LIGEIRO HISTÓRICO DA
IGREJA DE N. S. DOS REMÉDIOS
Francisco Bemfica (*)
A ânsia de descobrimentos marítimos no
século XV – força poderosa que tanto impedia o homem a ir “sobre o dorso das
ondas conquistarem a predestinação dos heróis” em busca do desconhecido, na glória
de desvendar novas terras – jogando o aventureiro audaz à Terra do Cruzeiro,
trouxe com ele a religião católica.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, em construção, no início do século passado |
E foi esta – à qual mais deve o Brasil a
sua civilização – a primeira que, pela palavra purificadora de seus
missionários, veio dar a ideia do verdadeiro Deus aos nossos nativos, sendo
também a primeira que erigiu templos, desde o litoral aos sertões mais
distantes das nossas matas, cujas modernas catedrais e as ruínas de antigas
igrejas atestam em nossos dias a obra formidanda do Cristianismo no Brasil.
* * *
Majestosa, embora o seu tamanho, olhando
a mansidão das negras águas da baía do mesmo nome, está a igreja N.S. dos
Remédios encerrando em si um capítulo magnífico da história da religião
católica no Amazonas, a terra que “ainda não estava preparada para receber o homem”.
Em 1818, toma conta do governo da
Capitania Manoel Joaquim do Paço. Homem escravo do ouro, ambicioso, tratou logo
de arranjar meios, embora ilícitos, por onde pudesse realizar sua desmedida
auricídia. E assim pensando, erigiu, uns 609 passos abaixo da povoação da
Barra, uma capela que denominou de N.S. dos Remédios.
Escudado sob
a falsa aparência de seu benfeitor, organizou uma lista dos moradores que
podiam dispor de dinheiro, e mandando-os chamar um a um, “arguia-lhes sobre o
crime do cordeiro pelo lobo da fábula, e sem mais os deixava ir passear na
Barra, e lhes impunha a taxa de esmola para a igreja N.S. dos Remédios de
500$000, 400$000 e 300$000”. E mais, era praxe oferecerem-lhe uma ceia,
aumentando as despesas de mais uns 80$000. E só assim poderiam se ver livres...
Felizmente
que esse salteador mascarado não demorou muito no governo da Capitania, sendo
logo deposto.
Ao chegar,
em 1821, a notícia do movimento constitucionalista, foi a metade da igreja
destruída pela fúria inconsistente de alguns exaltados patriotas, sendo, porém,
pelos esforços do ouvidor Dr. Manuel de Bernardino Figueiredo, reconstruída e
franqueada ao público mais ao menos no ano de 1828. Erroneamente J.B. (João Batista de Faria e Souza), em uma
monografia publicada sobre a igreja dos Remédios, assinala essa reconstrução no
mesmo ano de 1821, pois em ofícios encontrados no arquivo público verificamos
que só em 1827 é que chegou à Barra o ouvidor Manuel de Bernardino Figueiredo.
Logo, os
reparos por ele feitos, só poderiam ter sido depois de 1827...
* * *
Quando, em
1850, no dia 2 de julho, a igreja matriz N. S. da Conceição foi destruída pelas
labaredas de um incêndio, os Ofícios Divinos passaram a ser celebrados na
igreja dos Remédios. Devido estar esta situada no bairro do mesmo nome, a E. (Leste) da cidade, e para se ir até lá
fosse preciso atravessar alguns igarapés que cortavam a cidade, e em tempos de
cheia só houvesse passagem em pequenas canoas, que punham em perigo de vida os
seus tripulantes, ou então uma péssima estrada, muito longa, que contornava a
cidade, algumas dificuldades se opunham aos fieis dos outros bairros – S.
Vicente e Matriz – a irem comumente à improvisada matriz.
Na
presidência do Dr. João Pedro Dias Vieira, em 1867, foi-lhe levantada uma
torre, que as chuvas não deixaram terminar os últimos reboques, causando isso,
mais tarde, a quase destruição da parede-mestra. Também lhe reformaram interior
e exteriormente, erigiram à entrada um coreto para música e ao lado do altar
uma tribuna, correndo todas as despesas por conta do município e de uma
subscrição feita pelo reverendo cônego Vigário-Geral.
* * *
Em consequência de não terminarem os
reboques derradeiros da torre e a parede-mestra ameaçar desabar, novos reparos
se impunham à igreja, e que não eram descuidados pelos governos, desde 1857.
Wilkens de Matos, em seu relatório à
Assembleia Legislativa, em 25 de março
de 1870, declara que as obras da igreja dos Remédios estão quase concluídas,
tendo feito uma despesa de 10.626$304 (dez
contos, seiscentos e vinte e seis mil e trezentos e quatro réis).
No ano
seguinte foram os reparos terminados, na presidência Miranda Reis, que gastou
mais 2.269$343. Foi somente em 1878 – cinco anos mais tarde depois de
sancionada a lei nº 564, dividindo a freguesia de N.S. da Conceição de Manaus
em duas – que o bispo diocesano Dom Macedo Costa, canonicamente instituiu a
paróquia de N.S. dos Remédios, por ter sido então promulgada a referida lei nº
564.
* * *
Em 1896, a
23 de maio o Congresso dos Representantes do Estado decretou e promulgou uma
lei que autorizava o governo a “entregar os próprios estaduais e municipais,
destinados aos ofícios da religião católica, ao Bispado do Amazonas”. Como não
pudesse entrega-los em perfeito estado, o Dr. Fileto Pires, governador do
Estado, ordenou que fosse entregue ao Bispado a quantia de 50.000$000 (cinquenta contos de réis), a fim de
serem renovados os próprios ofertados. Desse dinheiro, 10.000$000 tocaram à
igreja de N.S. dos Remédios. (veja a 2ª parte)
(*) Reproduzido da revista Victória-regia, circulada em abril de
1932. O autor do texto era seu proprietário e editor.
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