais emblemático quando esta mulher é a sua mãe.

Nesta data, neste septuagésimo quarto Dia de São Pedro em minha vida — sem contar o dia em que nasci —, quereria recordar, na verdade, um ano radiante e jubiloso, 1974. O decurso da idade me traz de volta essa memória. Eu estava vivendo a porção primaveril da minha idade adulta; estava feliz com a conquista do primeiro emprego fixo, justamente na maior estatal do país, a Petrobrás. Depois de um ano que havia me habilitado como motorista, consegui comprar meu primeiro carro, um fusca ano 71, cor azul-pavão. Não gostava muito das letras contidas na placa, WC 3919, talvez porque a sigla em inglês significa “banheiro”, mas me identificava muito com o ano e a cor do carro.

A cidade de Santos, onde eu morava e trabalhava, me acolheu como um turista fascinado e mostrou-me a exuberância de sua orla marítima. E as praias tinham uma vasta extensão de areia que propiciava a prática do futebol nos finais de semana. Isso me deixava em plena forma, física e espiritual, que aliada à juventude dos 23 anos, transformava-me num atleta amador. E aconteceu que a Copa do Mundo daquele ano fez surgir no cenário futebolístico o “carrossel holandês”, nos apresentando exímios jogadores a recriar uma visão romântica do futebol. Uma estratégia dinâmica de jogo, onde os jogadores se movimentavam aleatoriamente sem guardar posição fixa. Esse esquema de jogo deu certo em quase todos os jogos, só falhando no jogo final. Uma pena! Mas, com a aposentadoria de Pelé, o jogador da Holanda, Cruyff, tornava-se um novo astro do futebol. Era o símbolo vivo daquela seleção. Por ele, eu nutria uma profunda admiração e me espelhava no seu comportamento em campo.

Um grupo de trabalhadores da construção civil, do meu sítio de trabalho, convidou-me para participar de um jogo de futebol num domingo do mês de julho, após a realização da Copa. Eles não sabiam se eu teria alguma habilidade como jogador, nem desconfiavam, pois me viam apenas como um assistente técnico envolvido na área de projetos. Entretanto, eu tinha bastante interatividade com eles, o que é normal quando se trabalha na indústria de petróleo.

E ocorreu que me convidaram para participar do “segundo quadro”, uma espécie de jogo preliminar. Naturalmente, o “primeiro quadro” jogaria logo depois, composto com os jogadores mais habilidosos e mais raçudos, mais “cascudos”, como se diz na gíria do futebol. Quando acabei de jogar o primeiro tempo do jogo preliminar, o técnico do time pediu que eu descansasse para jogar no primeiro quadro. “Fominha de bola”, não aceitei e garanti que tinha fôlego para jogar também o próximo. Consegui jogar bem, inspirado no craque e maestro holandês, três tempos dos dois quadros e saí elogiado pela minha desenvoltura em campo, marcando gols e correndo feito um velocista de curta distância. E para corroborar a minha atuação em campo, logo depois do jogo, o técnico me convidou para fazer parte do time de futebol que ele administrava, o Esporte Clube São Bento, e me trouxe, na semana seguinte, uma credencial de sócio atleta, que ainda guardo com todo carinho. Assim, foi um jogo memorável — inesquecível mesmo após cinquenta anos — de um jovem com a rebeldia dos cabelos longos e isento de consciência política, embora vivêssemos os “anos de chumbo” dos governos militares no Brasil. Naquela época, eu queria mesmo era trabalhar e jogar futebol. Duas paixões que se uniam visceralmente na minha solteirice.

Agora, depois de tantos anos, olho novamente pela janela e vejo o futuro. É apenas o futuro, sem grandes aspirações, com grandes preocupações com a saúde e buscando viver as verdades de Deus a cada dia. Desejando que o Amor nunca me abandone, para poder exprimir sempre o sentimento de gratidão; encantar-me com a beleza humana e a presença do Criador na natureza. O meu espírito ainda se ilude com a mágica do tempo e pensa que está jovem. É uma boa conduta, que eleva a autoestima e nos deixa aptos — não gosto dos clichês, mas vou usar — para novos desafios.

