Capa do livro |
Outro viajante
do século XX, o amazonense Jayme R. Pereira, visitando sua cidade natal após 20 anos de ausência, é o autor deste texto. Disso
resulta a louvação sobre a cidade que já sentia pesadamente os efeitos da
derrocada da borracha. Outro detalhe que se destaca no livro é a ortografia da
capital amazonense – Manáus, quando Manáos já havia sido convertida e, assim, excluído
o acento gráfico. Quando efetuei a atualização ortográfica, corrige em todo o texto este
termo, deixando-o apenas no título.
Manáus (sic)
MANAUS é bem a "cidade surpresa". E' um ponto de
civilização em meio à jungle
incivilizada.
Teatro Amazonas, ilustração de G. Lorensini |
Manaus é sem favor uma das mais belas cidades brasileiras. Em
permanente contato com os países europeus, de onde recebe ao mesmo tempo em que
as demais metrópoles sulistas, todas as novidades originarias dos centros industriais
e comerciais do velho mundo, Manaus oferece aos que lá habitam ou aportam todo
o conforto próprio das grandes cidades.
Ruas largas e bem traçadas; praças arborizadas e
ajardinadas; ótima iluminação elétrica com lâmpadas de arco voltaico; bondes elétricos
confortáveis; belas casas de residência; prédios públicos majestosos; um teatro
que a todos surpreende por sua imponência e beleza (construção de Henrique
Mazzolani); monumentos; cinemas; sorveterias elegantes com seus terraços sempre
apinhados de
gente, tudo, tudo logo denota aos que por lá passam uma situação de conforto e progresso a que não chegaram ainda muitas outras capitais brasileiras.
gente, tudo, tudo logo denota aos que por lá passam uma situação de conforto e progresso a que não chegaram ainda muitas outras capitais brasileiras.
O porto de Manaus é flutuante. Sobre uma série enorme de tambores de
aço flutuantes assenta-se uma plataforma, parte de cimento armado e parte de
madeira, plataforma essa ligada ao continente por uma ponte. Se as águas sobem,
na enchente, a plataforma sobe com elas, ficando até o mesmo nível da terra; se
as águas baixam, na vazante, a plataforma desce e a ponte parece um plano inclinado.
No local de atracação dos navios há armazéns por onde desembarcam os passageiros
e as bagagens, enquanto que as cargas são
transportadas para terra por via aérea através de cabos de aço como no caminho aéreo do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Neste porto atracam todos os navios que chegam á capital de Manaus, mesmo os grandes transatlânticos das companhias inglesas e alemãs aí encostam com toda a facilidade.
transportadas para terra por via aérea através de cabos de aço como no caminho aéreo do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Neste porto atracam todos os navios que chegam á capital de Manaus, mesmo os grandes transatlânticos das companhias inglesas e alemãs aí encostam com toda a facilidade.
Cachoeira do Tarumã grande, mesmo ilustrador |
A crise da borracha atrasou consideravelmente o desenvolvimento
da capital amazonense. O que Manaus apresenta hoje é quase o que já existia há vinte
e tantos anos atrás, com exceção de uma ou duas dezenas de prédios públicos,
entre os quais o da Saúde Pública. De forma que Manaus de hoje é ainda o que
nos deixaram aqueles governos passados que desfrutaram a época da borracha
valorizada. Borracha de 17 mil réis o quilo e sem a concorrência das Índias (sic). No tempo em que se acendia
charuto com cédulas de quinhentos mil réis...
Se tais governos esbanjaram, por um lado, os dinheiros arrecadados,
deixaram, por outro, o que Manaus possui ainda hoje de melhor.
Para dar uma ideia da facilidade com que se gastava ao tempo das "vacas gordas", basta dizer que um dos governos dessa época gastou para mais de mil contos na construção de um prédio que foi abandonado logo que os alicerces afloraram à superfície do terreno. O governo seguinte, não concordando com a planta escolhida, resolveu demolir o que estava feito e na demolição gastou mais que o antecessor.
E até hoje, cerca de 30 anos depois, ainda são vistos em Manaus os alicerces outra vez abandonados. Em todo caso, deixaram esses mesmos governos outros edifícios e alguns monumentos, pontes magníficas e outras coisas mais que embelezariam qualquer das cidades mais adiantadas do Brasil, inclusive Rio e S. Paulo.
Para dar uma ideia da facilidade com que se gastava ao tempo das "vacas gordas", basta dizer que um dos governos dessa época gastou para mais de mil contos na construção de um prédio que foi abandonado logo que os alicerces afloraram à superfície do terreno. O governo seguinte, não concordando com a planta escolhida, resolveu demolir o que estava feito e na demolição gastou mais que o antecessor.
E até hoje, cerca de 30 anos depois, ainda são vistos em Manaus os alicerces outra vez abandonados. Em todo caso, deixaram esses mesmos governos outros edifícios e alguns monumentos, pontes magníficas e outras coisas mais que embelezariam qualquer das cidades mais adiantadas do Brasil, inclusive Rio e S. Paulo.
Com exceção da praça São Sebastião pavimentada em parte
com blocos de madeira e
em parte com pedrinhas brancas e pretas, formando desenhos caprichosos, as demais ruas e praças são
calçadas com paralelepípedos.
Tentativas foram feitas com asfalto, mas o calor do verão não permitiu. Os dois
não se combinam...
O Amazonas é pobre em pedreiras. A não ser as pedras miúdas das cachoeiras e a pedra chamada "jacaré",
muito frágil e avermelhada por conter grande quantidade de óxido de ferro,
outras quase não existem por lá e é com grande dificuldade que se podem obter
tais elementos necessários, sobretudo, à pavimentação da cidade. Por isso - não
se espantem os leitores - Manaus foi calçada com paralelepípedos importados de
Portugal. Até parece mentira... De Portugal! Saíram esses paralelepípedos ao
preço de 1$500 réis por unidade. E ainda foi um alto negocio, porque os
importados do Ceará custaram 6$000 réis cada um!
Coisas da Amazônia...
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