CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, outubro 24, 2019

DR. JAUARY MARINHO

Recorte do jornal

Em homenagem ao tricentenário de Manaus – hoje reverenciado, compartilho a publicação do Jornal do Commercio (16 agosto 1970), em que salienta a obra do Dr. Jauary Guimarães de Souza Marinho, Reitor da então Universidade do Amazonas, cuja atuação se expandiu de 1965 a 1970. Neste ano, ingressei na Faculdade de Direito do Amazonas, a sempiterna “Jaqueira”, onde ouvi o nome deste Reitor ressoar pelos corredores e escadas daquela extinta Casa de Ensino Superior.
A reduzida biografia deste Reitor estava encartada em coluna jornalística (cujo autor deixei de copiar) de título simpático: DIZ QUEM É.

Jauary Guimarães de Souza Marinho

Do aço da melhor têmpera, forra-se a personalidade do velho Superintendente da Manáos Harbour Limited, que encaneceu na luta do cais flutuante desta soberba Manaus — o nosso querido amigo Hildebrando de Souza Marinho, esposo da veneranda mestra, dona Leonila Guimarães de Souza Marinho, estrela de primeira grandeza na constelação do magistério da Planície. Estes são os pais de nosso biografado de hoje, o Doutor Jauary Guimarães de Souza Marinho, Magnífico Reitor da Universidade do Amazonas. Nasceu, Jauary, em plena efervescência da primeira guerra mundial — a 9 de maio de 1917, nesta metrópole cabocla, que foi o palco permanente de suas atividades desde a infância.
No Colégio Dom Bosco, sob a orientação de Lourenço Gatti, o bondoso velhinho santo que dirigiu o vetusto educandário salesiano; de Stelio D’Allison, líder de várias gerações, simpatia irradiante, orador sacro demostênico da época; do inolvidável e queridíssimo padre Agostinho Caballero Martin, o ídolo da juventude planiciária, figura de santo e de pedagogo imorredoura na lembrança de muitas progênies desta terra — o guri, depois adolescente e mais tarde rapaz feito, cursou a etapa da faixa primária e a de Humanidades, diplomando-se Perito Contador pela Escola de Comércio Dom Bosco, anexa ao mesmo educandário salesiano desta cidade. 

Três anos mais tarde, Jauary se formava em Farmácia, pela Faculdade de Farmácia e Odontologia da antiga Universidade Livre de Manaus, e mais três anos — 1939 – quando estouravam as primeiras explosões das mortíferas armas bélicas na velha Europa, incendiada pela Segunda Conflagração Universal, recebia o jovem caboclo seu diploma de bacharel em Direito, grau que lhe colou a tradicional Faculdade do Amazonas.
No ano imediato ao de sua formatura no curso de bacharelado, ingressou na magistratura, passando, a atuar como Juiz Substituto, lotado na Primeira Vara Cível da Capital; em 1943, desempenhou as funções de Juiz de Direito da mesma Vara, cargo que ocupou durante longo tempo; posteriormente, ocupou idênticas funções nas Segunda, Terceira e Quarta Varas Cíveis da comarca metropolitana, tendo, ainda, exercido as funções do cargo de Juiz Tutelar de Menores e da Vara da Família.  

Data de 1951, seu ingresso no magistério superior. Foi, primeiramente, nomeado para exercer, em caráter interino, as atividades pertinentes à cadeira de Direito Judiciário Civil em nossa FDA. Em 1954, professou a cátedra de Direito da Família, na Escola de Serviço Social de Manaus, da qual é titular até hoje. Pelos idos de 1958, doutorou-se em Direito, defendendo a tese: Do saneamento na lide, passando a atuar, em função do concurso que deu lugar aquele fato, como Professor Catedrático de Direito Judiciário Civil, de nossa Faculdade.
Jauary Marinho foi membro do Conselho dos Advogados do Brasil, secção do Amazonas, e membro do Conselho Técnico Administrativo da Faculdade de Direito do Amazonas. É correspondente do Instituto Brasileiro dos Advogados, no Rio de Janeiro, cargo que assumiu, por indicação do presidente do sodalício, Doutor Otto de Andrade Gil, tendo sido, como recipiendário, juntamente com o Doutor Rego Monteiro, recebido em solene reunião da Casa, saudado pelo eminente mestre Eliezer Rosa. Foi eleito, juntamente com figuras de relevo da juriscultura pátria, entre elas citando-se os Professores Doutores Alfredo Buzaid, Moacir Lobo da Costa, Luís Machado Guimarães, Luís Bueno Vidigal e outros; membro do Conselho Consultivo da Revista de Direito Processual Brasileiro, função que exerce ainda atualmente.

Nosso biografado representou a Universidade do Amazonas e a Faculdade de Direito da mesma UA, no Congresso de Direito Processual, em Campos do Jordão, quando se debatia o projeto do Código de Processo Civil Brasileiro, de autoria do provecto mestre Alfredo Buzaid, em abril de 1965, tendo tido atuação destacada, oferecendo inúmeras sugestões integralmente aceitas pela Comissão Central dos Trabalhos. (...)
Em junho de 1965, o Conselho Diretor da Fundação Universidade do Amazonas, por unanimidade de votos, sufragou o nome de nosso biografado de hoje, para o importante e altilocado cargo de Magnífico Reitor da mesma Universidade, cargo para o qual, em junho de 1967, foi reeleito, à unanimidade do CD da FUA.O mesmo colegiado, a 20 de junho do ano em curso, mais uma vez elegeu o benquisto homem público para exercer as funções do cargo que vem desempenhando com singular eficiência e indiscutível dinamismo, para o quatriênio 70/74.