Sendo assim, o importante é manter a jovialidade do espírito, não por sabedoria artificial, mas por acreditar que isso possa ser congregado com boas ações, com atitudes honradas e ajuda aos necessitados e doentes, evocando sempre a alegria e fomentando a paz.  Desejo, ainda, manter a cognição intacta, para recordar os bons momentos vividos e possa discernir, nesse momento especial de comemoração, que ainda estou aqui completando essa belíssima missão de viver. 

Post Scriptum – O título da crônica faz referência ao belíssimo filme dirigido por Walter Salles, que recebeu o Oscar de “Melhor Filme Internacional” em 2024. Este filme aborda as ações autoritárias dos regimes militares no Brasil, especialmente os eventos relacionados ao sequestro, tortura e assassinato do ex-deputado Rubens Paiva em 1971.    

terça-feira, junho 24, 2025

PATRONATO "SANTA TERESINHA"

 A presente postagem vem do diário A Gazeta que, em 10 de março de 1964, publicou a foto com ampla legenda do Patronato Santa Teresinha. Incapaz de afirmar todo o trabalho da Congregação Salesiana em Manaus, deixou-nos, contudo, um registro competente sobre este trabalho. A respeito deste empreendimento, recolhi do livro "De Tupan a Cristo", comemorando o jubileu de prata dos salesianos na Amazônia, o texto que segue: 

    O nome de Álvaro Maia, que vem honrar a primeira turma de normalistas                 formada no ano passado naquele instituto, afirma a gratidão que os     Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora lhe devem como a um dedicado amigo e protetor.  Mas, o que melhor ainda atesta a amizade de Álvaro Maia, é o Patronato Santa Teresinha de Cachoeirinha [inaugurado em 1936], que é incontestavelmente a melhor obra de assistência feminina gratuita de todo o Norte do Brasil. (...)

Aproveito, ainda, para externar minha opinião sobre o Patronato, de quem passa diariamente nos horários escolares: vejo um fluxo muito pequeno de alunos deste colégio, as janelas sempre fechadas, o edifício talvez precisando se adaptar aos novos requisitos escolares.    

Recorte de A Gazeta, 10 março 1964, com a legenda transcrita abaixo


MAIS DE MEIO SÉCULO DE VITÓRIAS

O terreno era baldio, existindo na esquina uma velha casa, assobradada, salvo engano de propriedade do sr. Sátiro Marinho. A casa estava abandonada e um dia, para surpresa dos moradores das redondezas, ali surgiram umas freiras – mais precisamente: duas – anunciando que iam ensinar catecismo às meninas e construir um colégio. Eram Irmãs da Congregação Salesiana, vindas do Colégio N. S. Auxiliadora. Apareciam apenas aos domingos, ensinando catecismo. Na sala da frente da velha casa ergueram um altar dedicado à Santa Teresinha do Menino Jesus, onde o saudoso padre Lourenço Gatti, aos domingos, celebrava a Santa Missa. A casa assobradada foi sofrendo reformas e adaptações, e surgiu o colégio com aulas de ensino primário e prendas domesticas.

As duas freiras que por primeiro ali chegaram – Irmãs Glória e Margarida – foram substituídas, surgindo a figura firme e progressista da sempre lembrada Irmã Michelina Nokki, para erguer de fato o Patronato Profissional “Santa Teresinha”, dando novas esperanças e um futuro mais promissor a centenas de moças e crianças não apenas das ruas circunvizinhas, mas, também, de Educandos, Praça 14 e Cachoeirinha.

A obra das irmãs salesianas, de monsenhor Pedro Massa (preferimos chama-lo assim, que lembra melhor a grandeza de sua luta), foi crescendo e se tornando grandiosa. Mais de vinte e cinco anos são decorridos, da velha casa apenas resta a recordação para alguns, porque esse monumento do saber e cultura, de bondade e sacrifício, de abnegação e coragem tomou o lugar. Desde o Jardim da Infância – modelo até o ginásio industrial, tudo de graça, dando almoço e jantar a mais de 500 pessoas. O que aparece na foto nada é em comparação com o que existe lá por dentro, outros edifícios, a majestosa Igreja, o Museu Etnológico. Recordando nomes como da Irmã Luizinha, que recentemente deixou a direção do Patronato para ir empregar seu dinamismo, sua coragem e força de vontade em local onde se faz mais necessária. Este, leitores, é o Patronato “Santa Teresinha”, que caberia melhor numa ampla reportagem.


