Recorte do jornal |
Em homenagem ao tricentenário de
Manaus – hoje reverenciado, compartilho a publicação do Jornal do Commercio
(16 agosto 1970), em que salienta a obra do Dr. Jauary Guimarães de Souza Marinho,
Reitor da então Universidade do Amazonas, cuja atuação se expandiu de 1965 a 1970.
Neste ano, ingressei na Faculdade de Direito do Amazonas, a sempiterna “Jaqueira”,
onde ouvi o nome deste Reitor ressoar pelos corredores e escadas daquela extinta
Casa de Ensino Superior.
A reduzida biografia deste Reitor
estava encartada em coluna jornalística (cujo autor deixei de copiar) de título
simpático: DIZ QUEM É.
Jauary Guimarães de Souza Marinho
Do aço da melhor têmpera, forra-se a personalidade
do velho Superintendente da Manáos Harbour Limited, que encaneceu na
luta do cais flutuante desta soberba Manaus — o nosso querido amigo Hildebrando
de Souza Marinho, esposo da veneranda mestra, dona Leonila Guimarães de Souza
Marinho, estrela de primeira grandeza na constelação do magistério da Planície.
Estes são os pais de nosso biografado de hoje, o Doutor Jauary Guimarães de
Souza Marinho, Magnífico Reitor da Universidade do Amazonas. Nasceu, Jauary, em
plena efervescência da primeira guerra mundial — a 9 de maio de 1917, nesta
metrópole cabocla, que foi o palco permanente de suas atividades desde a
infância.
No Colégio Dom Bosco, sob a orientação de Lourenço Gatti, o bondoso
velhinho santo que dirigiu o vetusto educandário salesiano; de Stelio D’Allison,
líder de várias gerações, simpatia irradiante, orador sacro demostênico da
época; do inolvidável e queridíssimo padre Agostinho Caballero Martin, o ídolo
da juventude planiciária, figura de santo e de pedagogo imorredoura na
lembrança de muitas progênies desta terra — o guri, depois adolescente e mais
tarde rapaz feito, cursou a etapa da faixa primária e a de Humanidades,
diplomando-se Perito Contador pela Escola de Comércio Dom Bosco, anexa ao mesmo
educandário salesiano desta cidade.
Três anos mais tarde, Jauary se formava em Farmácia, pela Faculdade de
Farmácia e Odontologia da antiga Universidade Livre de Manaus, e mais três anos
— 1939 – quando estouravam as primeiras explosões das mortíferas armas bélicas na
velha Europa, incendiada pela Segunda Conflagração Universal, recebia o jovem
caboclo seu diploma de bacharel em Direito, grau que lhe colou a tradicional
Faculdade do Amazonas.
No ano imediato ao de sua formatura no curso de bacharelado, ingressou na
magistratura, passando, a atuar como Juiz Substituto, lotado na Primeira Vara Cível
da Capital; em 1943, desempenhou as funções de Juiz de Direito da mesma Vara,
cargo que ocupou durante longo tempo; posteriormente, ocupou idênticas funções
nas Segunda, Terceira e Quarta Varas Cíveis da comarca metropolitana, tendo,
ainda, exercido as funções do cargo de Juiz Tutelar de Menores e da Vara da Família.
Data de 1951, seu ingresso no magistério superior. Foi, primeiramente,
nomeado para exercer, em caráter interino, as atividades pertinentes à cadeira
de Direito Judiciário Civil em nossa FDA. Em 1954, professou a cátedra de
Direito da Família, na Escola de Serviço Social de Manaus, da qual é titular
até hoje. Pelos idos de 1958, doutorou-se em Direito, defendendo a tese: Do
saneamento na lide, passando a atuar, em função do concurso que deu lugar aquele
fato, como Professor Catedrático de Direito Judiciário Civil, de nossa Faculdade.
Jauary Marinho foi membro do Conselho dos Advogados do Brasil, secção do
Amazonas, e membro do Conselho Técnico Administrativo da Faculdade de Direito do
Amazonas. É correspondente do Instituto Brasileiro dos Advogados, no Rio de
Janeiro, cargo que assumiu, por indicação do presidente do sodalício, Doutor
Otto de Andrade Gil, tendo sido, como recipiendário, juntamente com o Doutor
Rego Monteiro, recebido em solene reunião da Casa, saudado pelo eminente mestre
Eliezer Rosa. Foi eleito, juntamente com figuras de relevo da juriscultura
pátria, entre elas citando-se os Professores Doutores Alfredo Buzaid, Moacir Lobo
da Costa, Luís Machado Guimarães, Luís Bueno Vidigal e outros; membro do Conselho
Consultivo da Revista de Direito Processual Brasileiro, função que exerce ainda
atualmente.
Nosso biografado representou a Universidade do Amazonas e a Faculdade de
Direito da mesma UA, no Congresso de Direito Processual, em Campos do Jordão,
quando se debatia o projeto do Código de Processo Civil Brasileiro, de autoria
do provecto mestre Alfredo Buzaid, em abril de 1965, tendo tido atuação
destacada, oferecendo inúmeras sugestões integralmente aceitas pela Comissão
Central dos Trabalhos. (...)
Em junho de 1965, o Conselho Diretor da Fundação Universidade do
Amazonas, por unanimidade de votos, sufragou o nome de nosso biografado de
hoje, para o importante e altilocado cargo de Magnífico Reitor da mesma
Universidade, cargo para o qual, em junho de 1967, foi reeleito, à unanimidade
do CD da FUA.O mesmo colegiado, a 20 de junho do ano em curso, mais uma vez elegeu o
benquisto homem público para exercer as funções do cargo que vem desempenhando
com singular eficiência e indiscutível dinamismo, para o quatriênio 70/74.
