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Este causo, contado pelo saudoso mestre Mário Ypiranga, já teve vários
personagens. Acho que o último mais conhecido foi Leonel Brizola.
O VICENTINA
O Dr. (bacharel em Direito) Vicente Torres da Silva Reis era baixinho,
comilão e apegado ao seu Jornal do Comércio, na época localizado do lado
esquerdo da avenida de Eduardo Ribeiro, número noventa, mais ou menos onde foi
a "Farmácia Barreira" quase à esquina da rua Henrique Martins. O
fundador do jornal fora um jornalista português naturalizado.
Depois de instalado o jornal no edifício da mesma artéria, no "Açaizal," é que adquiriu as linotipos (a segunda frota, porque a primeira foi adquirida por Eduardo Ribeiro para equipar o Diário Oficial do Estado) que deram prestígio ao jornal mais lido no Amazonas e com sucursais na "Oropa”, França e Bahia.
Foi quando estava no apogeu da carreira brilhante de
"jornalista festejado", que o Dr. Vicente Reis achou de entrar na
política, pelo lado esquerdo, isto é, pela oposição. Candidato a deputado
estadual foi eleito com "expressiva votação’’, mas a sua frásica
politiqueira não o ajudou muito, arranjou inimigos que hierarquicamente vinham
do governador ao mais baixo salafra da Polícia Civil.
O governador era então o "Vatapá de Suíças",
codinome do médico Dr. Jonatas de Freitas Pedrosa, baiano de nação e dominado
pela prole que ditava ordens no palácio e desordens na via pública. Ameaçado de
pau e de ter a redação varejada pela polícia à paisana, o Dr. Vicente
refugiou-se no lugar
mais próximo do jornal e menos perigoso, que foi à casa do seu amigo o
comendador Antônio de Matos Areosa, vice-cônsul de
Portugal e representante-gerente das duas mais fortes companhias de seguros, a Sagres e a Aliança da Bahia, ambas em prédio de sua propriedade, situadas bem
mesmo ao lado da polícia, à rua Marechal Deodoro.
Durante três dias e duas noites ficou o Dr. Vicente Reis
homiziado ali, garantido pela circunstância de "território neutro",
inviolável.
Mas o jornal chamava-o, não podia deixá-lo entregue à
visão pouco esclarecida (esta
sempre foi a opinião do jornalista à respeito do mérito dos seus devotados
auxiliares) do Dr. Antônio dos Passos Gomes. Por isso determinou fugir logo que
a noite baixasse. A casa nobre do comendador Matos Areosa ficava na rua de
Vinte e Quatro de Maio, mística a do Dr. José Pais de Sousa Brasil, advogado, e
muito perto da do deputado Dr. Antônio de Sá Peixoto, seu inimigo figadal, até à morte.
Fugiu. E como fugiu di-lo melhor as picuinhas que circularam
em volantes impressos, depois da patuscada. Eu não sei se o leitor está a par
de que o Dr. Vicente Reis havia escrito farsas que foram bem recebidas pelo
público no Rio de Janeiro e servido de
delegado-auxiliar na polícia daquela cidade, quando teve oportunidade de
escrever um folheto versando a gíria dos ladrões daquela capital. Estava,
portanto, o jornalista no seu metier.
A versalhada abaixo nos foi comunicada pelo Dr. Pais
Brasil, quando professor de Direito Constitucional na Faculdade de Direito.
Vicente Reis, o embusteiro,
Escapou dos seus apuros
Porque usou o roupeiro
Escapou dos seus apuros
Porque usou o roupeiro
Da madame dos seguros.
O Vicente deputado
Que não gosta de biraias,
Escapou todo cagado
Escapou todo cagado
De chapéu, sombrinha e saias.
Com uma barriga de meses
E uns peitos monumentais,
O Vicentina das reses
Fugiu dos policiais.
E uns peitos monumentais,
O Vicentina das reses
Fugiu dos policiais.
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