O segundo, a figura do artista plástico Branco Silva, cujo
nome artístico já absorveu o conectivo “e”, do que resulta Branco e Silva pra
lá e pra cá, ainda assim encontrado em alguns locais da cidade. A ilustração mostra um seu trabalho realizado em 1948.
Enfim, a notícia de que acabara de regressar do Sul, onde
estivera em tratamento de saúde. A melhora certamente fora nenhuma, pois
faleceu em 12 de fevereiro de 1959.
LENDAS E FATOS DA AMAZÔNIA
Edson Epaminondas de Mello (*)
Capa de livro elaborada por Branco Slva, em 1948 |
Branco Silva, exímio mestre dos pinceis, apresenta-nos criações
de seu espírito de escol, lendas e fatos do nosso folclore. Fatos, porque
passados e vividos em nosso hinterland.
São quadros de beleza dantesca, que impressionam ao mais
corajoso e a todos deixam um quê de inquietação no espirito, porque dá-nos a
quase certeza de seus personagens terem vida.
Há meses, rabiscamos algo sobre “Um artista e um gênio”,
publicado por gentileza de Aloisio Archer Pinto em um dos “lideres” da imprensa
manauara.
Dentre as criações do ilustre mestre, falamos que estava
em confecção – o Mapinguari. Monstro lendário, meio macaco, meio homem, trazendo
no meio da testa estreita um só olho avermelhado. Animal cabeludo e disforme, idealizado
pela inteligência do mestre, em acordo com informes vários, dados por mateiros
e seringueiros.
Aterroriza pelo seu ar sumamente feroz.Merece ser visto por todos os amazonenses, que assim conhecerão a mais temida lenda do vale verde, corporificada pela mente privilegiada de Branco Silva.
Com relação aos novos trabalhos de Branco Silva, assim se
expressou ilustre visitante, vindo do Rio de Janeiro – “A natureza amazônica nos
apresenta às vezes, inteligências tão privilegiadas e avançadas, que aquele que
observa e estuda, fica sublimemente entusiasmado a ponto de acreditar, ser
aqui, aonde correm as águas do Rio-Mar, o verdadeiro habitat dos gênios”.
Assim, nos depara, esse grande artista que aqui nasceu e
aqui reside nos surpreendendo de quando em vez, com as suas exposições ou, como
agora, com as suas já conhecidas lendas da Amazônia, e fatos ocorridos nas
selvas misteriosas e longínquas de nossa terra.
Branco Silva, que acaba de chegar do Sul onde foi em
busca de melhoras à sua saúde abalada, ainda convalescente do mal súbito que o
atacou, vem de nos apresentar nova e bela exposição.
E assim, nessa enternecedora prova de apreço, vem por
longas e sinceras frases, saídas de seu coração leal, até porque, filho de
outras plagas glorificando o nosso velho e estimado mestre Branco Silva tornando-se,
dessarte, credor de gratidão dos amazonenses, que por minha descolorida palavra
dizem-lhe, obrigado, ilustre amigo desconhecido, por tudo que escreveste a
respeito do nosso Branco Silva, porque lhe fizeste a justiça que seus próprios conterrâneos
pretendem negar a seu reconhecido valor.
Há dias passados, tratando de assuntos profissionais com
o Dr. Mário Jorge (Couto) Lopes, para
variar nossa conversação, e falando sobre fatos do nosso Amazonas, lembramo-nos
de Branco Silva. Disse-nos o Dr. Mário – “seu colega, encontrei-me dias
atrás com o velho amigo Branco Silva, e achei-o outro; cansado, semblante de
sofrimento; não é o mesmo Branco Silva, vivo, risonho e com ar próprio de quem
confia sempre no futuro”.
Estivera doente o velho mestre e, ainda não de todo
restabelecido, continua entretanto em seu atelier de trabalho, onde, tantas e
belas vitórias há sempre conseguido para o Amazonas, tornando-o, por seus belíssimos
quadros e motivos planiciários, conhecido não só no Sul do país, como também no
exterior.