domingo, junho 22, 2025

POEMA PARA O DOMINGO

 O  poema deste domingo pertence à obra poética de Américo Antony (1895-1958). Tudo quanto aprendi sobre este poeta é que ele produziu número respeitável de poemas, publicados em jornais e revistas, e somente um livro: Os sonetos das Flores (em segunda edição pela Valer, 1998). Para ilustrar esta postagem recorri aos especialistas de nossa cidade, e nada sobre Antony. Desse modo, consulto o Dicionário Biográfico dos Acadêmicos Imortais do Amazonas, do saudoso Almir Diniz (2002), dispondo de notas biográficas costumeiras. “O poeta que pertenceu também ao IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) deixou publicado apenas um livro (...). E alguns inéditos – A Alma das árvores; Crisóis; Cromos Amazônicos; e Canções Perdidas. São famosos vários sonetos e outros poemas (A Fonte; Canção Campestre; Nova Messe; Manoa; Conory)”. Seu nome crisma a biblioteca da Fundação Doutor Thomas.

Recorte de O Jornal, 20 março 1946
 

A ÁGUA

-- I –

A Água, — uma serpente de cristal,

Faz-se em canais, em golfos, em caudais,

Em espelhos sobre o mar, e no canal

Paisagens de verão, frios hibernais...

 

Brincos em cada estema ao capinzal,

De ouro e diamante, — Aljôfares reais —

De um príncipe invisível, do ideal,

vozes da cor, do encanto dos cristais...

 

Mas, quando a água ferida em seu percurso,

Represada se infiltra, e um só recurso

Vê nas prisões da rocha, em fonte escura,

 

Chora as lágrimas claras do passado,

As emoções do seu cristal fechado

Na pensativa Selva que murmura.

-- II –

A Água, — a plasmadora das visões

Cristalinas da Selva, e do Universo!

Em reentrâncias de golfo, e nos grotões,

Animando o esplendor de um lindo verso!

 

Cambiar de perspectivas tão diverso!

Ânimo e sol da sombra aos corações,

Exuberância de um vergel disperso,

Voz do penhasco em córregos, canções...

 

Lagoa alegre e pântano sombrio...

Atmosfera e oceano, lago e rio...

Brejo e igapó... ânfora em solidão...

 

Chuva! transmigração da Água à alva nuvem,

E dela à terra, arco-íris de onde pluvem

Olhos de Deus nos prantos da Ilusão!


sábado, junho 21, 2025

GAROTOS DE ANTEONTEM

 Não tenho muito a acrescentar à legenda sobre os garotos, que buscavam, como buscam os nossos hoje, sucesso no futebol. Apenas que eles nos parecem treinar sem utilizar qualquer equipamento do esporte, apenas um calção e os pés descalços. Qual deles venceu, não há registro, salvo se um deles, aos 70 ou mais anos, reconhecer a turma. Torço que aconteça, pois o registro foi postado em A Gazeta, edição de 18 de março de 1964.

Jornal A Gazeta, 18 março 1964

 COMO SÃO BELOS OS DIAS DO DESPONTAR DA EXISTÊNCIA

Embora não corram pelas campinas, atrás de borboletas azuis, ainda andam de pés descalços, braços nus, principalmente quando chega a hora da pelada. Aí, cada um deles se sente um Pelé, Garrincha ou Nilton Santos em potencial. Para ser Gilmar, só na torcida, que jogar no gol ninguém quer, isto aí todos nós fizemos em nossos tempos de meninice, sem direito, porém, a retrato no jornal, que certamente será guardado para, na posteridade, lembrar os companheiros, com seus apelidos divertidos.

E estão na gravura, numa pose especial para “A Cidade em Foto”: Cobra, Amarelão, Nato, Colorau, Cabeção, Torpedo, Léo, Casqueta, Pé- chato, Mucura, Coelho e Tá-tá-tá.

