A tarde deste feriado religioso – Corpus Christi – estava propícia à prática de empinar papagaio de papel, que o modernismo trocou para pipa. Sol exuberante desde a manhã. Ao ler esta legenda revi minha meninice no bairro, repetindo mentalmente a escala de tarefas até levantar o “famão”. E relembrei outros fatos, um deles veio de pronto à memória, a presença de seu Manoel ao lado dos filhos, meu pai era exímio empinador de papagaio. Chega, mas não esqueça de anotar a placa do Fusca. Deixo aos aficionados, novos e velhos, a postagem publicada há 60 anos no diário A Gazeta (24 março 1964).
UM “FAMÃO” SEMPRE TEM MUITA
PERSONALIDADE
Não pense que seja fácil. Fazer
uma “rabiola” de pano velho ou mesmo de papel, moer vidro, misturar com goma,
passar o cerol na linha e suspender um “banda-de-asa”, qualquer um faz. Quero ver
lá em cima, obrigar um “casqueta” qualquer, comprado no mercado ou feito às
pressas no quintal de casa, dar umas “flechadas legais”. Daquelas de ir “buscar
o chão”, mostrar numa “trança” que de fato é dos bons, que sabe dar por baixo,
bem no “pé do peitoral” do outro, colher um pouquinho e... e queda!!! Ou então
dar por cima e descair.
Quem nunca botou um “papagaio” não
pode avaliar a beleza que aquilo tudo encerra. O bicho lá em cima, nos céus,
obedecendo à nossa vontade. Manobrando de acordo com o nosso pensamento. A intrincada combinação de puxavões na linha que
uma “trança” requer, exige um grande esforço, físico e mental. O braço sofre, a
vista fica doída, a imaginação trabalha. Pegar o outro pela “rabiola”, evitando
a gilete, não é para qualquer um. E depois dos dois engasgados, o braço tem que
ser bom pra colher e levar vantagem.
O menino da foto é um exemplo
vivo daquilo que todos nós fomos, e que muitos ainda hão de ser: incorrigíveis
empinadores de papagaios de papel, sem distinção de cor, credo ou posição
social. No ar, todos se igualam. Do menino rico ao garoto pobre lá dos bairros
distantes. Se obrigassem a todo “play boy” que anda por aí, fazendo o que não
deve, a empinar papagaio, o mundo seria muito melhor. Tem poesia, desenvolve a inteligência,
alegra o espírito. Por isso tudo, melhor que ninguém, o empinador de papagaio
compreendeu porque aquele primeiro astronauta russo disse que a Terra é azul. E
deve ter completado, sorrindo: com bolinhas cor-de-rosa.
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