Teve o brilhante advogado uma lembrança sublime, que bem
diz de seu caráter cristão: “Julgo que o governo do Estado devia premiar o
nosso Branco Silva com uma aposentadoria, de pelo menos Cr$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) mensais, de
vencimentos, como reconhecimento do Amazonas ao velho mestre que, por muitas
vezes, glorificou aqui como alhures o nome de seu grande Estado”.
Achei maravilhosa a ideia do Dr. Mário Jorge, e senti-me
feliz, verificando que em nossa terra os verdadeiros valores intelectuais não são
de todo esquecidos, sempre há no meio das atribuições de futebol e politica um
Dr. Mário Jorge fazendo justiça a quem merece.
Visitemos, pois, o atelier de Branco Silva, vivendo um
pouco de sua vida de alegrias e tristezas, em um ambiente onde sempre tem
lutado pela grandeza e glorificação do Amazonas. Assistamos de perto o
entusiasmo contagiante com que o mestre explica-nos seus trabalhos e suas
criações.
Levemos ao insigne mestre em sua oficina de trabalho o
nosso abraço amigo e, também, um pouco de conforto material, pagando a reduzida
importância da entrada a fim de ajuda-lo em outros trabalhos, que pretende
realizar. O atelier do mestre é para ele o reduto mais sagrado,
onde muito tem sofrido e também onde muitas glórias conseguiu para seu nome e
para nosso querido Amazonas; suas criações e seus belos quadros são a razão mais
sublime de sua vida.
Abracemos ao mestre no recinto sagrado de suas criações,
e também sua esposa, Dona Orientina Ruas da Silva, a querida e inesquecível professora
de nossa primeira infância, a companheira indormida do estimado Branco Silva,
em todas as alegrias ou tristezas, dizendo-lhes... parabéns, mestres... pelo
muito que tendes feito pelo Amazonas e pela glorificação de seu nome,
tornando-o conhecido até no exterior.
A Branco Silva e Dona Orica (sic), o nosso sincero abraço.
(*)O Jornal.
Manaus, 8 de novembro de 1958
parece que Branco Silva morreu pobre, ainda que muito famoso no Norte. Seus trabalhos estou desaparecendo por falta de cuidado
ResponderExcluirSou a segunda neta de Branco Silva . Convivi muito perto de meu avô e cheguei a ter aulas de pintura e escultura com ele . Esse apelido que as pessoas chamavam minha avó, Orica, era como ele a chamava Oh Rica ! Ele tinha um sotaque lusitano, pois foi criado em Lisboa, veio para o Brasil já adulto.Entao, Oh Rica , transformou-se em Orica aos ouvidos dos aprendizes do ATELIER. Não vejo referências a ele no teatro Amazonas. Ele foi diretor do theatro até morrer . Quando ficou doente , foi afastado, porém, continuou como diretor . Em 1957 , ele recebeu ,no salão nobre , o presidente de Portugal, Craveiro Lopes . Tenho registro em fotografias. Não morreu pobre , vivia bem , e deixou uma boa herança. Minha avó,Orientina Ruas da Silva, viveu muito bem até morrer vinte anos depois . Lucia Regina Guerreiro Castelo Branco.
ExcluirDois de seus filhos faleceram ,Alpha da Silva Guerreiro e Murilo ruas da Silva. Tem vivo vinicius ruas da Silva. Professor emérito da URFJ.esta com 95 anos com saúde fica e mental perfeitas .
ExcluirLucia você é neta de Branco Silva? poderia enviar o seu contato?
Excluireu gostei e muito legai
ResponderExcluirBoa noite a todos. tenho dois quadros pintados e assinados com assinaturas de branco Silva não sei se refere-se ao mesmo branco Silva são pinturas do amanhecer-lago redondo de Amazonas e gostaria de vende-los não sei se possuí algum valor caso alguém se interesse deixo aqui meu contato de whatsapp:5521991880329
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