O futuro, para todos eles, é uma incógnita, mas, enquanto isto, se divertem no campinho da sede do Nacional e se sentem uns futuros heróis dos gramados, quase uns campeões do mundo. Nada de nome completo com filiação e outras identidades. O gostoso é guardar os apelidos, para relembrar depois, quando forem grandes e tiverem vencido na vida. Com muitas saudades destes tempos ditosos que passarão céleres.  

quinta-feira, junho 19, 2025

MENINO, PAPAGAIO E FUSCA

 A tarde deste feriado religioso – Corpus Christi – estava propícia à prática de empinar papagaio de papel, que o modernismo trocou para pipa. Sol exuberante desde a manhã. Ao ler esta legenda revi minha meninice no bairro, repetindo mentalmente a escala de tarefas até levantar o “famão”. E relembrei outros fatos, um deles veio de pronto à memória, a presença de seu Manoel ao lado dos filhos, meu pai era exímio empinador de papagaio. Chega, mas não esqueça de anotar a placa do Fusca. Deixo aos aficionados, novos e velhos, a postagem publicada há 60 anos no diário A Gazeta (24 março 1964).

A Gazeta, 24 março 1964

UM “FAMÃO” SEMPRE TEM MUITA PERSONALIDADE

Não pense que seja fácil. Fazer uma “rabiola” de pano velho ou mesmo de papel, moer vidro, misturar com goma, passar o cerol na linha e suspender um “banda-de-asa”, qualquer um faz. Quero ver lá em cima, obrigar um “casqueta” qualquer, comprado no mercado ou feito às pressas no quintal de casa, dar umas “flechadas legais”. Daquelas de ir “buscar o chão”, mostrar numa “trança” que de fato é dos bons, que sabe dar por baixo, bem no “pé do peitoral” do outro, colher um pouquinho e... e queda!!! Ou então dar por cima e descair.

Quem nunca botou um “papagaio” não pode avaliar a beleza que aquilo tudo encerra. O bicho lá em cima, nos céus, obedecendo à nossa vontade. Manobrando de acordo com o nosso pensamento.  A intrincada combinação de puxavões na linha que uma “trança” requer, exige um grande esforço, físico e mental. O braço sofre, a vista fica doída, a imaginação trabalha. Pegar o outro pela “rabiola”, evitando a gilete, não é para qualquer um. E depois dos dois engasgados, o braço tem que ser bom pra colher e levar vantagem.

O menino da foto é um exemplo vivo daquilo que todos nós fomos, e que muitos ainda hão de ser: incorrigíveis empinadores de papagaios de papel, sem distinção de cor, credo ou posição social. No ar, todos se igualam. Do menino rico ao garoto pobre lá dos bairros distantes. Se obrigassem a todo “play boy” que anda por aí, fazendo o que não deve, a empinar papagaio, o mundo seria muito melhor. Tem poesia, desenvolve a inteligência, alegra o espírito. Por isso tudo, melhor que ninguém, o empinador de papagaio compreendeu porque aquele primeiro astronauta russo disse que a Terra é azul. E deve ter completado, sorrindo: com bolinhas cor-de-rosa.

quarta-feira, junho 18, 2025

PMAM: 1º CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS

Aconteceu no saudoso Piquete, quando abrigou o CIM (Centro de Instrução Militar), existente na rua Dr. Machado. Terá sido o primeiro curso deste jaez em 130 anos, pois até então o policial ingressava na graduação por curso PM ou advindo do 27º BC, já diplomado. A partir daí, as promoções ocorriam somente por antiguidade.