É inescondível que Jauary de Souza Marinho haja sido o grande benfeitor
da Universidade do Amazonas e indiscutível amigo da mocidade estudiosa de sua
terra de berço. Por essa mesma razão, foi agraciado pelo Conselho Universitário,
com expressiva condecoração, consubstanciada na Medalha do Mérito Universitário, insígnia que lhe foi
conferida em sessão solene da Assembleia Universitária, realizada em nosso
belíssimo Templo de Arte — o Teatro Amazonas — a 1º de março de 1968, tendo
sido, então, carinhosamente saudado pelos corpos docente e discente da
Universidade, cujos destinos comanda com equilíbrio, espírito de iniciativa e
idealismo e fabulosa combatividade, há mais de cinco anos.
Foi em sua gestão à frente da Reitoria, com apenas cinco meses de atuação
no desempenho do honroso cargo, que se instalavam, solenemente, as Faculdades
de Medicina, Engenharia e Farmácia e Odontologia, cristalização de um sonho
acalentado da mocidade glebária, que enfrentara sérias lutas, objetivando a
consubstanciação daqueles superiores desiderata, inutilmente, durante
muitos anos. Os derrotistas e os inimigos do progresso cultural da planície, aqueles
mesmos que se opuseram, à sorrelfa, à luta inglória de um punhado de moços
desta terra, entre os quais se contam Alexandre Trindade, Maury Bringel, o
signatário deste trabalho, e outros cujos nomes nos escapam à memória, tacharam
a iniciativa do corajoso Reitor da UA, de a "incurável loucura". Mas
o idealismo venceu e a primeira turma de médicos amazonenses, feitos em faculdade
idealizada, realizada e dirigida por caboclos autênticos, deverá sair no ano
porvindouro, fato que realça, de modo soberbo, a obra deste índio teimoso e obstinado,
que se alimenta de ideal, com a raça e o ímpeto de um legítimo filho da Taba dos
Manaus, o vontadoso e implacável Reitor Jauary Guimarães de Souza Marinho!
E este trabalho agigantado cresce de vulto, quando consideramos que
nossas Faculdades de Ensino Superior dão guarida a excedentes vindos do Sul
do país para, aqui, corporificarem seus sonhos – numa bonita e inobnubilável
colaboração da Universidade do Amazonas, à cultura brasileira e ao Ministério
da Educação e Cultura e espetacular e comovente lição de atuação objetiva pela
grandeza da Pátria, e de fidelidade aos princípios de integração e unidade nacional.
Graças ao desprendimento e ao trabalho exemplar de Jauary Guimarães de Souza
Marinho, hoje, nossa Universidade, em franco e irreversível desenvolvimento, em
funcionamento pleno e fecundo, sete Faculdades de Ensino Superior, instaladas em
nossa metrópole:
Faculdade de Direito; de Ciências Econômicas; de Filosofia,
Ciências e Letras; de Engenharia; de Medicina; de Farmácia e Odontologia e a Escola
de Serviço Social “André Araújo”, com seus vinte cursos, de cuja existência
muito pouca gente sabe em nossa terra: Direito, Estágio Profissional; Ciências
Econômicas; Ciências Contábeis, Administração, Filosofia, Pedagogia, Química,
Matemática, Letras, Ciências, Biblioteconomia, Jornalismo, Educação Física,
Engenharia Civil (opções: Estruturação e Transportes), Medicina, Odontologia,
Biofarmácia, Assistente Social, Estágio Profissional.
Dando cumprimento ao seu vasto programa desenvolvimentista, no plano
cultural, mantém nossa Universidade cinco Centros:
de Estudos Portugueses;
de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos;
de Estudos Americanos;
de Estudos Franceses;
e de Psicologia Aplicada.
Jauary Marinho, da galeria dos Reitores da Ufam |
Há, ainda, localizados em dois edifícios próprios, os Institutos de
Histologia e o de Anatomia e um Laboratório de Eletrônica de Línguas, com 36
cabines, para atender ao curso de Letras, e aperfeiçoar os conhecimentos da
mocidade universitária da planície. (...)
O Magnífico Reitor Jauary Guimarães de Souza Marinho assinou vários
convênios com o MEC, todos eles de real utilidade para a Universidade sob sua
sábia orientação. Conseguiu obter, em tempo muito curto, a aprovação do
Estatuto da Universidade, enquadrando-a na Reforma Universitária Brasileira
(Decreto nº 66.810/1970).
Fato digno de registro, para enfatizar o crescimento do Ensino na faixa universitária,
em nossa área: quando Jauary Marinho apanhou as rédeas UA, possuía ela, apenas,
833 estudantes; hoje — 1970 — cinco anos depois de sua investidura, possui a
Universidade o expressivo número de 3.321, devidamente matriculados. Estes
dados estatísticos falam bem alto da vitória de uma luta e têm o poder
estimulante de tonificar um ideal.
Nosso biografado de hoje recebeu, no corrente ano, o Diploma Honorífico
do Corpo Discente da Faculdade de Medicina da Universidade do Amazonas, que,
igualmente, o escolheu como Patrono de sua Primeira Turma, num justo prêmio ao
trabalho que o revolucionário Reitor vem realizando a favor da juventude
amazonense, principalmente na esfera da Saúde. Em janeiro do ano fluente, foi diplomado
pelos Companheiros da Aliança para o Progresso. Sua luta continua. E
muito dela espera ainda o Amazonas.
O futuro fará justiça ao muito que Jauary Marinho tem feito pela terra
comum, ele que está escrevendo, talvez, a mais bela página da sua vida útil – a
mais bela página, sem dúvida, da História do Ensino Superior do Amazonas!
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