Já estava eu há três anos na Polícia Militar do Estado e, em diversas ocasiões, tivera
contato com o deputado estadual Danilo Correa, quando aconteceu esse trágico acidente. Resultou numa consternação no quartel da Praça da Polícia, afinal era nosso
representante na Assembleia Legislativa. O sepultamento ocorreu com as honras
de praxe; recuperei a lembrança neste matutino. Detalhe: a PMAM
somente voltaria a eleger um deputado próprio em 1984, com a eleição do coronel
José Cavalcanti Campos.
Abaixo a
reprodução da reportagem do Jornal do Commércio, de 19 outubro de 1969.
Exatos 50 anos!
Lamentavelmente confirmou-se, às primeiras horas da tarde de ontem, o
desaparecimento do avião Catalina da Cruzeiro do Sul, prefixo PP-PCW, ao tentar
o pouso no rio em frente a cidade de Canutama. A informação foi trazida a
Manaus através do rádio de bordo do avião PP-PEB, que saiu de Manaus em missão
de busca e salvamento, sob o comando do comandante Edil.
Mais tarde essa informação era confirmada oficialmente ao governador Ruy
Araújo pelo prefeito de Canutama, sr. Francisco Belmino de Pontes, e pelo juiz
de direito, sr. Joaquim Maciel Parente.
COMO OCORREU O DESASTRE
Segundo o depoimento de pessoas que presenciaram a tragédia, por ocasião
da descida do Catalina, desabava um forte temporal sobre a cidade, com fortes
ventos, o que tornava o rio bravio e perigoso. O aparelho assim mesmo tentou
descer, iniciando o primeiro “toque” nas águas do rio, para na segunda
tentativa, quando arremetia, ir de encontro às águas de nariz, elevando-se uma
das partes do aparelho, e em seguida, com a violência das águas, partir-se ao meio.
PÂNICO A BORDO
Com o impacto violento contra as águas, os passageiros foram tomados de pânico,
jogando-se para fora do aparelho, alguns machucados, sendo em seguida socorridos
pelas lanchas que se encontravam no porto de Canutama, que vieram, logo em auxílio.
Entre essas lanchas estavam as da Malária, de particulares, incluindo a embarcação
que aguardava o pouso do avião para levar a bordo os passageiros que embarcariam
em Canutama para Manaus.
FICARAM PRESOS NO AVIÃO
Dos 10 passageiros que o Catalina PP-PCW transportava, quatro ficaram presos
no seu interior, provavelmente impedidos de sair, por encontrar dificuldades
para desatar os cintos. Um deles, o deputado estadual Danilo de Aguiar Corrêa,
segundo o depoimento de um dos sobreviventes, teria batido com cabeça, perdendo
os sentidos. Estes afundaram com os restos do aparelho, e só não foram
socorridos devido ao pânico que se estabeleceu, pois o PP-PCW ainda ficou boiando
por cerca de 15 minutos, mas os salvadores não imaginaram que ainda tivesse
ficado alguém a bordo.
OS DESAPARECIDOS
Estão no fundo do rio, presos ao avião as seguintes pessoas: deputado
Danilo de Aguiar Corrêa; Raimundo Bentes da Silva, radiotelegrafista do DER-Am,
que vinha de Lábrea, onde fora montar uma estação de fonia; senhora Maria
Alves, e a menor Maria Neide Alves, embarcadas em Lábrea.
Recorte do JC, edição 19 outubro 1969
O deputado
Danilo de Aguiar Corrêa cumpria seu sexto mandato ao falecer no desastre aviatório
da tarde de anteontem. Eleito para a Assembleia Constituinte de 1947, desde
então se ligou ao Legislativo, ocupando os mais diversos cargos nas várias
comissões parlamentares.
Nascido a
4 de janeiro de 1913, formou-se em Medicina na Universidade do Pará. Retornou
logo em seguida a Manaus, onde passou a exercer a profissão. Ingressou nos
quadros da Polícia Militar como médico, tendo sido reformado no posto de
coronel. Era ainda médico sanitarista do Ministério da Saúde.
Em sua
intensa vida política foi, também, prefeito de Barcelos. Todavia, sua grande
base eleitoral era o rio Purus, ou mais precisamente o município de Boca do
Acre. Ao sofrer o desastre fatal, regressava de Lábrea.
Nenhum comentário:
Postar um comentário