A postagem de hoje pertence ao jovem Adriel França, tão jovem que acaba de receber a convocação para o serviço militar. Encontrei-o nos Correios, abelhudando os colecionadores de selos, porém, com quê entusiasmo. Um ano depois, quando o presidente Jorge Bargas decidiu renunciar, Adriel me estimulou a presidir o Clube Filatélico do Amazonas (CFA). Estou presidente.
Agora, a nossa situação: semelhante a do país,
cheia de incertezas e de desequilíbrios. A incerteza pela situação dos
Correios, haverá a privatização? Havendo, como fica a estrutura de produção de selos
e outros artigos afins? Outra questão superior, a improbabilidade de ainda se enviar
correspondências, restando esse privilégio aos filatelistas, obrigados pelas permutas
de selos. Ou seja, “ninguém escreve mais ao coronel”, como assegura o cronista.
Estamos tentando nos manter na superfície. Sabido que a comunicação virtual nos domina e nos comanda, basta informar que os leilões de variados objetos, incluídos os selos e as moedas, são diários. Tudo na tela de nosso book ou celular. No entanto, o entusiasmo do articulista Adriel França nos impulsiona.
Publicado no Jornal do Commercio,
1º abril 2021
Possuímos rotinas e afazeres, e sempre a realizar alguma
atividade, trabalhando, cumprindo as obrigações do dia, mas, em nossa maioria,
sempre temos uma atividade que nos prende e que transformamos em hobby. Ler,
caminhar, tocar instrumentos são hobbies. O maior exemplo de lazer pessoal é o
ato de colecionar, sejam moedas, selos, carrinhos e até mesmo caixas de
fósforos, por sua vez estes colecionadores criam clubes, um lugar ideal para
criar amizades e trocar conhecimento.
Poucos foram os clubes sociais criados em Manaus no século
20, que resistiram ao tempo e à modernidade e chegaram ao século 21. Um destes
guerreiros do tempo é o Clube Filatélico do Amazonas, um clube de colecionadores
de selos e outros objetos, criado em outubro de 1969, há meio século, portanto.
Com muitas facilidades para se enviar uma mensagem, as cartas, onde iam os
selos, quase não existem mais, apesar de existir ainda milhares de escritores
de cartas, como eu. Os selos na carta eram sempre a parte mais legal de ver,
depois claro, a mensagem recebida, e essa peça tão pequena, leva em sua arte
uma mensagem do seu local de origem, seja uma paisagem, uma personalidade, um
fato histórico, e muitas outras variações o que os tomam um itera colecionável
de todas as formas.
O Clube, que aqui em Manaus se formou, começou a reunir
pessoas fascinadas pelo valor cultural que o selo possui. Lembro de meu
primeiro selo, ganhei de um funcionário dos Correios. Neste selo vinham algumas
obras de William Shakespeare, e até hoje ainda o guardo. Depois de um tempo,
conheci o Clube Filatélico do Amazonas, funcionando na época, na parte de trás
de uma tradicional agência dos Correios, no Centro de Manaus. Lá fiz novos
amigos, mais experientes que eu, em sua maioria jovens senhores de idade, com
muito conhecimento para transmitir. Funcionando modestamente, o Clube tem um
grande valor cultural para Manaus. Por lá passaram e ainda passam empresários,
cônsules de vários países, poetas, artistas, médicos, e outros de grande
intelecto desconhecidos em nossa cidade. Em cada reunião do Clube, sempre saem
boas conversas, risadas, em algumas vezes, deliciosos lanches os quais os
sócios repartem entre si.
Lembro ainda da minha primeira reunião, cercado de conhecimento,
uma verdadeira terapia para a alma estressada com as responsabilidades da vida,
ambiente agradável, cercado de amigos, trocando selos, contando uma história
pessoal, ou mesmo, aprendendo mais sobre a nossa história local, partilhando as
novidades, claro, às vezes um deslize, alguém se exalta, mas nada que machuque.
Há tantos e tantos clubes e associações em todo o país onde, com certeza, o
ambiente é quase o mesmo. A filatelia é amizade, cultura e conhecimento. Quem
coleciona selos, tem um pedaço do mundo em sua casa, mesmo nunca tendo viajado
para os lugares vistos naquele pequeno objeto de papel.
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