Parte do poema manuscrito |
Para relembrar esta data e o olvidado poeta, reproduzo o verbete constante da História Literária do Ceará, de Mário Linhares.
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Detalhe da folha de rosto do livro |
Com
a morte de Quintino Cunha ocorrida em Fortaleza, a 2 de junho de 1943, perdeu o
Ceará um dos seus mais inspirados poetas. Nascido
em São Francisco de Uruburetama, a 24 de julho de 1875, Quintino foi aluno da
antiga Escola Militar do Ceará, advogado provisionado no Amazonas e formado
pela Faculdade de Direito do Ceará, a 3 de dezembro de 1909.
Era
um dos últimos representantes de uma geração de homens de letras que muito
brilho deram (sic) à inteligência do
Norte brasileiro. Estreou na imprensa aos 11 anos e, aos 17, começara a advogar(exerceu a advocacia como solicitador, aqui
em Manaus, ver Faceta de
Quintino Cunha, postada em 8 de maio).
No
júri ou nos comícios populares, era considerado um dos maiores oradores
cearenses, pela fluência de linguagem, pela improvisação surpreendente no jogo
expressivo das imagens, pela eloquência com que sabia conduzir o pensamento no
ímpeto, por vezes desordenado das ideias, na defesa das causas populares, dos
injustiçados e dos humildes. Tudo isso era temperado por uma grande veia
humorística que o notabilizou como um dos mais temíveis esgrimistas da sátira.
Neste
sentido, há dele vasto e curiosíssimo repositório, de que uma pequena parte
Renato Soldon reuniu em volume, com o título de “Piadas do Quintino”, com várias
edições esgotadas. Rodrigues de Carvalho, fazendo, em 1899, o retrospecto da
vida literária cearense, escreveu a seu respeito:
“Quintino
Cunha, gênio de Bocage, transmigrado para um cérebro que não tem acomodações. É
o mais humorista dos poetas cearenses e, como lírico, tem verdadeiras belezas.
Seria um nome gloriosamente reputado, se não tivesse no crânio talento demais a
desarmazenar-se. Repentista, alma da troça e da sátira... a Quintino Cunha só
falta o meio de domar a impetuosidade das correntes de sua inteligência.”
Como
poeta, principalmente, os seus versos cercaram-se de uma aureola de grande
prestigio na região em que viveu. Inspiração natural animada de efusão lírica,
suas trovas correm, de boca em boca, cantadas pelo sertão. A grande maioria de
sua produção poética se acha espalhada pela imprensa. Sua obra principal, Pelo Solimões – publicada em 1906, em
Paris (FRA), mereceu os aplausos da crítica nacional.
São
versos que o poeta chamou de “norte-brasileiros”, onde vibra a voz ingênita da
raça, em vivas emoções do amor à gleba. Quem não guarda de memória aquela linda
quadra do poema em que o poeta, descrevendo o encontro das águas do rio Negro
com o Solimões, que forma o Amazonas, diz:
Se
estes dois rios fossemos, Maria,
Todas
as vezes que nos encontramos,
Que
Amazonas de amor não sairia
De
mim, de ti, de nós que nos amamos...
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