É inescondível que Jauary de Souza Marinho haja sido o grande benfeitor da Universidade do Amazonas e indiscutível amigo da mocidade estudiosa de sua terra de berço. Por essa mesma razão, foi agraciado pelo Conselho Universitário, com expressiva condecoração, consubstanciada na Medalha do  Mérito Universitário, insígnia que lhe foi conferida em sessão solene da Assembleia Universitária, realizada em nosso belíssimo Templo de Arte — o Teatro Amazonas — a 1º de março de 1968, tendo sido, então, carinhosamente saudado pelos corpos docente e discente da Universidade, cujos destinos comanda com equilíbrio, espírito de iniciativa e idealismo e fabulosa combatividade, há mais de cinco anos.

Foi em sua gestão à frente da Reitoria, com apenas cinco meses de atuação no desempenho do honroso cargo, que se instalavam, solenemente, as Faculdades de Medicina, Engenharia e Farmácia e Odontologia, cristalização de um sonho acalentado da mocidade glebária, que enfrentara sérias lutas, objetivando a consubstanciação daqueles superiores desiderata, inutilmente, durante muitos anos. Os derrotistas e os inimigos do progresso cultural da planície, aqueles mesmos que se opuseram, à sorrelfa, à luta inglória de um punhado de moços desta terra, entre os quais se contam Alexandre Trindade, Maury Bringel, o signatário deste trabalho, e outros cujos nomes nos escapam à memória, tacharam a iniciativa do corajoso Reitor da UA, de a "incurável loucura". Mas o idealismo venceu e a primeira turma de médicos amazonenses, feitos em faculdade idealizada, realizada e dirigida por caboclos autênticos, deverá sair no ano porvindouro, fato que realça, de modo soberbo, a obra deste índio teimoso e obstinado, que se alimenta de ideal, com a raça e o ímpeto de um legítimo filho da Taba dos Manaus, o vontadoso e implacável Reitor Jauary Guimarães de Souza Marinho!
E este trabalho agigantado cresce de vulto, quando consideramos que nossas Faculdades de Ensino Superior dão guarida a excedentes vindos do Sul do país para, aqui, corporificarem seus sonhos – numa bonita e inobnubilável colaboração da Universidade do Amazonas, à cultura brasileira e ao Ministério da Educação e Cultura e espetacular e comovente lição de atuação objetiva pela grandeza da Pátria, e de fidelidade aos princípios de integração e unidade nacional.
Graças ao desprendimento e ao trabalho exemplar de Jauary Guimarães de Souza Marinho, hoje, nossa Universidade, em franco e irreversível desenvolvimento, em funcionamento pleno e fecundo, sete Faculdades de Ensino Superior, instaladas em nossa metrópole:
Faculdade de Direito; de Ciências Econômicas; de Filosofia, Ciências e Letras; de Engenharia; de Medicina; de Farmácia e Odontologia e a Escola de Serviço Social “André Araújo”, com seus vinte cursos, de cuja existência muito pouca gente sabe em nossa terra: Direito, Estágio Profissional; Ciências Econômicas; Ciências Contábeis, Administração, Filosofia, Pedagogia, Química, Matemática, Letras, Ciências, Biblioteconomia, Jornalismo, Educação Física, Engenharia Civil (opções: Estruturação e Transportes), Medicina, Odontologia, Biofarmácia, Assistente Social, Estágio Profissional.

Dando cumprimento ao seu vasto programa desenvolvimentista, no plano cultural, mantém nossa Universidade cinco Centros:
de Estudos Portugueses;
de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos;
de Estudos Americanos;
de Estudos Franceses;
e de Psicologia Aplicada.

Jauary Marinho, da galeria
dos Reitores da Ufam
Há, ainda, localizados em dois edifícios próprios, os Institutos de Histologia e o de Anatomia e um Laboratório de Eletrônica de Línguas, com 36 cabines, para atender ao curso de Letras, e aperfeiçoar os conhecimentos da mocidade universitária da planície. (...)
O Magnífico Reitor Jauary Guimarães de Souza Marinho assinou vários convênios com o MEC, todos eles de real utilidade para a Universidade sob sua sábia orientação. Conseguiu obter, em tempo muito curto, a aprovação do Estatuto da Universidade, enquadrando-a na Reforma Universitária Brasileira (Decreto nº 66.810/1970).
Fato digno de registro, para enfatizar o crescimento do Ensino na faixa universitária, em nossa área: quando Jauary Marinho apanhou as rédeas UA, possuía ela, apenas, 833 estudantes; hoje — 1970 — cinco anos depois de sua investidura, possui a Universidade o expressivo número de 3.321, devidamente matriculados. Estes dados estatísticos falam bem alto da vitória de uma luta e têm o poder estimulante de tonificar um ideal.
Nosso biografado de hoje recebeu, no corrente ano, o Diploma Honorífico do Corpo Discente da Faculdade de Medicina da Universidade do Amazonas, que, igualmente, o escolheu como Patrono de sua Primeira Turma, num justo prêmio ao trabalho que o revolucionário Reitor vem realizando a favor da juventude amazonense, principalmente na esfera da Saúde. Em janeiro do ano fluente, foi diplomado pelos Companheiros da Aliança para o Progresso. Sua luta continua. E muito dela espera ainda o Amazonas.
O futuro fará justiça ao muito que Jauary Marinho tem feito pela terra comum, ele que está escrevendo, talvez, a mais bela página da sua vida útil – a mais bela página, sem dúvida, da História do Ensino Superior do Amazonas!

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