Esta turma, possivelmente em 1969, cuja fotografia emoldura o painel no Museu Tiradentes, obteve o privilégio de constituir a primeira turma. Os componentes estão relacionados observando a posição na foto (a partir da esquerda): Francisco Gaio de Moraes; Jonathas Pereira da Silva Neto; Luís Alves de Carvalho; Rossely de Araújo Bastos; Pedro Torres de Lima; Arnaldo Augusto de Souza; Marciano Maciel da Silva; Vicente Ferreira da Silva; José Rodrigues de Castro; José Rodrigues de Freitas; e Severiano Albano Martins.

terça-feira, junho 17, 2025

QUASE 80 ANOS

 Reunido com filhos e neta e nora para agradecer os votos pelos quase 80, hoje meus 79 anos. Grato igualmente às manifestações de amigos e parentes



segunda-feira, junho 16, 2025

CÂNDIDO MARIANO: PATRONO DA ROCAM

 Volto a operar nos arquivos da corporação policial militar em busca de  embasamentos para sua história. Assim, revirando meus arquivos, encontrei a peça que vai postada, de autoria do jornalista Evaldo Ferreira, que a elaborou para o jornal Amazonas em Tempo (23 maio 2010), sobre Cândido Mariano, contando com auxílio. 

Amazonas em Tempo, 23 maio 2010

domingo, junho 15, 2025

POESIA PARA O DOMINGO

 

Perdão, caro internauta, mas nada sei ou alcancei sobre a autora. Apenas que ela publicou numerosos poemas na década de 1950, como este em O Jornal, edição de 15 de janeiro de 1956. 


Fortuna — brisa incerta, caprichosa...

Muda de direção e, de repente;

fugindo à residência luxuosa,

bafeja a do indigente!

Glória — mulher de encantos divinais;

que a vaidade humana em si resume.

Fulgindo passa e não nos deixa mais,

que um rastro de perfume!

Amor — um sonho azul, uma ilusão!

Doce veneno em cálice dourado!

Esperança... incerteza... inquietação...

Prazer amargurado!

E à ti, Felicidade, o que te cabe

nestas comparações?... O que serás?

Como te definir?! Se ninguém sabe

o que és... e onde estás!

sábado, junho 14, 2025

AMOLADOR DE FACAS

 A memória pertence ao jornal A Gazeta, edição de 31 de março de 1964. Que data, devendo ser lembrada como bem apetece ao leitor. A postagem quer lembrar o artífice que circulava pelas ruas amolando facas e outros objetos cortantes. Claro que a evolução técnica fez este desaparecer. Quem se lembra dessa figura? Confesso que voltei a me lembrar vendo a foto. Foi-se o amolador, como se foi o matutino, igualmente dominado pelo avanço tecnológico.

 


DE UTILIDADES DOMÉSTICAS ATRAVÉS DOS ANOS –

Um dia ele cansou. Juntou os trocados, comprou passagem de ida na “Booth”, e largou-se para a “Santa Terrinha”, para matar saudades e ficar de vez por lá. Mas as saudades maiores devem ter ficado por aqui, a nostalgia decididamente contribuiu e ele voltou para percorrer novamente as ruas da cidade. Amolando facas, serrotes, tesouras. Até gilete, dizem, que ajeita.

Na sua ausência, não sabemos com quem ficou o instrumento de trabalho, primitivo, mas muito útil, ou se o de agora é outro. Não interessa muito, pois o personagem é o velho amolador ambulante, com seus movimentos sincronizados, tal qual uma máquina. O pé direito aciona a roda grande, esta entra em movimento e faz rodar o rebolo, onde mãos hábeis seguram a lâmina do objeto e garantem uma amolação perfeita. Faca de cozinha que passou por aí nunca mais perde o fio. E um serrote tem sempre seus dentes acertados.

sexta-feira, junho 13, 2025

PIQUETE DE CAVALARIA

 Existiu no terreno onde, em nossos dias, predomina a maternidade Balbina Mestrinho o Piquete de Cavalaria. Criado em 1897, aproveitava a riqueza do igarapé do Mestre Chico, porém, foi desativado em 1942. A população manteve o nome do edifício na localidade, virou um ponto de referência na Praça 14 de Janeiro. Em 1975, o piquete foi abaixo para surgir um novo aquartelamento. Essa história com detalhes que conto logo mais.
Em 4 de janeiro de 1964, o jornal A Gazeta publicou a foto desta postagem com a legenda abaixo. 

Foto colorizada artificialmente

ONDE SE VIVE DO PASSADO

A arquitetura faz lembrar um fortim do século passado. Esta [é] a primeira impressão que se tem ao olhá-lo. Tornando-se mais íntimos, pode-se imaginar tudo, menos o que é atualmente, uma espécie de cortiço ou estância como costumamos chamar onde moram várias famílias, sob a administração de um sargento reformado da Polícia Militar.

