Quartel da Polícia Militar (fundos), visto da rua Lima Bacury, foto do Album Findanza, 1902 |
Em janeiro de 1890, com a posse do primeiro governador, tenente Ximeno de Villeroy, a organização politica do Estado toma novo encaminhamento. A Polícia Militar (Batalhão Militar de Segurança) ocupa o edifício na praça da Polícia, ainda que em sua dimensão original, todavia, capaz de abrigar com mais conforto aos policiais. A ampliação do mesmo quartel que herdamos ocorreu em 1895, realizada na administração de Eduardo Ribeiro (1892-96), e era comandante da Força Estadual o major Raimundo Afonso de Carvalho.
A Banda de Música ocupava uma parcela
nesse novo endereço. Acompanhava a corporação, que crescia a par da evolução do
Estado ou, para ser mais consequente, da capital do Amazonas. Tratando-se de Segurança
Pública, em janeiro de 1897, o governador Fileto Pires amplia a Força, organizando
o Regimento Militar do Estado, composto de dois batalhões e, quanto ao assunto
que interessa a este trabalho, de 56 músicos.
A existência de dois batalhões levou
a criação de duas bandas de música. Era a pujança da capital da borracha que
permitia ainda o aparecimento de terceira banda, esta para atender ao Corpo de
Bombeiros. Há registro de seu maestro e de alguma presença nos coretos de
Manaus, apesar de sua pouca duração. Todavia, cabe uma indagação: com tantas
bandas militares, como a corporação conseguiu tantos músicos?
Objeta o contramestre Augustinho: os
músicos que formaram os primeiros naipes, “podem ter vindo do Nordeste”.
Entretanto, ocorre-lhe outra hipótese: aqueles profissionais podem ter
adquirido o gosto pela música durante o ensino secundário, que abrigava o ensino desta arte. Muitos deles
“passaram pelo Estabelecimento dos
Educandos Artífices”, cujos mestres de música também ministravam aulas
particulares. De minha parte, acredito
que a hipótese mais viável foi o da importação nordestina, cujo sistema ocorreu
até o final do século passado.
Essa presença de duas estruturas musicais
na Polícia Militar ensejou a criação de uma direção superior, acima obviamente dos
maestros. Deu-se a este organismo o título de Inspetor de Música, função que podia
ser exercida por oficial do ramo ou da tropa. Alguns aspectos de seu desempenho
são descritos pelo autor de A música na Polícia Militar do Amazonas... Era o
responsável pela assinatura de contrato musical com particulares para execução
pela banda. Cabia-lhe ainda “o recebimento do valor acertado”, e a divisão entre
a corporação e os músicos empregados.
Um desses contratos, recolhido pelo
Augustinho, em documento de 1910, detalha muito bem o enunciado: “Aprova-se o
contrato feito pelo Sr. Inspetor de Música com a diretoria do Whit-club, de
sete orquestras da Banda de Música, para tocarem nas funções do mesmo, a
realizarem-se (sic) nas noites (de) 8, 15, 22 e 29 do corrente, e nas (de) 5, 6 e 8 de fevereiro; sendo nas
noites de 8 e 22 as orquestras de cinco músicos cada uma e as demais de dez
ditos, inclusive a pancadaria (instrumentos
de percussão), a 150$000 devendo seguir as orquestras às 9 horas da noite e
tocar durante seis horas”. Em resumo, orquestras da Banda animaram o carnaval
de 1910, no Whit-club, consolidando a elevada categoria nesse tipo de festejo, condição
que se perdurou durante décadas.
Neste ensejo, o tenente Manoel Joaquim Pereira da Silva (ainda
não bem identificado) era o Inspetor das bandas. Ainda alcancei, ao ser incorporado na Polícia Miliar em 1966, esses dois
assuntos: 1) o contrato da Banda para tocar em festejos particulares, com a divisão
da renda, e 2) o nível da orquestra na condução em especial de bailes carnavalescos.
“Outra função do Inspetor de Música
era a indicar os músicos à promoção funcional”, assegura Augustinho. Antes de elucidar
esse aspecto, devo acrescentar que na primitiva composição da Banda, em 1890,
apenas se referia a músicos, sem qualquer hierarquia. Mais adiante, em 1892, no
governo atabalhoado de Thaumaturgo de Azevedo, surge a distinção de “músicos de
1ª, 2ª e 3ª classe”, inclusive com a elevação do soldo. Somente no meado do século
passado é que os músicos tomaram as divisas de sargentos e o maestro, a de
oficial.
Em janeiro de 1912, morreu o capitão Lavor, nascido no Ceará, com 48
anos, regente das bandas da PM. O necrológio foi extraído do Jornal do Commercio: “de uma enfermidade
pertinaz, que há dias o prendia ao leito, veio a falecer ontem 13, às 10h da
noite, em sua residência no bairro da Cachoeirinha, o capitão Manoel Napoleão
Lavor, do 1º Batalhão de Caçadores da Força Policial do Estado”. Prosseguiu o matutino: cidadão que prestara grandes serviços ao Estado,
soldado que soube ser sempre disciplinador e brioso, o capitão Lavor era também um músico de merecimento
real, compositor distinto e executante de técnica apurada. E, encerrando,
assegurou que Lavor “dirigia ultimamente as duas bandas de música da Força,
como ensaiador geral”. (segue)
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