O Campo de Pouso da Base Aérea de Manaus e
o Aeroporto de Ponta Pelada: resultados de uma aproximação americana (*)
3 RUBBER DEVELOPMENT CORPORATION
Tendo como meta a aquisição e o transporte da hevea amazônica,
os americanos criaram um órgão capaz de executar as mais diferentes manobras
para que se suprissem as necessidades da indústria bélica. Num orbe de
carências, constituiu-se o Rubber
Development Corporation, a qual,
de 1° de abril de 1942 a 30 de junho de 1946, assumiu todo o programa de
aquisição e escoamento da borracha silvestre (CORRÊA, 1967).
Recorte do jornal A Crítica, 7 outubro 1971 |
No escritório de Belém, Martinello (1988) destaca que,
embora a capital paraense desfrutasse de uma melhor organização das atividades relacionadas
à atuação do órgão, o grande número de funcionários acabou dificultando o planejamento
das mesmas devido à falta de instalações adequadas para acomodar todo o
pessoal, somado ainda à precariedade no sistema de transporte presente em Belém.
Já em Manaus, a realidade não era muito diferente: em decorrência das
limitações estruturais, com poucas habitações apropriadas, os funcionários do
RDC tiveram que se acomodar nos camarins do Teatro Amazonas (BENCHIMOL, 1992).
A ausência de acomodações em Manaus tomou tal vulto que
foi proposta a construção de um prédio na região de Ponta Pelada e ainda uma
Vila Americana para abrigar todos os funcionários do órgão; entretanto, o
projeto não foi executado (MARTINELLO,1988). Esse escritório em Manaus ficou responsável
pelo “abastecimento, navegação, navegação aérea, contratação de técnicos e
construção de casas, estradas, armazéns, pistas de pouso” (CORRÊA, 1967, p.
85-86). O escritório do Rio de Janeiro assumiu as atribuições de aquisição de todo
o alimento que seria fornecido aos trabalhadores que seguiam para a Amazônia
para a extração da borracha.
Sobre os encargos que envolviam o órgão, Ferraz (2002)
comenta que, além das atividades ligadas à construção, o RDC também coordenou
as reformas e equipagem das áreas destinadas às operações aéreas.
Quanto ao transporte aéreo, Pedro Martinello (1988) explica
que devido à frota do Serviço de Navegação e Administração do Porto do Pará
(SNAPP), em 1942, representar um terço da frota que operava na Amazônia em
1910, fez-se necessário o emprego de ações que demonstrassem resultados rápidos
para a chegada da matéria-prima em seu destino final, a indústria bélica Aliada;
no entanto, Benchimol (1992, p. 73) utiliza outra teoria na qual tenta explicar
tal ação pela “urgência e o bloqueio marítimo da costa brasileira”. Seja pela
deficiência ou não nesse sistema de transporte disponível, todos estes pontos
expuseram detalhes plausíveis, pois os diferentes aspectos estavam em evidência
no período em questão.
A Amazônia estava mergulhada em um período de estagnação, devido ao distanciamento dos compradores da borracha amazônica, consequentemente, não dispunha de um aparato capaz de atender à demanda que se projetava; por outro lado, era reconhecidamente perceptível a preocupação
com o transporte marítimo, isto tendo em vista as ações alemãs no Atlântico e a
quantidade de afundamentos ao longo deste oceano.
Em relação às aeronaves empregadas, Benchimol (1992)
afirma terem sido utilizadas as aeronaves Catalina e S-42; no entanto, Corrêa
(1967) destaca que vários contratos foram fechados para que se realizasse este tipo
de transporte; entre eles, destacou-se o convênio com a empresa Pan American Airways. O RDC também fechou acordo com a Panair do Brasil, facilitando os deslocamentos entre Manaus,
Belém, Tabatinga, Porto Velho, Guajará-Mirim e Iquitos (Peru); firmou, ainda, contrato
com a Loide Aéreo Boliviano, a Companhia de Aviation Faucett S.A. (do Peru) e com a Avianca (empresa colombiana).
Conforme já citado, entre os acordos consolidados foi
estabelecido também que a Panair do Brasil assumiria as rotas de transporte
comercial do território brasileiro, ocasionando consequentemente o afastamento definitivo das empresas alemãs e italianas do espaço aéreo brasileiro e, assim, direcionando todas as obrigações de construção, reformas e operações dos aeroportos brasileiros para os
americanos (ALVES, 2002). (segue)
(*) Publicado na Revista
UNIFA, Rio de Janeiro, v. 25, n. 31, dez. 2012.
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