Aí foi o Piquete de Cavalaria da briosa Força Policial, entregue antes de sua extinção à Guarda Civil. Foi daí, ao que parece, que Dico Tavares saiu, na Terça-Feira de Carnaval de [19]35 para a “batalha campal” da Avenida [Eduardo Ribeiro] onde houve tiros célebres com mortos e feridos.

A Cavalaria respeitada e temida, que fazia a ronda da cidade. Com seus homens de espada e revólver, percorrendo as ruas à noite. E aos domingos, nos campos de futebol, combatendo os furões. Muito sujeito realizado na vida que anda por aí levou boas carreiras da cavalaria. Até algumas “espadadas”. Não havia valente que “topasse a parada”.

Depois, acabaram com Piquete. Os cavalos comiam muito, e a despesa era enorme. E ficou apenas o prédio, guardando milhões de recordações. Para gente simples, que gostava de andar a cavalo. Quantos choraram ao ver o seu cavalo sendo puxado nas ruas por algum carvoeiro? Mas o prédio ainda resiste e, recuperado, poderia ser útil para o serviço público. Uma escola, por exemplo. Ou para a Delegacia de Trânsito, cujo prédio atual teria muitas outras utilidades.

terça-feira, junho 10, 2025

HOTEL AMAZONAS / CONDOMÍNIO AJURICABA

A construção do Hotel Amazonas de fato espantou os manauaras, afinal tratava-se do primeiro empreendimento nesse porte. Entre o lançamento da pedra fundamental em 1947 e a inauguração em abril de 1951, foram quatro anos de obras. A criação da Zona Franca e a ampliação do turismo impulsionou ao novo dono – Vasco Vasques, a expandir o imóvel. Todavia, dificuldades financeiras que se seguiram, levaram ao fim o notável hotel. Acabou em 1996, transformado no condomínio Ajuricaba, que abriga residências e comércios.

Duas fotos ilustram esta postagem: o postal, sem data conhecida, mas dos primeiros tempos; a outra, circulada no jornal A Gazeta (09 janeiro 1964), em sua coluna A Cidade em Foto.

LUXO, CONFORTO, COMODIDADE

Quando iniciaram a construção, muita gente passava por perto, e dizia: o que é isto, hein!? Ia crescendo e muita gente não sabia, ainda, o que era mesmo. Nunca tinham visto coisa igual. Sempre foi grande, pois nasceu adulto. Para ser o maior e o melhor da cidade. Foi Adalberto Ferreira do Vale, com a sua Prudência Capitalização, quem nos legou o gigante, com sua “Varanda Tropical”, onde anualmente fazemos o nosso almoço de confraternização.



Onde os anos se passam e sempre fica mais gostoso frequentar o “Mandy's Bar”, pioneiro do ar refrigerado. Teve a “Churrascaria Jaraqui” e ainda tem uma arara como símbolo. Espalhando pelo Brasil uma propaganda turística do Amazonas com muito mato, onças, lagos e igapós, e o hotel. Inferno Verde, como manda o figurino. E o hotel aí está. Com novos donos, mas o mesmo luxo, conforto, comodidade. E com quase 80 por cento da população conhecendo-o apenas “de vista”.

segunda-feira, junho 09, 2025

BARREIRINHA: CENTENÁRIO


Aproveito a efeméride deste município, que guarda com entusiasmo a obra de um dos maiores poetas deste Amazonas e, efetivamente, reconhecido no mundo: Thiago de Mello. Parabenizo-o com o poema deste, endereçado ao saudoso poeta Jorge Tufic, escrito em Barreirinha e publicado no extinto mensário O Muhra, em 1998, de responsabilidade da secretaria de Educação e Cultura.


 

sábado, junho 07, 2025

PMAM: ANIVERSÁRIO DE 91 ANOS

Esta postagem reproduz uma cena da festa pela passagem dos 91 anos de existência da Polícia Militar do Amazonas, realizada em 4 de maio de 1967. Estranho, não? Afinal esta corporação comemora sua criação em abril e, mais, a contar de 1837, portanto, àquela data a PMAM deveria comemorar 130 anos. Explico o possível equívoco.

