Prosseguindo com o retrospecto sobre o Serviço de Saúde na Polícia Militar do Amazonas, relato o que colhi sobre a matéria nas três primeiras décadas do século 20.
Brasão do atual órgao
diretivo do serviço
PRIMEIRA REPÚBLICA
A primeira providência republicana foi mudar a denominação da Força Estadual amazonense, que passa de Corpo Policial do Amazonas para Batalhão de Polícia. Dois anos depois, Batalhão Militar de Polícia e, ainda no mesmo ano, Batalhão Militar de Segurança. Somente após o governo de Eduardo Ribeiro (1892-96), com o aporte de imensos recursos financeiros provenientes da hévea, houve uma evolução substancial – Regimento Militar do Estado, com dois batalhões e outros serviços.
Em 1897, encontra-se o simulacro de um serviço de saúde. Ainda assim,
com atendimento intitulado de “visita médica”. O quartel seguia ainda sem enfermaria.
O nome do clínico mais conhecido é do doutor Nemezio Quadros, amigo de Adolpho
Lisboa, que comandou a PM e a Prefeitura entre 1902 e 1908. Naquele ano,
aconteceu o notável episódio de Canudos, na Bahia. A corporação amazonense
socorreu as Forças de Terra, enviando o 1º Batalhão contra Antonio Conselheiro.
Ainda nos preparativos, foi designado o doutor José Leite Barbosa, capitão
cirurgião, para acompanhar a tropa. Esse médico “adoeceu”; comprovada a sua
desídia, contudo, foi demitido do serviço público por “incapacidade física”.
Doutor Barbosa foi substituído espontaneamente pelo colega Pedro Juvenal
Cordeiro, também capitão cirurgião. Como sabido, o batalhão amazonense em sua
viagem a Canudos (BA) fez o primeiro transbordo em Belém (PA). Ali, Dr. Juvenal
solicitou uns dias de folga para ultimar as providências junto à família. Atendido,
deixou de viajar com a tropa, somente o realizando nove dias depois. Devido ao desencontro
gerado pelo cirurgião, resultaram as agruras sofridas pelos policiais durante a
expedição. Ao fim da missão, Dr. Juvenal não retornou ao Amazonas, sendo
exonerado pelo governo, que o substituiu pelo Dr. João Ricardo Gomes de Araújo.
Aproveito o episódio de Canudos para anotar a existência de um Sanatório Militar em
Itacoatiara (AM). Foi o governador Silvério Nery que em 1902 inaugurou esta
casa de saúde, destinada ao recobramento de policiais militares. A explicação
para essa providência sustentava-se na teoria médica de que a recuperação
somática se acentuava com o afastamento do doente para sítio com novos
ares.
Era uma construção em madeira, segundo o registro do autor de Cronografia
de Itacoatiara, vol. 2 (1998). E que o sanatório esteve situado no terreno
ao lado da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, onde depois funcionou um serviço
de controle do abastecimento de águas e esgotos. Hoje não se vislumbra qualquer
sinal daquela casa de saúde. Era administrador do sanatório: capitão
Joaquim Alves de Lima Verde e os “serviços de atendimento prestado pelo médico
comissionado do Estado Dr. Domingos Pinheiro”.
Em Manaus, o Regimento prosseguia em alta, porém, seu custeio sempre
motivou as lamúrias dos governantes. Estimo seu efetivo na ordem de seiscentos
homens, em dois batalhões e serviços. Quanto aos médicos, estes pertenciam ao
efetivo, dispondo de postos militares, e seguiam visitando os policiais no quartel
da Praça da Polícia, pois os demais recursos clínicos eram providos pelos
hospitais de benemerência. As lesões mais graves ou moléstia
de cura prolongada, o único recurso era baixar o policial na Santa Casa de
Misericórdia, a mesma que se agora se encontra com as portas cerradas. Esta
estrutura permaneceu até o final da primeira década do século passado.
Indiscrição acerca de um médico: em maio de
1910, o Chefe de Polícia informava ao governador que apurava uma queixa do
doutor Álvaro Moura, do Batalhão Militar do Estado, contra dois indivíduos,
residentes à rua Joaquim Sarmento, 36. O queixoso reclamava das pilherias
ofensivas ao pudor e ao decoro de indivíduo, em especial “à sua moralidade de
varão”. Os acusados não foram encontrados, desconversou aquele chefe.
Ao final da Primeira Guerra, o Amazonas perdeu o privilégio da exportação da borracha e, consequentemente, o fluxo de caixa até então abarrotado. Sua decadência levou consigo a Polícia Militar do Amazonas (PMAM), que teve gradativamente diminuído o efetivo e serviços. Ainda assim, foi engolfada em repetidas disputas políticas, tendo participado de, e até promovido, algumas rebeliões. Em julho de 1924, quando da Rebelião de Ribeiro Júnior, a corporação sofreu intempestiva mudança, ao tomar a denominação de Guarda Cívica sob o comando do capitão Martins, até que, ao final daquele ano, retomou o consagrado título. Não delongou bastante para que, em novembro de 1930, um dos primeiros atos da implantação do Estado Novo no Amazonas tenha sido a extinção da Força Policial. (segue)
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