Até o ano de 1972, a briosa reverenciava sua criação datada de 4 de maio de 1876. A partir de 72, a data tomou um anabolizante e a criação foi arremessada para 3 de abril de 1837. Daí os 91 anos reportados pelo jornal com uma foto icônica. Diria, até constrangedora.
Mais um esclarecimento: à época, as forças estaduais eram comandadas por oficiais da Força Terrestre. Aqui era um oficial EB, porém, da patente de capitão. Talvez o único no Brasil do regime militar a exercer este comando. Daí o desnível entre os generais comandantes do Exército no Amazonas e o capitão EB (nas funções de coronel PM) Hernany Guimarães Teixeira. 

Publicado em O Jornal, 4 maio 1967

Cópia da legenda: 

Os 91 anos da Polícia Militar do Estado foram festejados, ontem com brilhantismo. No flagrante acima, em primeiro plano, o governador Danilo Areosa, os generais Isaac Nahon e Ayrton Tourinho e o coronel Ernani Teixeira, comandante da briosa corporação, assistem ao desfile da tropa.

quinta-feira, junho 05, 2025

PRAÇA DA POLÍCIA - MANAUS

 No centro da cidade, este logradouro já possuiu diversas nomenclaturas, a atual é Heliodoro Balbi, mas quem o conhece por esta designação? Raros. No entanto, o codinome imposto pela população, de Praça da Polícia, todos conhecem. A praça que surgiu no período provincial, recebeu esta alcunha devido a existência do quartel da Polícia Militar no seu entorno. Em nossos dias, a praça se encontra descuidada, desfigurada e invadida por delinquentes, além de abandonada há tempos pela Banda de Música.
Capa do livro


Esta postagem pertence ao saudoso acadêmico João Nogueira da Mata (1909-91), inserta em sua obra Manaus por Dentro, editada em 1988. A dissertação evidencia o manauara que conheceu sua cidade em detalhes. Nascido na Cachoeirinha, passou pelo Palácio Rio Negro, ingressou na Academia Amazonense de Letras, e dedicou os derradeiros dias a escrever sobre a Amazônia. 



        Das praças com que hoje inda contamos,/ 
nesta Manaus algumas                 vezes quente,/ a Praça da Polícia, realmente,/ constitui um oásis que         estimamos. 

Eis como a vê o poeta, in “Manaus de Sempre”, livro já em plena divulgação. Praça tradicional da cidade, que vem de longos anos, como espaço admirável para o repouso do povo nos dias mais intensos de canícula.

Há anos parecia mais fagueira,/ os canteiros com grades ogivais,/                 as piscinas com peixes regionais,/ e as aves que a tornavam mais                 fagueira. 

De feito, na década de vinte [1920], parecia mais alegre, com canteiros bem cuidados por jardineiros portugueses. Suas piscinas exibiam peixes que despertavam a curiosidade de todos, como o pirarucu e o peixe-boi, o tambaqui e a pirapitinga. Lontras, tartarugas e outros quelônios, todos muito bem tratados. Fazia gosto vê-los assim no ambiente natural, e de suma importância para os habitantes da cidade. Romântico quando as crianças, em grupos saltitantes, davam nacos de guloseimas para os peixes.

Suave a cobertura bem umbrosa/ do arvoredo, nas horas de                         lazer,/ em que o povo, tomado de prazer,/ achava paz na vida                         trabalhosa. 

Evidentemente, é a mais autêntica de nossas praças públicas, pelo número vultoso de árvores que a circundam. Árvores nossas, exibindo espécies importantes da Hileia de Humboldt, com cerca de quatro mil tipos diferentes. Sob suas copas frondosas, que amenizam o calor do verão, os frequentadores dela, em verdade encontram prazer, pelas manhãs e pelas tardes, quando procuram o repouso depois do trabalho.

Das retretas foi praça consagrada,/ às quintas e domingos, sem                 falhar, / com a banda da Polícia Militar,/ música apresentando                         requintada. 

Época sem dúvida romântica, essa das retretas, não só na Praça da Polícia, senão também na Praça General Osorio, de mangueiras frondejantes. Inteiramente franqueadas às gerações novas cheias de devaneios exultantes. Cerca de duas horas de entretenimento, só encerrado com o toque altissonante nos quarteis até então em pleno funcionamento. Terminado o recreio salutar, que estimulava os jovens ainda sob o influxo da adolescência, os casais rumavam para casa plenamente felizes porque era o recreio de sua predileção.

Quando as Revoluções eclodiram em Manaus, alterando o ritmo de vida da cidade, a Polícia Militar chegou a ser atingida [1930]. Fechou-se o quartel tradicional. Transformaram-no em Escola Normal. Pois bem, imposto o recesso aos heróis da guerra de Canudos, com Cândido Mariano à vanguarda, nem assim as retretas deixaram de existir. Por interferência de elementos de prestígio perante as autoridades então no poder, a “A Banda dos Abandonados” -- ex-músicos da Polícia Militar -- voltou a deliciar o público, às quintas-feiras e domingos, com escolhido repertório.

Outra curiosidade da Praça: nela está instalado o Clube da Madrugada, debaixo de antigo mulateiro. A árvore que, na crença popular, jamais envelhece. De tempos em tempos muda a casca, à semelhança das cobras, e assim se renova. É voz corrente que o Clube da Madrugada, lançado por um grupo de intelectuais — Farias de Carvalho, Jorge Tufic, Alencar e Silva, e tantos outros — conhece o segredo da eterna juventude. Quem a ele pertence, com o juramento no pé da árvore, só vê tempo passar, mas continua inflexível como as sumaumeiras. E os novos, que aderem inebriados com a poesia moderna, esses se tornam também da força inexaurível dos mais antigos. (...)

quarta-feira, junho 04, 2025

PMAM: COMANDANTE-GERAL

 Encerrado o Governo dos generais, período em que a Polícia Militar do Amazonas, assim como as demais congêneres, foi comandada por oficial da Força Terrestre, assumiram essa função seus integrantes. O primeiro foi o coronel Helcio Rodrigues Motta (1983-87). Seu sucessor foi o coronel Pedro Rodrigues Lustosa (1987-89), que servira na Casa Militar do governador João Walter (1971-75). Oficial conhecido por sua disciplina e organização, qualidades que decidiu manter vigorosamente em seu comando. Deste propósito, ilustra o extinto jornal Diário do Amazonas (1º maio 1988), abordando o julgamento de vários policiais na Auditoria Militar.
Coronel Lustosa
Recorte do jornal acima e abaixo


terça-feira, junho 03, 2025

MONUMENTO NA PRAÇA DA POLÍCIA

 Mais uma contribuição do jornal A Gazeta, em sua coluna A Cidade em Foto, edição de 28 de janeiro de 1964, focando a peça artística O Javali e o Cão, instalada naquele logradouro desde sua inauguração em 1906. Sessenta anos depois do recorte jornalístico, o bronze segue deteriorando-se, pior a praça que vergonhosamente perdeu o brilho e atrativo, afundada em misérias, abandonada pelo poder e sequestrada por indesejáveis. 


DOS TEMPOS EM QUE MENTIRA ERA POTOCA  

Manaus já teve coisas belas em seus parques e jardins. Que o tempo e os homens fizeram desaparecer, deixando alguns remanescentes para agradar um pouco a paisagem e fazer relembrar o passado. Toda cidade tem suas histórias, forjadas em grandezas e misérias. E a nossa pacata e invencível ex São José da Barra do Rio Negro não poderia fugir à tradição. Coisas velhas, como diziam, do “arco da velha”, quando mentira se chamava “potoca”, e fio de bigode valia mais que assinatura em aval de promissória.

O javali briga com um cachorro, esculpido no bronze, sobre uma pedra, e colocado no jardim da Polícia, onde ainda se encontra. Da briga nada interessa, que um encontro de onça com jacaré é mais interessante, pitoresco e muito mais amazônico.

O valor está na obra de arte, na beleza que encerra, e de que os frequentadores daquele logradouro público nem se apercebem. E que, mesmo assim, já se integrou à vida da cidade. 

Mesma peça, ano 2015